Briner de César Bitencourt: Jovem ficou preso injustamente durante 1 ano, provou inocência e morreu no dia em que seria solto. Aos prantos, mãe desabafa: "Meu filho ficou um ano preso lá aguardando um juiz. Há vários meses teve a audiência e o juiz não deu a decisão, deixou meu filho ficar lá até a morte"
O jovem Briner de César Bitencourt, de 22 anos, morreu no dia em que recebeu alvará de soltura para deixar a prisão em Palmas (TO). Ele estava preso injustamente havia um ano.
Segundo a Seciju (Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça de Tocantins), Briner de César Bitencourt, detido na Unidade Penal de Palmas, começou a apresentar queixas de dores há duas semanas, sem receber qualquer diagnóstico, mesmo sendo encaminhado para unidades de pronto-socorro da capital.
No domingo (9), ele foi levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região Sul, mas teve a morte declarada no local após algumas horas, às 4h30 da segunda-feira (10). Também na segunda-feira, às 15h40, a Central de Alvarás de Soltura da Polícia Penal do Tocantins recebeu o pedido de liberdade de Briner, que já estava morto.
Prisão
Briner foi preso em 12 de outubro de 2021, quando a casa na qual ele alugava um quarto foi adentrada por policiais e uma estufa com plantas de maconha foi encontrada nos aposentos de outra pessoa que vivia no local. Na ocasião, segundo a advogada do jovem, Lívia Machado Vianna, ele e outras duas pessoas foram levadas à delegacia e presas.
“Os policiais militares receberam uma denúncia anônima, foram até a casa sem mandado judicial, entraram e apreenderam todo mundo que estava lá. Por mais que o Briner falasse que não tinha conhecimento, que não participou, que ele não sabia e os outros rapazes também falarem que ele não sabia, a prisão dele foi mantida. Ele foi preso em flagrante e teve a prisão convertida em preventiva”, explica a defensora.
Ela explicou que a casa na qual Briner morava era uma espécie de “república” e que o quarto dele não tinha qualquer ligação com outros aposentos. “A defesa trabalhou para provar a inocência do crime. Fomos atrás de documentos, comprovando que ele era um trabalhador honesto, fazia projetos sociais. Tudo que a gente pôde demonstrar como, fazer perícia na casa para provar a dinâmica que ele não tinha acesso ao quarto e nem conhecimento do que estava acontecendo, nós fizemos. Ao final desse processo, a gente conseguiu a sentença absolutória, no dia 7 de outubro”, conta.
Segundo a defesa, a sentença foi protocolada ainda no dia 7 de outubro, uma sexta-feira. A condenação das outras duas pessoas detidas com Briner foi mantida.
A advogada afirmou que nem ela, nem os familiares do jovem foram informados sobre o estado de saúde dele durante as duas semanas em que ele passou mal na prisão.
Entregador
Briner trabalhava como entregador por aplicativo e compartilhava a rotina nas redes sociais. Em uma das contas, tinha mais de 24 mil seguidores. Entre as publicações, mostrava situações cômicas, como a relação com os clientes nas entregas, e suas manobras de motocicleta. Há vídeos com um milhão de visualizações. Briner não tinha passagens pela polícia.
Familiares e amigos de Briner fizeram protesto nesta quarta-feira (12), no dia em que o corpo do jovem foi enterrado. Eles se reuniram na frente da funerária e, com balões brancos, fizeram um ato na frente da UPP, onde o jovem ficou preso por um ano. Eles cercaram uma viatura do sistema prisional e pediram justiça.
Aos prantos e segurando uma faixa com a frase “nenhuma mãe merece passar por isso”, Élida Pereira disse que o poder judiciário demorou a julgar e determinar a soltura de Briner.
“Meu filho era inocente, ficou um ano preso lá aguardando um juiz. Há vários meses teve a audiência e o juiz não deu a decisão. Acho que em torno de quatro meses que teve essa audiência e o juiz não deu a decisão. Deixou meu filho ficar lá até a morte”, disse Élida.