Uma pesquisa cravou exatamente o percentual de votos de Lula no 1º turno, enquanto outra se aproximou do de Bolsonaro. Atual presidente disse no sábado que venceria com "60% dos votos", mas mudou o discurso após resultado das urnas. Comparação mostra que institutos acertaram mais no 1º turno de 2022 do que em 2018. Levantamento que mais se distanciou do resultado foi do único instituto propagandeado pela campanha bolsonarista como 'confiável'
A pesquisa CNT/MDA divulgada um dia antes do primeiro turno da eleição presidencial cravou exatamente o percentual de votos do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os números da CNT/MDA foram analisados no sábado por Luis Soares, editor do Pragmatismo. A pesquisa apresentou Lula com 48,3% dos votos válidos. Quando as urnas se abriram ontem, Lula alcançou 48,4%.
A CNT/MDA, porém, não acertou a quantidade de votos de Jair Bolsonaro (PL). O levantamento deu 39,7% para o atual presidente, mas nas urnas ele somou 43,2%. Como a margem de erro é de 2 pontos percentuais, a pesquisa indicava que Bolsonaro poderia alcançar até 41,7% dos votos, mas ele foi além.
“A precisão da pesquisa CNT/MDA em relação aos votos de Lula é absurda. O Ipec colocou Lula com 51%, o Datafolha com 50%, o Ipespe 49% e o Quaest 49%. Considerando a margem de erro, todos acertaram o resultado do petista, mas quem cravou mesmo foi o MDA”, observa Soares.
A pesquisa Atlas, por sua vez, foi a que mais se aproximou dos números obtidos por Bolsonaro. No sábado, o último levantamento do instituto disse que o atual presidente tinha 41% das intenções de voto. Erraram por 2,3%.
“O discurso de que os institutos ‘erraram feio’ está sendo potencializado, principalmente pelas redes bolsonaristas. Se você observar a pesquisa Ipec do sábado, ela mostrou Bolsonaro crescendo 3 pontos em relação ao levantamento anterior. A Genial/Quaest também mostrou ascensão de Bolsonaro na véspera da eleição e retração de Lula. Essa tendência foi detectada pelos institutos, que realizaram as entrevistas entre quinta, sexta e sábado”, pontua Soares.
“A tendência [de crescimento de um candidato e queda do outro] não é interrompida no sábado. Os institutos param de entrevistar, mas a ‘onda’ continua e se acentua no domingo, dia da votação”, acrescenta o editor do Pragmatismo.
“De uma maneira geral, as pesquisas de 2022 até acertaram mais do que as de 2018 no primeiro turno. Há quatro anos, os principais institutos erraram em média 4 pontos para baixo tanto a votação de Bolsonaro como a de Haddad. Esse ano eles pelo menos acertaram a de Lula”, continua Soares.
“Sem dúvida, o grande problema dessa eleição presidencial no que diz respeito às pesquisas foi no Sudeste, onde os erros do Ipec e do Datafolha divulgados na véspera foram realmente grosseiros. Apontaram vitória de Lula em São Paulo e Rio de Janeiro, enormes colégios eleitorais, mas Bolsonaro venceu nos dois estados com 47% e 51%, respectivamente. O último Ipec de Minas deu 55% a 34% em favor de Lula, mas o petista levou por uma margem bem mais apertada: 48% a 43%. Tudo isso influenciou o resultado geral”, diz.
A avaliação é reforçada pela jornalista Tereza Cruvinel, ex-presidente da EBC. “Os institutos não erraram ao projetar a votação de Lula. Erraram ao mensurar a força do bolsonarismo. Erraram feio no Sudeste, onde Lula liderava, embora com vantagem não muito grande, nas pesquisas da véspera do pleito. Foi o Sudeste que levou Bolsonaro ao segundo turno, pois a vantagem no Sul e Norte-Centro-Oeste já era conhecida”, diz Tereza.
Luis Soares também chama atenção para os resultados do único instituto de pesquisas utilizado pela campanha bolsonarista como confiável. “O bolsonarismo propagandeou durante a campanha que somente o instituto ‘Brasmarket’ apresentava pesquisas confiáveis. Os próprios filhos do presidente diziam isso, deputados aliados de Bolsonaro, ministros do governo”.
“E qual foi o resultado da último levantamento Brasmarket? Lula com 35% dos votos válidos e Bolsonaro com 52%, eleito no primeiro turno. Essa é a pesquisa que mais se distanciou da realidade das urnas, mas sobre isso o comitê bolsonarista e o presidente silenciaram”, finaliza.
BRASMARKET VOTOS VÁLIDOS (30/09):
Bolsonaro: 52% (errou 9% para cima / em relação ao resultado das urnas)
Lula: 35% (errou 13% para baixo)
Erro total: 22%
CNT/MDA VOTOS VÁLIDOS (01/10)
Lula: 48,3% (0,1% para baixo)
Bolsonaro: 39,7% (errou 3,5% para baixo)
Erro total: 3,6%
DATAFOLHA VOTOS VÁLIDOS (01/10)
Lula: 50% (errou 1,6% para cima)
Bolsonaro: 36% (errou 7,2% para baixo)
Erro total: 8,8%
GENIAL/QUAEST VOTOS VÁLIDOS (01/10)
Lula: 49% (errou 0,6% para cima)
Bolsonaro: 38% (errou 5,3% para baixo)
Erro total: 5,9%
ATLAS INTEL VOTOS VÁLIDOS
Lula: 50% (errou 1,57%)
Bolsonaro: 41% (errou 2,2%)
Erro total: 3,77%
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