Lula avançou entre quem possui renda familiar mensal de até um salário mínimo. Isso significa que a engorda do valor do Auxílio Brasil não surtiu, até agora, o efeito desejado pelo bolsonarismo. Parece ter funcionado a mensagem de que o benefício é uma medida eleitoreira que tem hora para acabar
Matheus Pichonelli, Yahoo
Ninguém sobe, ninguém desce.
A pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira (5) mostra que os candidatos à Presidência esbarram em um teto coletivo de intenções de voto a menos de um mês da eleição.
O ex-presidente Lula (PT) segue com 44%. Jair Bolsonaro (PL) oscilou um ponto para baixo e agora tem 31%.
Após uma semana de exposições —com propaganda da TV, entrevistas e cobertura midiática — os candidatos a candidatos da “terceira via” estacionaram. Junto, o batalhão não chega a 15% das citações – Ciro Gomes (PDT) oscilou um ponto para baixo em relação à pesquisa Ipec divulgada em 29 de agosto e agora soma 7%; Simone Tebet (MDB) tem 4%. Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D’Ávila têm 1% cada.
Em outras palavras: o esperado crescimento dos candidatos do pelotão de trás não aconteceu.
Nenhum deles a essa altura vislumbra cavar uma vaga no segundo turno, mas em conjunto conseguem, por enquanto, evitar que as eleições acabem em 2 de outubro.
A aposta de Lula para atrair o apoio dos que dividem a encurtada pista da terceira via também não aconteceu. Estes devem esperar até a véspera da eleição para decidir se aderem ou não ao voto útil.
Na reta final da campanha, Bolsonaro mostra dificuldade para ampliar o arco de eleitores para além de sua base. Apesar da artilharia contra o principal adversário –alvo de fake news relacionadas a fechamento de igrejas espalhadas por seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e contestadas na Justiça Eleitoral – o presidente ainda é o postulante com maior índice de rejeição da disputa (49%). Lula vem logo atrás, com 36%.
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A rejeição ao presidente é maior do que a de seu governo (43% de ruim ou péssimo, segundo o Ipec), e é medida no momento de boas notícias na economia e outras nem tanto para sua campanha.
Uma delas foi a revelação, publicada no portal Uol, que familiares do presidente pagaram R$ 26 milhões em dinheiro vivo (em valores atualizados) para a aquisição de 51 imóveis. A notícia freou o discurso anticorrupção que Bolsonaro tentava colocar na roda.
↗ Que tipo de ‘homem do povo’ anda com milhões em dinheiro vivo para comprar imóveis?
Bolsonaro também se saiu mal no debate da TV Bandeirantes, no domingo retrasado, quando perdeu a estribeira durante uma pergunta e atacou a jornalista Vera Magalhães e a candidata Simone Tebet. O episódio fez rolar morro abaixo a bola de pedra para a construção do mito de candidato amigo das eleitoras.
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Resultado: se o atual presidente mantém os 36% de apoio dos homens ouvidos pelo Ipec, entre as mulheres ele caiu de 29% para 26%.
Lula avançou, dentro da margem de erro, entre quem possui renda familiar mensal de até um salário mínimo (de 54% para 56%).
Isso significa que a engorda do valor do Auxílio Brasil não surtiu, até aqui, o efeito desejado pelo atual presidente. Ou que tem funcionado o sistema de defesa petista ao martelar a mensagem de que o benefício, sob o atual presidente, é uma medida eleitoreira que tem hora para acabar.
O retrato apontado pelo Ipec evidencia o dilema, se houver, do capitão às vésperas do 7 de Setembro, quando tenta alinhar os já tradicionais atos em defesa da pauta bolsonarista aos desfiles militares em comemoração ao bicentenário da Independência.
Os atos devem servir de palanque para o lançamento de uma série de petardos em direção a todos os inimigos, reais e imaginários, que aponta como responsáveis pelas mazelas do país. É a chance para convencer parte dos eleitores seguirem mobilizados para evitar a vitória de Lula, a quem não faltará xingamentos, no primeiro turno.
O risco é mirar no que vê e acertar no que não vê.
Se ele radicalizar o discurso, pode afastar de vez os candidatos de centro que tenta cooptar com a fantasia de candidato simpático e nada revoltado montado para a propaganda da TV.
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