Mulheres violadas

Estudante de medicina foi dopada e estuprada por Thiago Brennand

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"É um completo monstro. Ele me estuprou e consegui escapar no dia seguinte". Bolsonarista Thiago Brennand chegou a ser preso na sexta-feira (14), em Abu Dhabi, mas pagou fiança e foi liberado. O 'herdeiro' está vivendo em um hotel cujas diárias custam até R$ 22 mil

Stefanie diz que foi dopada e estuprada por Thiago Brennand

Universa

Uma estudante de medicina afirma que foi dopada e estuprada por Thiago Brennand, somando-se às vítimas que denunciam uma série de crimes sexuais do empresário no Brasil. Ele chegou a ser preso na sexta-feira (14), em Abu Dhabi, mas pagou fiança e foi liberado. Segundo o “Fantástico”, da TV Globo, ele está vivendo em um hotel cujas diárias podem chegar até R$ 22 mil.

Stefanie Cohen, 30, é estudante de medicina e foi vencedora de um concurso de Miss. Em entrevista ao programa dominical, ela afirmou que Brennand pediu, no dia 4 de setembro, para que ela depusesse a favor dele. Em uma mensagem de texto, Thiago escreve: “Você deporia a meu favor? Só pra dizer que nos relacionamos e que nunca fui um monstro pra você.”

“Vocês mexeram com a pessoa errada, branco, hetero, armamentista e conservador”, diz Thiago Brennand

A estudante se recusou e contou sua história: “Ele é um completo monstro. Não tem como um ser humano não achar ele um monstro. Nós não tivemos relacionamento nenhum. Ele me estuprou e eu consegui escapar no dia seguinte”, disse ela.

Stefanie afirmou que os dois se conheceram em um restaurante em São Paulo e, mais tarde, começaram a trocar mensagens. “Ele me encontrou no Instagram, depois de uns dois dias. Começou a falar comigo o dia inteiro. E falava que foi educado na Inglaterra… Tudo do Thiago parecia [que ele era] um lorde. Aí ele me chamou para jantar”, disse ela.

Segundo a estudante, Thiago pediu duas caipirinhas e, após Stefanie beber uma delas, começou a passar mal. “Eu me lembro de ter ficado muito tonta e aí eu fui em direção ao banheiro.”

Stefanie afirma que ficou “completamente desorientada” e que acredita ter sido uma vítima de alguma droga com efeito de “Boa noite, Cinderela”. “Eu não tinha controle das minhas pernas, não conseguia andar.”

Ela diz que Thiago a levou embora para um quarto de hotel. “Foi a pior noite da minha vida, porque ele me estuprou”, disse a estudante. “Sem preservativos, sem nenhum tipo de preocupação com o que aquilo poderia fazer comigo. A parte que eu mais me lembro foi eu pedindo ‘não’ muitas vezes.”

Ela diz que Thiago ficou a chamando de “namorada” para forçar a relação. “Ele tirou as minhas forças, a minha dignidade, tudo. Eu acordei no dia seguinte e ele começou a falar mal do meu corpo. [Ele disse]: ‘Eu achei que estava saindo com a Miss São Paulo, mas está mais para Miss Paraíba’, como se isso fosse algo degradante.”

A estudante ainda disse que Thiago deixou o hotel afirmando que um funcionário dele passaria para buscá-la. A intenção dele era levá-la até a mansão em uma residência em Porto Feliz, no interior de São Paulo. No entanto, Stefanie conseguiu fugir.

“Eu falei para o funcionário que eu tinha um compromisso, que eu ia voltar para São Paulo com o meu carro e disse para avisar o Thiago”, relata ela. “15 minutos depois ele me mandou um vídeo íntimo. Esse vídeo me calou. A vontade é denunciar, até você saber que ele tem um vídeo íntimo em que aparece o seu rosto. Então começaram os piores meses da minha vida. Eu não dormia à noite pensando: ‘Será que ele ta fazendo isso com outra mulher?’. E então eu lembrava do vídeo. E o vídeo me calava.”

A estudante ainda contou que passou dois meses em tratamento psiquiátrico após o ocorrido e que tem um laudo ginecológico que atesta a violência sexual. “Eu tinha que passar uma pomada por dez dias e eu queria vomitar toda vez que passava essa pomada porque eu tinha um nojo tão absurdo do meu próprio corpo, que era horrível.”

Hotel de luxo

Ainda segundo o “Fantástico”, o hotel de luxo em que Brennand está hospedado tem sete restaurantes, piscina e spa, com diárias de R$ 22 mil. Após ser preso e liberado, Thiago teve que informar endereço fixo e não pode se ausentar do país sem comunicar à Justiça.

O empresário ainda se comprometeu a comparecer às audiências sempre que solicitado e irá responder ao processo de extradição em liberdade, segundo informações da TV Globo. O valor da fiança não foi divulgado.

Thiago estava foragido desde setembro. Ele havia se tornado réu por agressão após ter sido flagrado em vídeo agredindo a modelo Alliny Helena Gomes em uma academia em um shopping de luxo na cidade de São Paulo.

Depois do caso, que ocorreu no dia 3 de agosto, uma série de acusações públicas contra ele começaram a surgir.

Repercussão da prisão

Helena Gomes, modelo agredida por Thiago na academia de luxo em São Paulo, afirmou à TV Globo que espera que o empresário seja preso novamente. “Pra mim não é uma luta contra o Brennand. Sinceramente, ele não significa nada pra mim. Pra mim, é uma luta a favor das vítimas”, disse ela. “Se ele ficar solto, vai continuar fazendo [isso] com outras pessoas. Não podemos aceitar Thiagos soltos por aí.”

Além do caso de Helena, a Promotoria de Porto Feliz denunciou Thiago Brennand pelos crimes de estupro, cárcere privado, tortura, lesão corporal e coação durante o processo. É a segunda acusação aceita pela Justiça, com um novo pedido de prisão preventiva. A acusação diz respeito a uma única vítima, que não teve a identidade divulgada, e que foi submetida a repetidos estupros e teve as iniciais do empresário tatuadas na pele.

O tatuador, que colocou as iniciais de Brennand na vítima a pedido do próprio empresário, também foi denunciado pelos crimes de tortura e lesão corporal gravíssima. Contudo, ainda não há pedido de prisão contra ele.

Empresário ainda pode ser extraditado

Apesar de ter sido solto, o empresário segue respondendo aos processos e aguarda o processo de extradição. De acordo com a Polícia Civil de São Paulo, o processo deve durar cerca de 40 dias, quando é esperado que o acusado chegue ao Brasil, quando deve ser ouvido em depoimento.

Em entrevista ao Uol, a delegada Ivalda Aleixo, da Divisão de Capturas da Polícia Civil de São Paulo, diz que o período de espera até a extradição se justifica em decorrência dos trâmites burocráticos entre os países envolvidos, que conta com a participação da embaixada brasileira nos Emirados Árabes. “Há protocolos internacionais que precisam ser cumpridos”, diz.

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