Venezuelana desmente Bolsonaro e diz que casa abrigava ação social
Bolsonaro piora sua situação após tentar justificar acusação de pedofilia. Se havia prostituição infantil no local, por que não fez menção a isso ou denunciou na época da 'visita'? Por que não se mostrou sequer desconfortável? O presidente está desesperado após vazamento do vídeo em que ele afirma que "pintou um clima" entre ele, um senhor de 67 anos, e uma menina de 14. Vídeos e mãe de umas das meninas que estava na casa desmentem o presidente e comprovam que a casa realizava uma ação social para refugiados: "Uma brasileira que fazia curso de estética vinha até aqui para fazer a prática do que estava aprendendo, de corte de cabelo, design de sobrancelha. Então, nós reuníamos um grupo de mulheres e era isso o que acontecia naquele dia"
Uma mulher venezuelana visitada por Jair Bolsonaro (PL) em São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal, em 2021, desmentiu a fala do presidente sobre ter encontrado adolescentes vindas da Venezuela “arrumadas para ganhar a vida”, insinuando prostituição infantil.
A declaração do presidente foi dada a um podcast na sexta-feira (14), quando também se referiu ao encontro dizendo que “pintou um clima” entre ele a uma menina de 13 anos. Segundo a mulher venezuelana, no dia em que Bolsonaro fez a visita, estava acontecendo uma ação social para refugiados no local.
“Não tem nada a ver com o que ele está falando agora. Esse dia foi uma ação que acontecia na casa. Uma brasileira que fazia curso de estética vinha até aqui para fazer a prática do que estava aprendendo, de corte de cabelo, design de sobrancelha. Então, nós reuníamos um grupo de mulheres e era isso o que acontecia naquele dia”, relatou.
Ainda de acordo com a mulher, havia adolescentes na casa naquele dia, entre elas, sua filha e sua sobrinha. Na ocasião, o presidente falou contra o isolamento social para combater a pandemia e conversou com sobre as dificuldades na Venezuela. Se Bolsonaro suspeitou de prostituição infantil no local, não fez qualquer menção a isso durante a visita, nem sequer se mostrou desconfortável com qualquer situação.
O caso ainda repercute fortemente nas redes. “Meninas não podem se arrumar num sábado de manhã? Se não fossem ‘arrumadinhas’, teria ‘pintado um clima’? Se detectou explorações de menores, por que não denunciou?”, questionou um internauta.
“Para surpresa de zero pessoas tudo indica que a mente perversa do Bolsonaro inventou que havia prostituição e que ‘pintou um clima’ entre as adolescentes e ele. Assim como a mente perversa dele tinha inventado que o avô tinha sido soldado nazista ou como a mente perversa da Damares inventou aquela mentira bizarra na outra semana”, observou outro.
O que Bolsonaro disse no vídeo: “Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, ‘posso entrar na tua casa?’ Entrei”.
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Vídeo mostra ação social
Quando Bolsonaro chegou de moto na casa das venezuelanas em São Sebastião, a garagem estava transformada em um salão de beleza. Uma cabeleireira e oito pessoas de sua equipe cortavam cabelo, faziam escova, prancha e babyliss em um grupo de mulheres venezuelanas.
Era sábado de sol de 10 abril de 2021. “Foi um dia maravilhoso”, lembra a cabeleireira Lu Silva, do Centro Técnico de Treinamento Underground da Beleza, de Paranoá, também na região administrativa do Distrito Federal, que atendeu as venezuelanas como parte de uma ação social.
“Eu achei fala dele [Bolsonaro] um absurdo. Não tem nada disso [prostituição]. A gente foi com esse objetivo, para treinamento e deixar elas mais bonitas”, diz Lu Silva.
No Instagram, um projeto social postou um vídeo do dia de beleza. “Hoje queremos agradecer a Lu Silva e toda sua equipe pela atividade em 10/04/2021, cortando cabelo, secando e fazendo prancha em nossas irmãs venezuelanas”. As venezuelanas estão com medo de retaliação e não terão seus nomes divulgados.
“Elas [venezuelanas] me convidaram para ir lá. Eu fui com minhas alunas, que estavam em treinamento. Quando nós estávamos lá trabalhando, ele [Bolsonaro] chegou, foi de repente. Eu falei: ‘o quê Bolsonaro está fazendo aqui?'”, diz a cabeleireira Lu Silva.
“O dia que a gente foi lá, foi só para arrumar as meninas [venezuelanas] e fazer o treinamento. Não tinha nada disso não [prostituição]. Achei elas muito responsáveis”, acrescenta Lu Silva.
Além do vídeo do dia de beleza, a página do projeto social que agradeceu a cabeleireira também postou uma foto do encontro com Jair Bolsonaro naquele mesmo dia.