No País da madeira cor de brasa, em que parte da população adoeceu psicossocialmente com a “febre da camisa de futebol amarela”, o jogo político [de forças] virou
Lucio Massafferri Salles*
Estamos a doze dias da tão aguardada data das eleições gerais brasileiras, de 2022. No País da madeira cor de brasa, em que parte da população adoeceu psicossocialmente com a “febre da camisa de futebol amarela”, o jogo político [de forças] virou.
Verdades fundamentais envolvendo um arquitetado afastamento de Lula das eleições de 2018 vieram à tona; e elas correram o mundo. Em se tratando de jogos de poder com regras/leis do País do futebol, cabe dizer que é como se o VAR tivesse anulado o que não deveria ter acontecido/ser validado, caso as regras do jogo político fossem respeitadas desde a reeleição de Dilma Rousseff (2014); pelo menos.
A verdade antes do acontecimento
Aqui, o VAR pode ser Veritas Ante Rem: verdade antes do acontecimento (ou, caso se queira, “verdade antes da coisa”).
Penso que a verdade não é boa nem má. Não é amiga nem inimiga. E, além de não gostar e nem permitir que lhe chamem por outro nome, ela ama aparecer do nada; às vezes sem alarde e às vezes com entradas verdadeiramente triunfais em cena.
Não acredita? Experimente ocultá-la, escondê-la e espere só para ver, tendo sempre em mente que é sempre ela quem decide o como e quando cairá o véu de seu esconderijo. Ela é íntima do tempo, desde sempre.
Enfim, parece que serão doze dias que tendem a passar rápido, não? Afinal, o que são doze dias perto de oito anos? Veremos logo se haverá ou não um 2o turno, para escolhermos o Presidente da República. E, se tudo depender desse desejo aqui, a fatura será decidida no dia 2. O que desperta esse desejo é a urgência de que a frente encabeçada por Lula/Alckmin possa o quanto antes ter tempo para se planejar, sem o desgaste de um 2o turno disputado contra uma turma que aprendeu a entupir as veias da grande rede digital com entulhamentos de mentiras, montagens, ataques em enxame e falsificações.
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A população brasileira está psiquicamente fatigada com o bombardeio midiático/hipermidiático que há, pelo menos, dez anos ajudou a desestabilizá-la e desorientá-la, amplificando, inclusive, fraturas/fissuras socioeconômicas já existentes na estrutura colonial do País (problema ainda não resolvido).
A frente composta por Lula Presidente tem urgência em poder focar no planejamento de ações que recoloquem o Brasil literalmente no trilho da vida, potente e libertador, fora do campo da morte e sem descuidar de um necessário projeto visando, também, uma soberania no campo digital, dos dados, da comunicação e da informação. Esse projeto é algo até pouco tempo sequer pensado com a mínima seriedade, uma vez que se ignorava a dinâmica de colonizados digitalmente.
Sim, o Brasil foi alvo de uma derrubada de governo, uma tomada de poder usando abordagens indiretas, sem o choque de armas/exércitos, uma ofensiva de guerra híbrida. Sobre isso, já falamos bastante (eu e alguns outros).
Guerra híbrida no Brasil – como se deu e como combater
O novo governo, com Lula na presidência, terá bastante trabalho revisando estragos que foram proporcionados no rastro da minissérie Lava a Jato. Afinal, essa falaciosa “luta contra a corrupção”, uma megaoperação psicológica de quase 7 anos de duração, usando lawfare, guerra de informação/mídia, propaganda digital subliminar e manobras políticas, ajudou a produzir alguns estragos graves que talvez não tenham conserto.
O País necessita, também, de ações efetivas de reconstrução material e psicológica que incluam um resgate básico da empatia, da alteridade e do acolhimento, entre outros. Em sendo estratégicas, as áreas da Saúde, da Educação e da Cultura, juntas, poderão ter força na realização dessa reconstrução, como um processo de cura, de transformação, que seguramente será lento, mas que é extremamente necessário para toda a população.
A arquitetura do caos III
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*Lucio Massafferri Salles é filósofo, psicólogo e jornalista (membro da ABI). Doutor e mestre em filosofia pela UFRJ, especialista em psicanálise pela USU. Criador do Portal Fio do Tempo (YouTube).
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