ELEIÇÕES 2022

Secretário tenta comprar voto de cacique com R$ 1,5 mil; indígena recusa

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Vídeo flagrou secretário oferecendo R$ 1,5 mil para cacique indígena votar em Jair Bolsonaro, mas ele recusa a oferta. "Estamos testemunhando nessas eleições a maior ofensiva da história do poder financeiro para coagir o voto do povo pobre. E o mais incrível é que esse povo, na medida do possível, está resistindo", observa jornalista

Cacique devolve dinheiro oferecido para votar em Bolsonaro

Um vídeo mostrou o momento em que um cacique indígena devolveu R$ 1,5 mil ao secretário de Agricultura de Marcelândia, Lincoln Alberti Nadal. O administrador público ofereceu o dinheiro para o cacique e, em troca, pediu para que a aldeia votasse em Jair Bolsonaro (PL).

Segundo a Polícia Civil, Lincoln esteve na aldeia Tuba-Tuba do Povo Yudjá Juruna Xingu, no Mato Grosso, para comprar os votos dos indígenas. O caso aconteceu às vésperas do primeiro turno, mas só agora foi revelado.

Na ‘cola eleitoral’ oferecida aos indígenas, aparecem os nomes de Jair Bolsonaro (PL), candidato à presidência; Mauro Mendes (União Brasil), que foi reeleito governador estadual; Wellington Fagundes (PL), eleito senador; Fábio Garcia (União Brasil), eleito deputado federal e Silvano Amaral (MDB), que ficou como suplente para deputado estadual.

O vídeo mostra o momento em que o cacique devolve ao secretário os valores. O líder justifica que eles não aceitariam suborno e que queria melhorias para a aldeia em conversas com as lideranças municipais.

“Esse dinheiro, a gente não vai pegar. Esse dinheiro, a gente vai devolver porque a nossa organização não aceita isso. Para o dinheiro atender um povo, tem que ser um dinheiro que resolve nosso problema, tem que ser conversado com a prefeitura ou com o prefeito, com o pessoal da Saúde, Secretaria de Saúde, só assim a gente aceita. Agora, um dinheiro que aparece de repente, isso a nossa organização não aceita”, diz em trecho da imagem.

Na sequência, o secretário ainda responde tentando fazer com que o homem fique com a quantia e cita uma conferência. De acordo com representantes da aldeia, eles fariam naquele mês a Conferência da Medicina Tradicional e buscavam apoio. Com a recusa, Nadal ainda insiste com o cacique perguntando se os indígenas não queriam comprar alimentos e combustíveis com o valor.

Após o caso, as lideranças procuraram a Polícia Civil e registraram denúncia contra o secretário. A Promotoria Regional Eleitoral informou que registrou denúncia por conduta irregular e eventual abuso de poder e captação ilícita de sufrágio. Além disso, a promotoria oficiou a Delegacia de Polícia de Marcelândia para instauração de inquérito para apuração dos fatos. O secretário e o piloto do barco devem ser ouvidos. O MPF aguarda cópia do inquérito para que sejam tomadas as providências.

André Macedo, jornalista e colunista do Pragmatismo, assegura que a atual eleição está quebrando todos os recordes de ameaças e compras de voto. “Estamos testemunhando nessas eleições a maior ofensiva da história do poder financeiro para coagir o voto do povo pobre. E o mais incrível é que esse povo, na medida do possível, está resistindo, como mostram as pesquisas”.