Empresário do agro que negou marmita a eleitora de Lula pede desculpas após ser pressionado pela cúpula bolsonarista a se posicionar. Havia o entendimento de que seu vídeo, que viralizou nas redes, estava prejudicando a campanha do atual presidente. MST localizou a vítima e vai doar para ela cestas de alimentos por seis meses
Empresário que atua no ramo agropecuário, Cassio Joel Cenali pediu desculpas pelo vídeo em que aparece humilhando uma idosa em situação de vulnerabilidade social. O homem constrange a mulher após ela afirmar que é eleitora de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Estou aqui para pedir desculpa pela infelicidade de ter feito esse vídeo. Estou muito arrependido. Faz mais de dois anos que faço 60 marmitas e entrego para moradores de rua toda quarta-feira”, disse o homem, que é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O caso aconteceu em Itapeva, no interior de São Paulo. O vídeo com o pedido de desculpas foi gravado após milhares de bolsonaristas pressionarem a campanha do atual presidente por um esclarecimento.
O vídeo que viralizou mostra Cassio Joel Cenali entregando uma marmita à mulher, que está em situação de pobreza. Depois de dizer que é da campanha de Bolsonaro, ele pergunta em quem ela vai votar. Quando ela se revela eleitora do petista, o homem diz, visivelmente irritado: “É? Então tá bom, a partir de hoje não tem mais marmita. É a última marmita que vem aqui. A senhora peça para o Lula agora. Beleza?”.
A família da mulher que aparece no vídeo disse que a idosa costumava receber marmitas de Cássio todas as quartas-feiras. “Ela ficava com três e ajudava mais duas famílias. Ele sempre tirava foto para mostrar que estava entregando as doações, só que dessa vez ele veio com a câmera gravando e ela até assustou”, afirma a sobrinha.
A sobrinha de Ilza Ramos conta que o homem, de fato, parou de fornecer comida após a tia dizer que vota em Lula. “Ela [vítima] achou que as ameaças de parar de doar comida era brincadeira, mas não era, porque na outra semana ele não levou mais marmita. Ela até ficou esperando na outra quarta-feira para ver se vinha, mas não veio”.
A disseminação do vídeo nas redes sociais gerou uma movimentação em apoio à mulher e em repúdio ao eleitor de Bolsonaro. “Cenas como essa do homem humilhando a mulher com forme são mais normais do que se imagina. A diferença é que agora foi registrada em vídeo. Nessa semana vi em João Pessoa (PB) um senhor grisalho, branco, bem vestido, abordando três garis (profissionais da limpeza urbana) e fazendo terrorismo eleitoral, tentando induzi-los a votar em Bolsonaro. Isso deve estar se repetindo em todo o Brasil”, relatou um leitor do Pragmatismo.
“Com certeza, se não tivesse ‘vazado’ o vídeo, esse homem jamais se arrependeria e ainda faria chacota da mulher com seus apaniguados. Ele não está arrependido, está amedrontado e acovardado pela proporção que sua desumanidade criou. Não temos pena”, comentou outra internauta.
“A fome é culpa da falta de compromisso de quem governa o país. Negar ajuda para alguém que passa dificuldades por divergência política é falta de humanidade. Minha solidariedade com essa senhora e sua família”, afirmou o ex-presidente Lula pelo Twitter.
Vítima recebe ajuda
Por meio de seu assentamento em Itapeva, O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) localizou Ilza Ramos e disse que vai doar cestas de produtos da reforma agrária para ela por ao menos seis meses. A primeira cesta já foi entregue neste domingo (11).
As cestas contêm itens produzidos por assentamentos e acampamentos do MST, como o arroz orgânico Terra Livre, feijão, suco de uva, café, melado, açúcar mascavo, geleia. Eles são comercializados no Armazém do Campo, rede de lojas do movimento.
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