"Eu agora só quero viver uma vida livre e honesta". Norte-americano tinha apenas 17 anos quando foi preso e condenado por um estupro que não cometeu
Um homem negro ficou preso durante 36 anos nos Estados Unidos por um estupro que não cometeu. Atualmente com 53 anos, ele foi solto no final de agosto por determinação da Justiça de Nova Orleans. No período em que foi detido, Sullivan Walter ainda era menor de idade, com 17 anos. As informações são do The Guardian.
Walter foi condenado a 39 anos de detenção por dois crimes:
⇀ uma pena de quatro anos de reclusão pela acusação de roubo;
⇀ 35 anos por várias condenações no caso de um estupro do qual ele é inocente.
Os dois casos não têm relação entre si.
Recentemente, o juiz Darryl Derbigny anulou a condenação de estupro contra Sullivan porque, de acordo com o magistrado, as evidências de sangue e sêmen que poderiam tê-lo inocentado nunca chegaram ao júri à época em que o julgamento foi realizado, nos anos 1980.
Segundo o magistrado, chamar o ocorrido de “inconcebível” chega a ser um “eufemismo” diante da gravidade do caso, classificado por ele como “horrível”.
“Estou sem palavras para expressar a tristeza e a raiva que tenho com o tratamento que você recebeu do sistema”, afirmou o juiz.
Fora da cadeia, Sullivan Walter disse em entrevista ao The Times Picayne que está “pronto para viver”, e que seu desejo agora é levar “uma vida honesta e livre”.
De acordo com informações da revista People, o estupro pelo qual Sullivan foi erroneamente condenado aconteceu em 1986, quando a vítima, identificada como L.S., teve sua casa invadida por um homem, que usava uma máscara no rosto. À época, Walter foi preso com base na identificação da vítima e por ter usado um boné de beisebol azul semelhante ao do responsável pelo crime.
Para Richards Davis, diretor jurídico do Projeto de Inocência de Nova Orleans, o principal motivo que levou à condenação de Sullivan foi o fato de ele ser negro. Para Davis, os responsáveis pelo caso “agiram como se acreditassem que poderiam fazer o que quisessem com um adolescente negro de uma família pobre”, por terem a confiança de que “nunca seriam averiguados ou responsabilizados”.
“Não se trata apenas de indivíduos e suas escolhas, mas dos sistemas que permitem que eles aconteçam”, afirmou.
Richard Davis trabalhou em conjunto com o promotor público Jason Williams pela libertação de Walter. Conforme a promotoria, havia motivos contundentes de que a vítima reconheceu Sullivan erroneamente.
“Houve indícios de que o depoimento da testemunha ocular poderia não ser confiável. Nesse caso, L.S. estava sendo solicitada a fazer uma identificação interracial de alguém que em todos os momentos que ela podia observá-lo estava mascarado, em um quarto escuro à noite, e/ou ameaçando-a para não olhar para ele. Além disso, L.S. não viu uma matriz de fotos contendo o Sr. Walter até mais de seis semanas após o crime”, disse a promotoria.
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Foi criada uma campanha on-line para arrecadar doações para Sullivan Walter. Até a publicação desta matéria, foram arrecadados R$ 50 mil da meta de R$ 75 mil.
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