Aliados do presidente Jair Bolsonaro e integrantes da área de comunicação da campanha afirmam que a pauta do congelamento dos salários e das aposentadorias só deveria ser tratada após o fim do 2º turno: "deram munição a Lula na reta final". Economistas avaliam que Guedes quer jogar nas costas da população a conta dos gastos da tentativa de reeleição de Bolsonaro
A proposta do ministro da economia Paulo Guedes de acabar com a correção do salário mínimo e das aposentadorias pela inflação ficou entre os temais mais comentados das redes sociais nesta sexta-feira (21). Internautas utilizaram a expressão “NÃO MEXA NO MEU SALÁRIO” para protestar contra o tema. Políticos e economistas reagiram à ideia que deve rebaixar ainda mais o salário mínimo, que não teve aumento real nos últimos quatro anos.
De acordo com o plano do ministro do presidente Jair Bolsonaro, o reajuste do mínimo seria calculado “pela meta de inflação”. Dessa forma, o governo reajustaria as aposentadorias e pensões abaixo da inflação, diminuindo o poder de compra da população mais pobre. São cerca de 30 milhões de brasileiros, entre trabalhadores, aposentados e pensionistas, que recebem salário mínimo.
“Guedes está com uma artimanha para fazer com que o salário mínimo seja reajusta abaixo da inflação. Olha o caos”, denunciou o economista Eduardo Moreira. A “desculpa” de Guedes, de acordo com o economista, seria acabar com a indexação do mínimo para abrir espaço fiscal para investimentos. “O que ele quer é atender aos interesses dos amiguinhos deles, donos de construtoras, de fábricas, para ganhar mais ainda em cima do cara que ganha o mínimo”.
Em transmissão do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), Moreira fez uma projeção caso a proposta já estivesse em vigor. Em 2022, por exemplo, o salário mínimo seria de apenas R$ 1.094,74, ante aos atuais R$ 1.212 – uma redução de R$ 117, 26. “Quase 10% abaixo do que é hoje, que já perde para inflação de alimentos, sem ganho real nenhum. Antigamente, a cesta básica equivalia a 33% do salário mínimo, hoje é 50%”, comparou o economista. “Guedes está com uma bomba para explodir no colo dos aposentados, das empregadas domésticas, dos trabalhadores da construção, de todo mundo que tem o salário vinculado ao mínimo”.
Até o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, de tradição liberal, responsável, por exemplo, pela implementação do Teto de Gastos no governo Temer, criticou o plano de Guedes. “O plano fiscal do atual governo para um próximo mandato joga nas costas da população a conta pelas medidas eleitoreiras deste ano”, tuitou. “Se o governo não cumprir a meta, a correção ficará abaixo da inflação”, acrescentou.
Nesse sentido, Meirelles destacou que essa medida liberaria cerca de R$ 100 bilhões anuais no Orçamento da União. Desse modo, serviria pra acomodar gastos que Bolsonaro criou neste ano, com o objetivo de tentar vencer as eleições. “A população mais pobre receberia menos para pagar pelas medidas eleitoreiras.”
Campanha bolsonarista critica Guedes
Paulo Guedes foi alvo de críticas pesadas do Centrão ao retomar a ideia da desvinculação do reajuste das aposentadorias e do salário mínimo da inflação em plena campanha eleitoral.
Nos bastidores do comitê e do Palácio do Planalto, a avaliação foi que a equipe de Guedes “errou politicamente” ao trazer de volta para o debate uma proposta que já desgastou o governo no passado.
Logo depois de ser publicada a informação da proposta de desvinculação do reajuste do salário mínimo e das aposentadorias do INSS do índice oficial da inflação, o ministro da Economia tentou corrigir o estrago, disse que o mínimo continuará sendo reajustado, mas admitiu que a proposta está em estudo.
Ministros e líderes do Centrão reclamavam que Paulo Guedes, sempre que fala, acaba mais prejudicando a campanha do que ajudando. “Tem vezes que ele tenta ajudar, mas acaba se atrapalhando e dá munição para o PT, como na questão do salário mínimo”, disse um auxiliar do presidente. Um ministro foi mais ácido. “Bolsonaro deveria proibir o PG [como Paulo Guedes é citado dentro do governo] de falar até o final da eleição, ele só cria confusão”, reclamou.
“O vazamento da informação do plano econômico de Paulo Guedes, a ser anunciado depois do segundo turno, produziu um curto-circuito no comitê da reeleição. Em condições normais, a proposta seria apenas impopular. No meio de uma campanha eleitoral em que o adversário promete reajustar o salário mínimo acima da inflação, o vazamento do plano tóxico foi visto como um ‘suicídio político’. O episódio foi classificado por um dos caciques da campanha como ‘sabotagem'”, relatou o jornalista Josias de Souza.