Redação Pragmatismo
Mulheres violadas 01/Set/2022 às 15:35 COMENTÁRIOS
Mulheres violadas

Senador bolsonarista é acusado de tentar estuprar a filha no dia dos pais

Publicado em 01 Set, 2022 às 15h35

Caso foi registrado como estupro de vulnerável, mas veículos de comunicação tentaram abafar a denúncia, enquanto outros trataram do caso timidamente. Senador negou as acusações e justificou que a filha de 17 anos "passa por grave distúrbio psicológico"

Telmário Mota
Telmário Mota (Agência Senado)

A imprensa nacional tratou timidamente a denúncia de estupro feita pela filha do senador Telmário Mota (PROS-RR), aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os grandes portais deram apenas notas sem posicionamento de destaque, enquanto diversos veículos da mídia de Roraima colocaram panos quentes sobre o caso.

A adolescente de 17 anos conta que o pai tocou em suas partes íntimas e tentou arrancar a sua roupa durante um passeio no dia 14 de agosto — domingo do Dia dos Pais. Ela divulgou um Boletim de Ocorrência naquele mesmo dia, mas o caso só apareceu na mídia cinco dias depois, em 19 de agosto.

Por meio dos seus advogados, o senador Telmário Mota negou as acusações e justificou que a filha está sofrendo com “distúrbios psicológicos graves”. Ele também alegou que é vítima de perseguição política.

O senador não mora com a filha, mas mantinha contato com ela desde quando ela era criança. A jovem afirmou que a relação dos dois não era muito próxima e que essa foi a primeira vez que ele tentou violentá-la.

Segundo o relato da adolescente, ela combinou um passeio com o pai no e estranhou quando o senador sugeriu levá-la à noite para um lago, a princípio, e depois propôs que eles fossem “beber”. Ela afirma que o parlamentar estava “claramente bêbado” quando chegou para buscá-la. No carro, segundo ela, ele começou a tentar tirar sua roupa e a tocá-la.

A jovem também afirmou que o senador pegou o seu celular durante o assédio para que ela não pedisse ajuda para ninguém. “Dentro do carro, ele começou a tentar tirar minha roupa. Ficou me tocando, tocando… Eu não consigo nem falar sobre o tanto que isso foi horrível”, disse.

“Por ele ser meu pai, por eu ter saído várias vezes com ele eu nunca imaginei que isso aconteceria. Desde pequena a gente mantinha contato, ele era distante, mas eu era a filha mais próxima dele. Ele nunca tinha dado sinal de um comportamento assim comigo, nunca. Nem para mim, nem para as outras filhas dele. Abalou todo o meu mundo”, disse.

A mãe da adolescente se pronunciou e disse que está ao lado da filha, “Tudo isso me dá muita revolta, mas eu também fico com medo do que pode acontecer. Eu confio muito na minha filha e estou aqui para ficar do lado dela. Ela não merecia passar por isso”.

Após a denúncia, a juíza Graciete Sotto Mayor Ribeiro, da Vara de Crimes Contra Vulneráveis, concedeu uma medida protetiva em favor da filha do senador. A medida impede que Telmário Mota se aproxime da adolescente e da família dela, devendo manter distância de 500 metros.

O caso foi registrado na Polícia Civil como estupro de vulnerável e o senador passou a ser investigado. O caso corre em segredo de justiça.

O PROS, partido do senador, afirmou em nota que é “veementemente contrário a violência ou abuso, seja ele de qual natureza for” e que vai aguardar a conclusão das investigações.

Confira outros detalhes da fala da adolescente:

“Fiz contato com meu pai para passar o Dia dos pais juntos. Ele me ligou por volta das 19h dizendo que iria me levar para o lago, para comemorar a data. Por causa do horário, estranhei que fosse para o lago, mas confiei por sempre ter tido rolês de pai e filha com ele. O lago em questão é um balneário que fica na zona Rural de Boa Vista. Ele me pegou na casa do meu namorado […]”.

“Assim que eu entrei no carro, ele disse que o lago já estava fechado. Ele disse, então, que a gente ia dar uma volta, sem dizer que lugar específico que a gente iria. Nesse caminho ele perguntou onde eu queria ir, falei que não sabia, mas disse que gosto de sair para comer”.

