O bolsonarismo tornou-se, sem dúvida, um movimento social, pois não foi somente um fenômeno de conjuntura em 2018, e sim um movimento articulado
Israel Aparecido Gonçalves*
É fato que os institutos de pesquisas mais tradicionais erraram nas projeções do primeiro turno desta eleição. Constata-se que o Datafolha, o Paraná Pesquisa e o Genial/Quest apontavam uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno. Mas, por outro lado, no dia 27/9, o instituto Atlas apontou que Lula teve 48% e Jair Bolsonaro (PL) 41% dos votos válidos. Logo, este mesmo instituto foi o que mais se aproximou do resultado real das eleições. Como sabemos, a apuração das urnas mostrou Lula com 48,4% dos votos, ou seja, 57.259.504 votos, e Bolsonaro com 43,2%, representando 51.072.345 votos, o que gerou o segundo turno das eleições.
Na verdade, as pesquisas não erraram no ranking eleitoral, já que Lula ficou à frente de Bolsonaro. Por certo, o que a maior parte dos institutos não captaram foi a crescente do movimento bolsonarista, supostamente, na reta final da campanha. Vale ressaltar também que a senadora Simone Tebet, do MDB, na maioria das pesquisas, estava em uma crescente e empatada tecnicamente com Ciro Gomes (PDT).
Por fim, Simone Tebet passou Ciro na reta final da campanha, ficando com 4,2% (4.915.423 votos) e Ciro com 3% (3.599.287). Em 2018, Ciro representou 12,47% (13.344.366 votos) no primeiro turno, quer dizer, nesta eleição o chamado cirismo acabou e as pesquisas
acertaram essa tendência.
Ainda em 2018, no primeiro turno das eleições, Bolsonaro obtive 49.276.990 votos, significando que ele aumentou (em 3 anos e 8 meses) 1.795.355 em votos nesta eleição. Assim, a grande surpresa encontra-se nesses dados, porque a maioria das pessoas nunca imaginou isso de um governo que viveu de crises na área da saúde, na educação, na justiça e atrasou vacinas. Para mais, o próprio presidente foi e é um negacionista e acabou imitando, sem compaixão, um paciente com falta de ar na crise que ocorreu em Manaus.
Além dessas atrocidades, acabou cortando dinheiro na área da saúde, da farmácia popular, da educação, da ciência e tecnologia e usou palavrões várias vezes, insultou jornalistas e tencionou inúmeras vezes o Supremo Tribunal Federal (STF), na qual muitos analistas viram um sinal de um possível golpe de estado.
Como se não bastasse, foi por meio de Bolsonaro que o esquema legalizado, chamado de Orçamento Secreto, foi colocado em prática e muito dinheiro público é utilizado sem a população saber ao certo o destino dele. Ademais, a grande mídia aponta escândalos envolvendo tal orçamento, mas isso repercute pouco entre o povo por causa de outros acontecimentos e escândalos que ocorrem no governo, e o cenário do segundo turno está disputado com uma vantagem ao Lula, que acredito será o vitorioso destas eleições.
À guisa de consideração final, podemos firmar que o PT é o partido representativo da maior parte da população brasileira, mesmo que a união de vários partidos, grupos, sindicatos, artistas não signifique que todos são petistas. Do outro lado, o bolsonarismo tornou-se, sem dúvida, um movimento social, pois não foi somente um fenômeno de conjuntura em 2018, e sim um movimento articulado. Essas articulações não foram percebidas pelos analistas, as quais podem ser classificadas como a grande surpresa desta eleição. Enfim, o bolsonarismo veio para ficar e polarizará com o PT nos próximos embates políticos.
*Israel Aparecido Gonçalves é mestre em Ciência Política pela UFSCar e doutorando em Sociologia Economia pela UFSC. Autor de 10 livros, com destaque para Reflexões: Educação, Sociedade e Política. Joinville/SC, Editora Areia, 2019.
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