Imagem: Lola Ferreira
Jovens negros que vaiaram motociata bolsonarista no 7 de setembro foram retirados de ônibus e revistados pela PM. Os policiais queriam encontrar algum 'flagrante' e esmiuçaram tudo: mochilas, tênis, celulares. Mas tudo o que acharam foi comida e carteira de trabalho
Uma das imagens mais chocantes do 7 de setembro de 2022 foi registrada nas ruas de Copacabana, no Rio de Janeiro. O clique da fotógrafa Lola Ferreira mostra o exato momento em que um ônibus lotado de jovens negros protesta contra bolsonaristas brancos que promoviam uma motociata pelas ruas do bairro nobre da capital fluminense.
O que não se sabia, porém, é que aquele mesmo grupo de jovens foi abordado pela PM-RJ cerca de 10 minutos depois de criticarem os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL). Um vídeo feito por moradores da região flagrou policiais retirando alguns passageiros do ônibus da linha 474 e os revistando em seguida.
Em sete minutos de vídeo, três policiais do Choque aparecem fazendo uma revista completa nos jovens negros, em busca de algum flagrante. No ônibus, havia outros passageiros que não foram revistados — alguns deles saíram do veículo durante a abordagem.
O vídeo revela que a PM revistou as roupas, calçados, bolsas, celulares e até alimentos que os rapazes carregavam. Um dos policiais chegou a desbloquear o celular de dois deles, mexendo em aplicativos e mensagens — o que é proibido por lei no Brasil. Outro rapaz chegou a mostrar a carteira de trabalho, segundo revelam as imagens.
Após pegar os documentos dos rapazes, os policiais fizeram o chamado “sarqueamento”, no jargão policial, que é o procedimento de verificar se há mandados de prisão ou alguma pendência judicial atrelada a um cidadão no SarQ (Serviço de Arquivo) da Polícia Civil. Nada foi encontrado e os jovens foram liberados.
A Polícia Militar não informou a razão de ter parado aquele ônibus, mas tudo indica que os policiais tenham sido acionados pelos eleitores de Bolsonaro que participavam da motociata e se sentiram incomodados com o enfrentamento. Afinal, foram aqueles jovens negros que, da janela do ônibus, fizeram o “L” em alusão ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Um deles repetia: “é Lula”.
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