Silas Malafaia, Estevam Fernandes, Marco Feliciano e outras lideranças evangélicas reconheceram o resultado das urnas e abaixaram o tom contra Lula. Na outra ponta, André Valadão não freou a agressividade contra o presidente eleito e já fala em 'impeachment'
Um dos principais cabos eleitorais de Jair Bolsonaro, o pastor evangélico Silas Malafaia estava num culto de sua Assembleia de Deus Vitória em Cristo quando a derrota do seu candidato foi confirmada.
Malafaia, que passou o ano todo chamando Lula de ‘bandido’, surpreendeu e puxou uma oração pelo petista. “Como eu disse aqui na igreja, a vontade do povo se estabelece, e o povo que vota, que faz escolha, é responsável por suas consequências. Só isso. A igreja vai marchar triunfante”, justificou.
“Qual é o meu papel? Orar pelo presidente que foi eleito”, afirmou. “Nós temos que orar pela autoridade constituída”, acrescentou Silas Malafaia.
O bíblico Livro de Timóteo recomenda “súplicas, orações, intercessões e ação de graças” por “todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade”.
Malafaia pediu, então, “uma bênção sobre o Lula, sobre governadores, sobre senadores, sobre deputados”. Antes, lembrou que já havia, no passado, apoiado um candidato vencido —o tucano Aécio Neves— e nem por isso deixou de orar pela campeã daquele pleito, Dilma Rousseff (PT).
“Na época da eleição, eu largo o aço”, disse. Depois, a história muda. O pastor contou que esteve com Dilma oito meses antes de seu impeachment e por ela orou. “Pedi licença, pode botar a mão na sua cabeça? ‘Pode.’ […] Tem que orar por ela, meu irmãozão.”
Marco Feliciano
O deputado Marco Feliciano (PL-SP), outro aguerrido defensor de Bolsonaro, também suavizou o tom contra Lula. Terminado a fala de vitória do petista, foi ao Twitter: “Vi o discurso de Lula. Começou agradecendo a Deus. Falou de Deus em vários momentos. Reafirmou compromisso pela liberdade religiosa, evitou temas que causam divergências com o segmento evangélico e terminou agradecendo a Deus. Aprendeu a nos respeitar? Tenho dúvidas. O tempo dirá”.
Renato Cardoso
Renato Cardoso, atual número dois na hierarquia da Igreja Universal, conclamou fiéis a orar por Lula após semanas de campanha aberta contra o petista. “Se você quer seu bem, então você ora às autoridades. Todos os cristãos têm que orar às autoridades que estão no poder. Nosso desejo não é pelo mal de ninguém, não é pelo mal do presidente Lula nem de outros governantes, é pelo bem das pessoas. Se eles fizerem um bom trabalho, então vamos ter uma vida melhor e mais fácil. Não temos em nosso coração nenhum medo ou preocupação”.
Renê Terra Nova
O apóstolo Renê Terra Nova, importante liderança do Norte, disse que domingo havia sido “um dia muito difícil”, mas frisou que votou em Bolsonaro como cidadão, não como igreja. Pediu respeito ao resultado e disse que “os justos não temem as más notícias”, uma passagem bíblica. “O Brasil não é o Brasil dos evangélicos, tem evangélicos. Não é o Brasil dos cristãos, tem cristãos. O Brasil é o Brasil dos brasileiros.”
Cláudio Duarte
Seguido por milhões nas redes sociais, o pastor Cláudio Duarte usou o Instagram para passar sua mensagem, o que fez com a camisa do Brasil, símbolo dos apoiadores de Bolsonaro. Na legenda, uma nota irônica: “Bom dia Brasil!!!! Nada como uma boa noite de sono e uma oração matinal para levantar a cabeça e prosseguir na caminhada. Vem aí o melhor Governo que a esquerda já fez!”
Na fala, um aceno à pacificação. “Obviamente não tô alegre com isso [a derrota], mas se dizer que estou entristecido, não mudo nada.” Duarte também pediu que é preciso “orar para que o Brasil cresça” e “respeitar esse resultado”.
Estevam Fernandes
O apóstolo Estevam Hernandes, idealizador da Marcha para Jesus e da igreja Renascer em Cristo, preferiu a camisa do São Paulo, seu time, para uma live em que reforçou nunca ter se levantado “para falar pessoalmente contra A ou B”.
Disse, na sequência, que a postura cristã é a de dar exemplos. “Jesus nos deu o desafio de orar até pelos nossos inimigos. Em caso de política, não temos inimigos, mas sim divergentes.”
André Valadão
André Valadão, da Igreja Batista Lagoinha, foi um dos poucos que não freou sua agressividade contra o presidente eleito. Postou uma montagem do rosto de Lula como dom Pedro 1º. “Dom Preso Primeiro – se for para roubar, diga ao povo que volto!”
Também questionou se Geraldo Alckmin (PSB), vice do petista, seria “mais rápido do que Temer”, alusão ao impeachment de Dilma que colocou Michel Temer (MDB) na Presidência. E publicou em caixa alta: “DESORDEM E RETROCESSO”.