Sete a cada dez brasileiros afirmam que têm medo de ser agredidos fisicamente pela sua escolha política ou partidária. A esperança de futuro trazida pela pesquisa é que os mais jovens, entre 16 e 24 anos, são os que mais abraçam uma agenda de direitos humanos, civis e sociais
Leonardo Sakamoto, em seu blog
Costumo encarar o que acontece comigo em períodos de comoção política como uma espécie de termômetro da propensão à violência no país. Quando fui alvo de frutas podres, em agosto, virei para o colega jornalista que estava ao meu lado e comentei que, enfim, a eleição presidencial havia começado.
Semana passada, saindo do mercado, fui abordado por dois caras que me pararam para dizer que “lixos como você não vão durar muito”. Considerando que no segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, em 2018, fui abordado três vezes perto de casa com ameaças de morte, podemos dizer que a situação ainda vai piorar bastante.
Dessa forma, os 67,5% dos entrevistados que responderam ao Datafolha afirmando que têm medo de serem agredidos fisicamente pela sua escolha política ou partidária ainda devem aumentar. Principalmente, porque o presidente da República vem estimulando essa violência.
A pesquisa foi encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) e foi coletada entre 3 a 13 de agosto. Além disso, 3,2% dizem ter sofrido ameaças por motivos políticos no mês anterior.
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Ou seja, antes que o deputado Douglas Garcia partisse para cima da jornalista Vera Magalhães, que estava trabalhando no debate dos candidatos ao governo do Estado de São Paulo, no final da noite desta terça. Copiando os ataques que Bolsonaro fez a ela durante o debate presidencial na TV Bandeirantes, no dia 28 de agosto, gritou que ela era uma vergonha do jornalismo brasileiro, contou mentiras sobre sua remuneração, entre outros absurdos.
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Isso significa que a maioria do eleitorado, principalmente aquele que não vota no presidente, tem medo de ir às ruas defender votos em seus candidatos.
Eleições livres? Nem de longe.
Durante as eleições de 2014 e o processo de impeachment de Dilma Roussef, ouvi de muita gente que não tínhamos que nos preocupar com a violência fomentada nas redes sociais porque era “só a internet”. Eu que já fui cercado e apanhei na rua em uma ocasião, fui cuspido em outra e levei uma garrafada na cabeça em ainda outra tentava explicar que não era bem assim.
A percepção coletiva de que a violência on-line transbordava e se tornava off-line veio forte há quatro anos, com os tiros contra a caravana de Lula na região Sul do Brasil, com a facada contra o então candidato Jair Bolsonaro, com a morte do músico Moa do Katendê pelas mãos de um bolsonarista por ter votado em Fernando Haddad.
E não nos abandonou mais. Mas, agora, nas eleições, ela tende a escala a novos patamares.
No dia 8 de setembro, o Brasil produziu o segundo cadáver por ódio político desta eleição. Coincidentemente, a briga que levou ao crime começou algumas horas após o presidente da República defender, em comício na praia de Copacabana, que era necessário “extirpar da vida pública” adversários políticos da esquerda.
A Polícia Civil de Mato Grosso informou que Benedito dos Santos, eleitor de Lula, foi morto por Rafael de Oliveira, apoiador de Bolsonaro, após uma discussão política entre ambos na zona rural de Confresa, no Nordeste do Estado, descambar para a briga na noite de 7 de setembro. “O que levou ao crime foi a opinião política divergente”, afirmou o delegado Victor Oliveira. Foram 15 facadas na cabeça e uma machadada no pescoço.
O presidente já havia sido duramente criticado após o assassinato do tesoureiro do PT e guarda civil Marcelo Arruda pelo agente penitenciário bolsonarista Jorge Guaranho, em Foz do Iguaçu (PR), no dia 9 de julho. Guaranho ficou sabendo da festa de aniversário de temática lulista de Arruda e foi lá provocar. O caso terminou com o petista morto e o bolsonarista preso.
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É ignorância ou má fé afirmar que tanto Lula quanto Bolsonaro são igualmente responsáveis pelo aumento da violência de cunho político. Não são.
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Com os dois casos e os constantes ataques a Vera Magalhães, Bolsonaro tem sido bastante cobrado para pedir a seus apoiadores em todo o Brasil baixarem as armas – e, neste caso, isso não é uma força de expressão.
Mas, ao invés de condenar a violência e pedir para que seus seguidores e os demais brasileiros desarmem os espíritos para a eleição, Bolsonaro vai no sentido contrário.
A sobreposição dos discursos de lideranças políticas, religiosas e sociais ao longo do tempo, fomentando ódio contra políticos, magistrados, jornalistas, entre outros, distorce a visão de mundo de seus seguidores e torna a agressão “necessária” para tirar o país do caos e extirpar o “mal”, alimentando a violência.
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Da mesma forma, a sobreposição de discursos afirmando que o crime não tem relação política acaba por normalizar a violência política, que passa a ser encarada como briga de bêbado na esquina. Com isso, pessoas como ele ajudam a semear ainda mais sangue em uma eleição que será marcada por tumultos.
Com isso, chegamos ao ponto de que sete a cada dez brasileiros têm medo de apanhar por ter opiniões. O presidente ajudou a criar uma sociedade que teme por sua própria vida simplesmente por defender um posicionamento político.
A esperança de futuro trazida pela pesquisa é que os mais jovens, entre 16 e 24 anos, são os que mais abraçam uma agenda de direitos humanos, civis e sociais. Que essa geração seja capaz de enterrar a ignorância cultivada pelas anteriores e a sepultar a estúpida política do mais forte.
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