A jovem disse que após sugerir irem comer algo, foi repreendida pelo pai, que queria “sair para beber”. Segundo ela, o senador estava “claramente bêbado”. A adolescente disse que notou isso no momento em que a buscou na casa por conta da forma como ele dirigia.

“Ele disse ‘não, eu quero beber, eu gosto de sair pra beber’, só que ele já estava meio bêbado. Não deu de perceber no início pois ele estava falando palavras curtas, mas percebi que ele estava bêbado por causa da forma que ele tava dirigindo”, contou.

Durante o passeio, ainda no carro, de acordo com a adolescente, o senador começou a tentar tirar a roupa dela, que ficou assustada com a conduta do pai. “Dentro do carro, ele começou a tentar tirar minha roupa. Ficou me tocando, tocando… Eu não consigo nem falar sobre o tanto que isso foi horrível”.

“Falando disso, eu sinto muito mal estar. Mas eu sinto que tenho que falar. É ruim demais até falar disso”, disse, acrescentando que sempre teve aproximação com o pai, embora a vida dele fosse corrida.

Ela disse ainda que sentiu medo e sugeriu ao pai que eles fossem beber na casa do namorado dela, onde estava a família dele. A adolescente disse que o pai aceitou e, antes, ele parou em uma distribuidora, comprou cerveja e ofereceu para ela.

“Ele tentou me forçar a beber, só que eu tive que fingir que estava bebendo. Não recusei. Peguei e fiquei tampando a tampa da garrafa com a língua pro líquido não descer, para fingir. Ele tava embriagado e não percebeu que o líquido da garrafa não estava esvaziando”, conta.

Ao chegar na casa do namorado, o senador foi ao banheiro. Ela disse que aproveitou o momento para pedir socorro ao namorado. “Assim que eu cheguei na casa do meu namorado, ele [meu pai] conversou com a minha sogra e foi usar o banheiro. Eu me desesperei. Quando ele saiu eu virei e falei para o meu namorado ‘socorro, meu pai tá tentando abusar de mim'”.

Após sair do banheiro, segundo ela, Telmário falou que os dois iriam sair do local, pois ele precisava ir em uma “reunião política”. A adolescente contou que o pai a forçou a ir e ela foi sem relutar pois “ele sempre anda armado”, e, por isso, sentiu medo.

“Quando ele falou que a gente ia, acabei indo. Ele tem armas, sempre anda armado. Tive medo que ele pegasse a arma e atirasse em alguém por eu não ir. Ele chegou a gritar comigo mandando eu entrar dentro do carro, eu fui por medo”.

A jovem conta que o trajeto para o local, foi “a pior de todas”, pois as investidas ficaram mais intensas. “Nesse caminho foi complicado. Ele tentou tirar minha roupa, já começou a tocar nas minhas partes íntimas. Eu só consegui mandar mensagem para a minha mãe, com a palavra ‘socorro’. Ele tomou o celular de mim para eu não mandar mensagem para ninguém. Minha mãe não recebeu a mensagem, não estava online, estava na igreja”.

Ela conta que por diversas vezes pensou em pular do carro em movimento, pois não via solução para fugir da situação. Após diversas tentativas, a adolescente disse ter recebido a ligação de uma amiga. De acordo com ela, o pai deixou atender, pois ela disse se tratar de sua mãe querendo saber onde ela estava.

Após isso, a menina contou que o pai aceitou deixá-la na casa do namorado mas, no caminho, a violência e o assédio não pararam até que ela fosse, de fato, deixada no imóvel. A filha disse que comprou uma caneca personalizada com a foto dos dois como um presente do Dia dos pais e entregou para Telmário.

Na noite do caso, quando a menina foi deixada na casa do namorado casa pelo pai, a Polícia Militar foi acionada. O relato dela aos policiais foi detalhado em um relatório de ocorrência policial e registrado no no 3º Distrito Policial.

“Assim que eu cheguei na casa do meu namorado, eu estava em desespero. Estava chorando muito, entrei em desespero. Não queria falar nada para ninguém, só que meu namorado já sabia, então ele falou para a minha cunhada e para minha sogra que ele [Telmário] tentou abusar de mim. Minha cunhada ficou com muita raiva e ligou para a polícia. A minha mãe já tinha saído da igreja, foi pra lá também”.

“Como ele tem um poder político a mais que a gente, eu tinha medo dele fazer algum mal com a gente. Na verdade, ainda tenho muito medo. Mas aí todos me aconselharam a não me calar”.

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