Bolsonaro fica nervoso ao ser questionado sobre orçamento secreto e encerra entrevista
Bolsonaro ‘esqueceu’ que autorizou orçamento secreto, mas documento comprova. O presidente ficou nervoso e encerrou uma entrevista a jornalistas ao ser perguntado sobre o tema, que é o maior esquema de corrupção do seu governo
Eduardo Maretti, RBA
Nesta segunda-feira (10), Jair Bolsonaro (PL) ficou nervoso e encerrou uma entrevista a jornalistas ao ser perguntado sobre orçamento secreto. “Por favor, você não aprendeu orçamento secreto ainda, que não é meu? Pelo amor de Deus”, disse. “Pelo amor de Deus!”, repetiu, “para com isso. Orçamento secreto é uma decisão do Legislativo que eu vetei, depois derrubaram o veto”.
O questionamento era da repórter Julia Affonso, do jornal O Estado de S. Paulo, que respondeu então: “o senhor recuou do veto”. Bolsonaro respondeu, entre nervoso e hesitante: “Quem recuou do veto? Ah, eu desvetei? Desconheço.. é… é… des… desvetar. Obrigado, pessoal”, disse, encerrando a entrevista.
A proposta de legalizar o que passou a ser chamado de orçamento secreto foi sim do Congresso Nacional e chegou a ser vetada por Bolsonaro. Porém, o presidente recuou e, mais tarde, encaminhou o texto que criou essa modalidade de emenda, em dezembro de 2019. A motivação em torno da costura para viabilizar o orçamento secreto era o apoio do Centrão a Bolsonaro em troca de o presidente delegar o poder de definir o destino das emendas de relator, identificadas como RP 9, diretamente aos congressistas.
O governo, em tese, controla o pagamento dessas emendas, porque escolhe quando e a que deputado beneficiar. Mas, na prática, é o parlamentar que indica para onde vai o dinheiro.
↗ Por que os atuais escândalos de corrupção não ganham as manchetes diárias?
Na época em que o escândalo do orçamento secreto veio à tona, em maio de 2021, em reportagem do Estadão, a denúncia envolvia verbas destinadas à compra de tratores e outras máquinas com preços superfaturados.
As emendas do relator são de autoria do parlamentar responsável pelo relatório do Orçamento (daí o nome “emendas de relator”), que em 2021 era do senador Marcio Bittar (MDB-AC). As emendas do senador permitiram a distribuição secreta de R$ 3 bilhões aos parlamentares da base do governo.
→ SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI… considere ajudar o Pragmatismo a continuar com o trabalho que realiza há 13 anos, alcançando milhões de pessoas. O nosso jornalismo sempre incomodou muita gente, mas as tentativas de silenciamento se tornaram maiores a partir da chegada de Jair Bolsonaro ao poder. Por isso, nunca fez tanto sentido pedir o seu apoio. Qualquer contribuição é importante e ajuda a manter a equipe, a estrutura e a liberdade de expressão. Clique aqui e apoie!