Cinegrafista da Jovem Pan diz que filmou segurança de Tarcísio disparando tiros em Paraisópolis
Tarcísio leva milícia para SP: Cinegrafista do caso Paraisópolis diz que equipe do candidato ao governo de SP pediu sua demissão da Jovem Pan. Repórter cinematográfico deu detalhes da pressão que sofreu para apagar as imagens da operação policial: "Estou com medo"
O repórter cinematográfico da Jovem Pan Marcos Andrade, que gravou as imagens do tiroteio em Paraisópolis durante a passagem de Tarcísio de Freitas (Republicanos) pelo local, afirmou que a equipe do candidato bolsonarista, após pedir para que ele apagasse as imagens da câmera, pressionaram a emissora pela sua demissão.
A denúncia foi feita em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada. Na conversa, Andrade contou detalhes da pressão sofrida após a captação das imagens. Ele diz que, apesar da ofensiva, até o momento a emissora o informou que não pretende cortá-lo do quadro de funcionários. Sugeriram, porém, que ele gravasse um vídeo de apoio para Tarcísio. “Aquela conversa de que seria legal [gravar um vídeo para ele]”.
“Ontem [terça, quando o áudio da equipe de Tarcísio pedindo que imagens fossem apagadas foi revelado] foi um dia muito difícil, né? Porque houve comunicação da equipe [do Tarcísio] com a empresa [Jovem Pan] cobrando uma postura da empresa de desligamento”, contou. “Até ontem, a hora que eu saí de lá, eles bateram o pé e desligamento zero. Não falaram o que iam fazer, entendeu? Mas me pediram para eu gravar um vídeo para o Tarcísio”, acrescentou, indicando não saber se o vídeo será usado na campanha do bolsonarista e reforçando que, até aqui, pelo que compreendeu, se trata de uma sugestão.
Mais uma BOMBA! Equipe do candidato bolsonarista Tarcísio Freitas mandou cinegrafista apagar vídeo de tiroteio em Paraisópolis. pic.twitter.com/9s0ayPaHIu
— Lázaro Rosa 🇧🇷🚩 (@lazarorosa25) October 25, 2022
Ao jornal, ele identificou o membro da campanha do Tarcísio que o pressionou a apagar as imagens. Trata-se, segundo ele, de Fabrício Cardoso de Paiva, um agente licenciado da Abin. A identidade do assessor foi revelada pelo site The Intercept Brasil e confirmada por Andrade por meio de fotografias. Ele diz que Tarcísio não participou da conversa, que teria acontecido ‘ao pé do ouvido’.
A presença de agentes federais na segurança e assessoria de um candidato ao governo, conta Andrade, que está habituado a cobrir política local, o estranha. “Tem muita polícia. Só que você não consegue distinguir quem é quem. Quando você olha para o lado e fala assim: tem um federal aqui, um cara da Abin, um militar. Isso é normal?”, questionou. “Eu já fiz várias campanhas. Estado, praxe, [é ter] policial militar. […] Um candidato ao governo com esse estafe eu nunca vi. Foge da normalidade”.
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Na conversa, Andrade relata ainda temer pela segurança da sua família após o ocorrido. A esposa está grávida de 8 meses. Ele conta ainda que pretende se desligar da emissora após o caso.
Em nota ao jornal, a campanha de Tarcísio nega o pedido para apagar as imagens, bem como a pressão pela demissão do cinegrafista e cita que o repórter cinematográfico esteve na van do candidato que retirou os presentes do local próximo ao tiroteio e teria agradecido por ter sido retirado em segurança. Ainda na nota, a campanha do bolsonarista alega que, quando esteve na Jovem Pan, Andrade também a recebeu e agradeceu Tarcísio pelo auxílio.
Já a Jovem Pan alega que todas as imagens gravadas por Andrade foram exibidas e que não houve contato com a emissora por parte da equipe de Tarcísio para pedir que os vídeos não fossem veiculados e que, portanto, não teve restrição ao trabalho jornalístico.
Suposto ‘atentado’ contra Tarcísio é difundida por bolsonaristas nas redes
Mesmo sem nenhuma relação com os fatos, o nome do candidato Fernando Haddad (PT) aparece como o 12º mais frequentemente associado em posts no Twitter sobre o assunto, segundo o Monitor de Redes Sociais do Estadão. O ex-presidente Lula, da mesma forma, aparece em 15º, e o presidente Jair Bolsonaro, em 6º.
Ainda que Bolsonaro tenha se mostrado cauteloso inicialmente em declarações sobre o ocorrido, dois de seus filhos políticos logo associaram o fato a um atentado. “Ao que parece trata-se de um atentado de traficantes fortemente armados contra o Ministro Tarcísio em SP”, alegou o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL-RJ). “Graças a Deus o atentado em Paraisópolis/SP não fez vítimas fatais”, postou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
A associação direta com Lula, Haddad e o PT fica a cargo de aliados como a deputada federal Carla Zambelli (PL-DF). “Lula disse no debate que ele é o único o candidato que entra na favela sem colete e sem precisar de polícia. Hoje: Tarcísio Freitas sofre atentado em Paraisópolis. Tire suas conclusões”, postou a deputada no Twitter, em referência à visita recente do petista ao Complexo do Alemão, quando não houve nenhum incidente de segurança.
“A QUEM INTERESSA O ATENTADO CONTRA TARCÍSIO??”, postou a senadora recém-eleita pelo Distrito Federal e ex-ministra da Mulher do governo Bolsonaro, Damares Alves (Republicanos). Nesse mesmo tom, usuários compartilham ainda uma montagem com o rosto de Tarcísio no lugar de Marielle Franco — vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL assassinada em 2018 — com os dizeres: “Quem mandou matar Tarcísio?”.
Em grupo de influenciadores pró-Bolsonaro, foram postadas imagens do local onde se ouvem tiros junto a uma legenda alegando sem provas que Marcola, o PCC e o crime organizado estariam “fechados com o PT do Lula”. A campanha de Bolsonaro frequentemente associa o partido a facções criminosas e já teve conteúdos removidos a mando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Carta Capital e Estadão
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