ELEIÇÕES 2022

Brizola deixou Ciro de lado e defendeu voto útil em Lula no 1º turno em 2002

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Em comício no último domingo, Lula disse que se Leonel Brizola “estivesse aqui, estaria do nosso lado”, destacando o posicionamento do próprio político gaúcho durante as eleições de 2002. Naquela ocasião, Brizola deixou Ciro Gomes de lado e declarou voto útil no petista já no primeiro turno

Imagem: reprodução

William Helal Filho, Blog do Acervo

Durante um comício neste domingo, no Rio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em campanha para voltar ao Palácio do Planalto, disse que se Leonel Brizola “estivesse aqui, estaria do nosso lado”. Além de receber o respaldo de brizolistas, a afirmação encontra eco no posicionamento do próprio político gaúcho durante as eleições de 2002. Naquela disputa, o PDT integrava uma aliança em torno de Ciro Gomes, mas, na reta final, o fundador e então presidente do partido defendeu que a legenda deveria apoiar Lula ainda do primeiro turno, para derrotar José Serra (PSDB).

“Eu estou vendo aqui o neto do Brizola, o Leonel. Se o Brizola estivesse aqui, o Brizola estava junto conosco aqui pedindo ‘fora, Bolsonaro’. Eu tenho certeza disso, eu tenho certeza absoluta que o Brizola estaria do nosso lado”, garantiu o petista, na quadra da escola de samba Portela, em Madureira.

A declaração do candidato ocorreu em meio a uma troca de farpas entre ele e Ciro Gomes, que concorre pela quarta vez à Presidência da República, agora pelo partido de Brizola. O ex-governador do Ceará vem reagindo com agressividade aos esforços do PT para pregar o “voto útil”, na tentativa de convencer os eleitores de Ciro a apoiar o petista nas urnas ainda no primeiro turno, argumentando que é preciso derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) sem a necessidade de uma segunda etapa.

Ciro já classificou de “terrorismo” a estratégia do PT e chamou Lula de “fascistoide”. Nesta segunda-feira, ele fez um pronunciamento no qual reafirmou a sua candidatura e disse que está sendo vítima de uma campanha “virulenta” para deixar a disputa. Mas, nas eleições de 2002, o próprio Brizola defendeu que o PDT deixasse a aliança com Ciro para ajudar o petista a vencer no primeiro turno.

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Naquele ano, Ciro era filiado ao PPS (atual Cidadania) e disputava a Presidência pela segunda vez, liderando a Frente Trabalhista, que incluía ainda o PTB e o PDT de Brizola. No dia 27 de setembro, pouco mais de uma semana antes do primeiro turno, a campanha de Ciro promoveu um evento de lançamento de seu programa de governo, mas o gaúcho de então 80 anos não estava lá. De acordo com uma reportagem do GLOBO publicada no dia seguinte, a ausência tinha razão de ser. O fundador do PDT já defendia abertamente a hipótese de adesão do partido à candidatura de Lula.

Segundo a matéria, Leonel Brizola vinha telefonando para líderes da Frente Trabalhista para discutir a hipótese de Ciro se retirar da disputa presidencial em favor do petista, com o objetivo de ajudar Lula a derrotar o então rival José Serra (PSDB) ainda no primeiro turno. Enquanto o ex-governador do Ceará lançava seu plano de governo no evento em São Paulo, o fundador de seu atual partido realizava um comício em Santo Antônio do Sudoeste, no Paraná, onde tornou pública a sua posição.

“Num segundo turno entre Serra e Lula, fico com o sapo barbudo. Mas, se sentir que dá para ele ganhar no primeiro, vou orientar que o PDT vote em Lula agora”, discursou Brizola, então candidato ao Senado Federal, recorrendo ao apelido que ele próprio deu ao líder petista na campanha de 1989.

Além de fundador do PDT, o ex-governador do Rio era o presidente nacional do partido. Seu vice, Carlos Lupi, que hoje ocupa a presidência nacional da legenda, apoiava a opinião de Brizola. De acordo com ele, ambos estavam muito preocupados com os ataques que Lula sofreria num “eventual” segundo turno contra Serra e, diante da chance de derrotar o candidato do governo Fernando Henrique Cardoso na primeira etapa das eleições, Lupi também já se inclinava na direção do líder petista.

“O ideal é a gente conversar para ver se existe a real possibilidade de Ciro ir ao segundo turno. Essa chance existe? Se não existe, devemos apoiar Lula já no primeiro”, afirmou Lupi ao Globo.

A campanha de Ciro Gomes, que vinha perdendo pontos nas pesquisas de intenção de votos, rebateu a reportagem, afirmando que Brizola mantinha seu apoio ao político cearense. Dias depois, o gaúcho esteve num corpo a corpo ao lado do candidato na Feira de São Cristóvão, no Rio. Na ocasião, ao ser indagado sobre a articulação em prol da adesão a Lula, Brizola recuou alguns centímetros em relação ao que dissera durante o comício no Paraná, mas manteve a essência de sua posição.

“Não tenho direito a pensar em renúncia. Nossos compromissos com a candidatura de Ciro estão de pé. Mas faremos uma reflexão”, ponderou ele. “Se o Lula e o PT vierem a nós para explicar a situação, que precisam de nós para vencer no primeiro turno, esta reflexão para nós ganha outro peso de responsabilidade”.

O primeiro turno das eleições naquele ano aconteceria no dia 8 de outubro. Depois de uma reunião de quatro horas no dia 2, a executiva nacional do PDT decidiu, enfim, manter-se ao lado de Ciro. Brizola afirmou, então, que só o candidato poderia alterar os rumos de sua campanha.

Lula venceu o primeiro turno com 46% dos votos válidos, contra 23% de Serra, que conseguiu levar a disputa para o segundo turno. Ciro terminou a corrida eleitoral com 11%, em quarto lugar, atrás também de Anthony Garotinho (PSB), que obteve 17% dos votos. No segundo turno, Ciro declarou apoio a Lula, que se elegeu presidente com 61,27% dos votos válidos. O ex-governador do Ceará foi convidado pelo petista a comandar o Ministério da Integração Nacional, cargo que ocupou de 2003 a 2006.

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