Thiago Brennand é a mais exata personificação do bolsonarismo
Amante e colecionador de armas de fogo e militante anti-mulheres nas redes, Thiago Brennand também é um notável mitômano: gabava-se de ter feito pós-doutorado na universidade de Oxford, na Inglaterra, mas a instituição revelou que nunca houve registro de aluno com o nome dele. Thiago foi preso hoje em Abu Dhabi
Leonardo Sakamoto
Preso em Abu Dhabi, onde estava foragido após acusações de lesão corporal, corrupção de menores e crimes sexuais, Thiago Brennand deve ser extraditado ao Brasil. Como a lei garante direitos políticos a quem está em prisão preventiva, em tese, ele poderá depositar o voto em Jair Bolsonaro, a quem declarou apoio em vídeo esta semana enquanto zombava da Justiça. “Se Deus quiser, vamos vencer no segundo turno”, disse.
Tipos como Brennand existem desde que o primeiro Homo Habilis quis pagar de gostoso para cima do seu bando. A evolução da humanidade sobre os padrões do que é ridículo, violento e despropositado acabou acuando essa subespécie, principalmente entre o fim do século 20 e o início do 21.
Imaginávamos, inocentemente, que ela viria a ser tornar peça de museu ao lado de outras linhagens de hominídeos que chegaram a um beco sem saída. Porém, a ascensão ao poder de líderes como Donald Trump, Viktor Orbán e Rodrigo Duterte empoderou o chorume. Sim, Thiago Brennand é a síntese do macho inseguro que apoia Jair Bolsonaro. Como ele mesmo explicou no vídeo:
“Sou branco, conservador, armamentista. Pela família, pela propriedade privada, pela disciplina, pelo respeito ao próximo, pela humildade, por colocar o homem no seu lugar e a mulher também.” Ironicamente, a Justiça brasileira com a ajuda das autoridades dos Emirados Árabes está colocando-o em seu lugar.
Independentemente do que aconteça no dia 30 de outubro, o bolsonarismo vai permanecer na sociedade brasileira por anos ou décadas, defendendo que o Estado não seja governado pelo império da lei, mas se submeta ao mais forte, ao mais armado, àquele que possua mais seguidores nas redes sociais.
Bolsonaro tem defendido “que a liberdade individual seja a máxima”. Por trás da mensagem, que provoca orgasmos em sujeitos como Brennand, está um dos pilares de seu governo: a adoção de uma sociedade miliciana, com cada um por si e Jair acima de todos.
De acordo com a Constituição, nossos direitos individuais são limitados pelos direitos de terceiros e da sociedade, num delicado equilíbrio. Sabemos que a liberdade de expressão não é direito absoluto porque não há direitos absolutos – nem a vida é, caso contrário, não haveria a legítima defesa. E que todos nós podemos ser responsabilizados quando abusamos desses direitos, atropelando a lei.
Bolsonaro veio subverter esse processo, tornando a impunidade a nova lei. Desde que assumiu o poder, ele trabalha para propagar a ideia de que o interesse dos indivíduos é sempre mais importante do que o bem-estar da coletividade. Isso não vale a todo o indivíduo, apenas para o “povo escolhido” de Jair Messias, ou seja, os grupos que o apoiam ou que estão com ele por conveniência.
Entre eles, estão garimpeiros, madeireiros, agropecuaristas que agem de forma ilegal, líderes religiosos ultraconservadores, empresários que desejam fazer o que quiserem sem ser importunados pela CLT, políticos e servidores públicos interessados em levar vantagem, milicianos e parte da banda podre das Forças Armadas e das polícias. E ricos mimados que acreditam que podem tudo porque tem o “sobrenome correto”.
Nesse projeto de sociedade miliciana, a mediação dos conflitos naturais em toda a sociedade por instituições é atacada em nome da possibilidade de cada um resolver da forma como melhor entender os seus problemas sem o “incômodo” de fiscais trabalhistas e ambientais, agentes da Polícia Federal e da Polícia Civil, juízes, desembargadores e ministros, deputados e senadores. Da Constituição.
Em uma sociedade miliciana, o povo poderá usar plenamente sua “liberdade individual” para se indignar com chips 5G inexistentes injetados por vacinas chinesas em um complô de bilionários pedófilos templários. Ou fugir para Dubai após ter a prisão decretada.
“Quem é hoje Thiago Brennand? Talvez um inimigo público, talvez um sociopata, talvez um estuprador. Será mesmo?”, perguntou o agora detento no vídeo já citado. Com seu retorno ao Brasil, a Justiça poderá responder a questão. Corre o risco de ser tudo isso junto e mais um pouco.
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