O eleitor de Bolsonaro é Roberto Jefferson, o Véio da Havan, o Guilherme de Pádua, o Goleiro Bruno, o Silas Malafaia, o Edir Macedo e todos que trabalham para transformar o Brasil no paraíso das ilegalidades, com amparo do presidente, as bençãos dos mercadores da fé e uma arma na mão
Anderson Pires*
O ex-deputado Roberto Jefferson faz tempo que protagoniza episódios grotescos. No período de Collor de Mello, ficou conhecido por ser um dos mais ferrenhos defensores do presidente durante o governo e processo de impeachment.
No Governo Lula, Bob Jeff foi réu confesso no processo que ficou conhecido como Mensalão e criou a versão de que Marcos Valério seria responsável por um esquema de repasse de propina para deputados, que era alimentado por verbas publicitárias. Algo impossível de ser verdade, pelo simples fato que o valor dos recursos desviados seria maior que as verbas destinadas as agências.
O Mensalão existiu, mas sem nenhum mecanismo fantasioso operado pelo “Carequinha”, como dizia Roberto Jefferson. As práticas eram exatamente as mesmas de sempre: obtenção de vantagens por intermédio de agentes públicos, indicados por políticos corruptos em locais estratégicos.
Naquele momento, ficou clara qual a principal obsessão do ex-deputado e Presidente do PTB, o ódio pela esquerda. Sendo assim, seu principal alvo foi o ex-ministro José Dirceu, que foi condenado com base na tese do ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, que haveria domínio do fato, mesmo sem provas materiais.
Roberto Jefferson foi preso pelos crimes que confessou, mas nem por isso deixou de interferir na política brasileira. Manteve o controle do PTB, sua filha assumiu seu espólio e diversas outras acusações de corrupção foram apresentadas contra ele.
O ressurgimento de Roberto Jefferson seria coroado com o Bolsonarismo. Afinal, compactuam de valores e práticas semelhantes. Ambos entendem a democracia como um valor relativo, que deve servir como garantia para expressar vontades individuais. Para eles, o interesse particular sobrepõe a coletividade.
Nessa lógica, pregam o uso irrestrito de armas, atacam as instituições, estimulam o desrespeito à democracia e negam o Estado de Direito. Resumindo, querem um mundo onde os limites sejam estabelecidos pela moral de cada um. Dessa forma, o que é lícito será interpretado pela ótica do indivíduo e não do Estado.
Por mais evidente que seja a relação entre o bolsonarismo e Roberto Jefferson, também é comum o descarte daqueles que pratiquem atos que representem alguma perda política. Em situações como essa, Bolsonaro usa de covardia e mentiras para se eximir de responsabilidades sobre seus aliados. No caso em questão, afirmou que não teria sequer uma foto com o ex-deputado. Argumento fácil de desmascarar, mas que o presidente cria para seus seguidores justificarem o injustificável.
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Mas os absurdos recentes do bolsonarismo não param com Roberto Jefferson. Essa semana vazou áudio de conversa entre o secretário da fazenda de Santa Catarina e Luciano Hang, o Véio da Havan. No diálogo o secretário cobrava impostos devidos, que seriam utilizados para para pagar os professores do estado. A sugestão do Véio foi que demitisse os professores e deixasse de pagar os salários, ao invés de lhe cobrar. Esse é o modelo de cidadão que integra o bolsonarismo. Um empresário que acredita que pode tudo, inclusive, sonegar, fraudar e roubar dinheiro público. Para Hang, mais importante que políticas públicas são os ganhos particulares que possa ter em detrimento da população.
O suprassumo do bolsonarismo está expresso nessa junção bizarra de Roberto Jefferson e Véio da Havan. Defendem desrespeito as leis, propagam mentiras, praticam crimes diversos, sonegam, roubam e defendem que esse comportamento é legítimo. Afinal, serve para garantir seus interesses, independentemente do prejuízo social que gere, principalmente, para os mais pobres.
Qual a diferença entre o Véio da Havan e profissionais liberais que sonegam impostos? Apenas a potencialidade, mas conceitualmente são iguais. O advogado, o médico e o psicólogo que sonegam em decorrência dos serviços prestados, apoiam Bolsonaro por ser, também, a defesa da prática criminosa deles mesmos. Vale lembrar, Bolsonaro quando era deputado afirmou: “eu sonego tudo que posso”.
O eleitor de Bolsonaro é escravagista, porque não respeita o trabalhador. É elitista, porque acredita que existe mérito nos privilégios que usufrui. É autoritário, porque nega tudo que estabeleça limites civilizatórios. É desumano, porque é racista, homofóbico, machista e defende a morte de quem lhe incomodar. É desonesto, porque comete ilícitos cotidianamente, mas sempre se autoabsolve. É falso moralista, porque pratica tudo que diz condenar: adultério, aborto, assédio, estupro e violências diversas.
O eleitor de Bolsonaro é Roberto Jefferson, o Véio da Havan, o Guilherme de Pádua, o Goleiro Bruno, o Silas Malafaia, o Edir Macedo e todos que trabalham para transformar o Brasil no paraíso das ilegalidades, com amparo do presidente, as bençãos dos mercadores da fé e uma arma na mão.
*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário, cozinheiro e autor do Termômetro da Política.
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