Pelos últimos movimentos de que tive notícias, Eduardo Leite estava inclinado a não apoiar Lula. Na prática, é apoiar Bolsonaro. Ele afirma não querer se envolver na polarização nacional. Estrategicamente, finge não entender o que está acontecendo, querendo fazer crer que há possibilidade de neutralidade neste caso. Não há!
Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
No primeiro turno, votei no Edegar Pretto (PT). Agora, vou de Eduardo Leite, incondicionalmente.
Comecei este texto taxativamente porque estou convicto: atualmente no Brasil, nenhuma corrente política é pior que a bolsonarista.
As pesquisas de intenção de voto do Rio Grande do Sul apontavam que Eduardo Leite seria o primeiro colocado e disputaria no segundo turno com o bolsonarista Onyx Lorenzoni. Em ascensão, mas ainda em terceiro lugar, aparecia o Edegar Pretto, dez pontos percentuais atrás do candidato do PL, com 15%.
Como em outros estados, os institutos erraram feio. Lorenzoni liderou com 37% e Leite ficou em segundo, com 26%, mas num “empate técnico” e surpreendente com Pretto, com diferença de 2500 votos. (números e índices estão, neste artigo, aproximados)
No Rio Grande do Sul, PSDB e MDB repetiram a dobradinha nacional, só que invertido. Leite é do PSDB e seu vice, Gabriel Souza, do MDB.
Simone Tebet, a candidata emedebista, num discurso que foi mais recitado do que lido, de tão bem escrito, declarou apoio a Lula. O teor foi belíssimo e não poupou crítica ao chamado voto útil. Legítima a contestação. Mas bem poderia, num desperdício retórico, ser resumido a uma frase: “eu sei do compromisso dele (Lula) com a democracia”. Donde provoco: alguém pode afiançar com franca convicção o mesmo do Bolsonaro?
Pelos últimos movimentos de que tive notícias, Eduardo Leite estava inclinado a não apoiar Lula. Na prática, é apoiar Bolsonaro. Ele afirma não querer se envolver na polarização nacional. Estrategicamente, finge não entender o que está acontecendo, querendo fazer crer que há possibilidade de neutralidade neste caso. Não há.
Eu entendo que ele está fazendo contas, com medo de perder os votos dos simpatizantes do Bolsonaro, ao declarar apoio a Lula. Mas não precisa ser especialista em ciência política pra perceber que este caminho é arriscado para esta eleição como para o futuro político dele, se desejar continuar na política partidária.
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Simplificando o raciocínio e tudo em tese, claro: 2% dos votos do Argenta (PSC) mais 4% dos votos do Heinze vão automaticamente para o Onyx. Ou seja, o candidato do PL já arranca no segundo turno com 43% dos votos válidos contra os ainda 26% do Leite.
Aí o Onyx precisa conquistar 7% dos 26% disponíveis do Pretto; Eduardo Leite precisa de mais da metade dos votos do petista. Tarefa difícil. E, se apoiar Lula, é de se supor mesmo que pode perder votos bolsonaristas. A quantidade deles é uma incógnita que duvido que os institutos ousem tentar responder.
A maioria dos votantes do Pretto com os quais conversei irá votar no tucano independente de apoio a Lula. Isso a princípio. Poderão indignar-se quando ele, direta ou indiretamente, apoiar o Bolsonaro.
Há outros, a minoria, mas há, que votarão no Onyx ou anularão. Esses, a princípio, mesmo que ele apoie o Lula. Os argumentos, entre outros, são os baixos salários do magistério estadual e sua politica declaradamente privatista. De minha parte, não adiantou argumentar que o Onyx fará o mesmo ou pior. Mas talvez eles revejam seu posicionamento se o Cara aparecer com sua voz rouca suplicando o voto no 45.
Se nem os institutos de pesquisa acertaram, quem sou eu, um mero devaneador pra cravar resultados. Mas, baseado na apuração real, pode-se afirmar com pequena margem de erro que a eleição do Leite é infelizmente muito difícil. Poderia salvar seu nome.
Podemos mensurar sem pesquisa o tamanho do candidato, seus ideais e princípios. Leite é de direita e neoliberal. O bolsonarismo é de extrema-direita. Ideologicamente, se aproximam no que tange às propostas econômicas. Mas há uma civilização a separar o bolsonarismo do PSDB. E essa é a mesma distância que separa o bolsonarismo do PT ou de qualquer partido ou corrente política que defenda a liberdade e a democracia por princípio. Erra, portanto, Leite, ao equiparar Lula e Bolsonaro.
Mas, por falar em princípios, em democracia, o PT seria grandioso se, independente da posição do Eduardo Leite, apoiasse a sua candidatura.
Seria um recado claro e definitivo de que o bolsonarismo está abaixo de qualquer discussão política democrática. E mais, o partido iria (re)conquistar o respeito de parte do eleitorado inclusive com vieses mais conservadores. Seria uma prova de que o PT é mais programático, ideológico e amplamente pragmático do que fisiológico.
Quanto a Leite, é novo e tem potencial. Conduziu bem a pandemia aqui no Rio Grande do Sul. Tem a chance de um dia se equiparar a FHC ou Mário Covas. Mas tá preferindo se tornar um Aécio, só que sem denúncias de corrupção.
Perde a democracia.
*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”
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