Após vitória de Lula, Alemanha se diz pronta a retomar financiamento do Fundo Amazônia, seguindo o anúncio no mesmo sentido feito pelo governo da Noruega. Ajuda financeira contra o desmatamento havia sido suspensa pelos países europeus depois que Bolsonaro pôs fim a comitês gestores do fundo
O governo da Alemanha, segunda maior financiadora do Fundo Amazônia, declarou nesta quarta-feira que está pronta para retomar sua ajuda financeira para proteger a floresta do desmatamento, seguindo o anúncio no mesmo sentido feito pelo governo da Noruega na segunda-feira, um dia após a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva.
“Em princípio, estamos prontos para liberar os fundos congelados para o fundo de preservação da floresta amazônica. Vamos agora discutir detalhes com a equipe de transição. No governo alemão, há uma grande vontade de estender a mão rapidamente”, disse um porta-voz do Ministério do Desenvolvimento e Cooperação alemão em uma entrevista coletiva.
A Noruega era a maior doadora do Fundo Amazônia, responsável por 93,8% do total das verbas — entre 2008 e 2018, repassou US$ 1,2 bilhão para a iniciativa, que paga para o Brasil prevenir, monitorar e combater o desmatamento. A Alemanha, o segundo maior doador, contribuía com 5,7% do total, e também suspendeu os repasses. O terceiro contribuinte, com 0,5%, era a Petrobras.
O fundo tem atualmente R$ 2,5 bilhões em recursos, ou US$ 482 milhões, congelados desde 2019, quando o então ministro do Meio Ambiente do governo de Jair Bolsonaro, Ricardo Salles, extinguiu seus comitês gestores sem consultar os países financiadores. Na semana passada, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) formaram uma maioria para que o governo reative o fundo de preservação e desenvolvimento sustentável em até 60 dias.
Lula é congratulado por mais de 90 países
Governos de pelo menos 93 países já confirmaram nas redes sociais ou em telegramas oficiais a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nas eleições brasileiras no fim de semana. O número irá aumentar ainda mais ao longo desta semana, com dezenas de autoridades buscando formas de falar com o vencedor do pleito.
A avalanche de reconhecimentos foi recebida no Itamaraty como um sinal claro de que, para a comunidade internacional, não existem questionamentos sobre a eleição e que, a partir de agora, o interlocutor é Lula, e não Jair Bolsonaro (PL).
Se as principais democracias do mundo e alguns dos principais rivais de Bolsonaro se apressaram para reconhecer a derrota do presidente de extrema direita, o que surpreendeu a ala mais próxima ao movimento ultraconservador foi o comportamento de aliados internacionais de Bolsonaro.
Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, foi às redes sociais para felicitar Lula. Ela acaba de vencer suas eleições na Itália e, pela primeira vez em décadas, o movimento herdeiro do fascismo tomou o poder em Roma.
Em sua vitória, Meloni recebeu efusivas mensagens do clã Bolsonaro, numa esperança de que a nova aliada fizesse o mesmo no Brasil. Mas isso não ocorreu e a italiana fez votos de que Lula e ela continuem a trabalhar juntos em nome da “histórica amizade” entre os dois povos.
Quem também reconheceu o resultado das urnas foi a Arábia Saudita, onde Bolsonaro chegou a dizer que tinha afinidades com o príncipe herdeiro, Mohamed Bin Salman. Nas redes sociais, o saudita desejou “sucesso” ao petista. O governo dos Emirados Árabes Unidos, também com amplos contatos com a família do presidente, já parabenizou Lula.
Mais moderada foi a ultraconservadora Katalin Novak, presidente da Hungria e que há poucos meses esteve no Brasil. Ela não citou o nome de Lula nas redes sociais. Mas deixou claro que Budapeste reconhece a vitória do petista e que deseja sucesso ao “presidente eleito”. Ao longo dos anos, a Hungria foi o exemplo que o bolsonarismo adotou para silenciar a imprensa, a sociedade civil, controlar os demais poderes e desmontar a democracia.
Em Israel, nem mesmo o gesto de Bolsonaro de apontar para um reconhecimento de Jerusalém como capital e a mudança de votos do Brasil na ONU em favor dos israelenses levou o governo do país estrangeiro a hesitar sobre a eleição brasileira. Durante o dia da eleição, a primeira-dama Michelle Bolsonaro foi votar com uma camisa na qual a bandeira de Israel estava estampada, uma sinalização principalmente ao movimento evangélico brasileiro.
Mas, nas redes sociais, Isaac Herzog parabenizou Lula. “Recordamos com carinho sua visita a Israel diante seu mandato anterior”, disse. “Esperamos aprofundar nossos excelentes laços e principalmente cooperar em um assunto que tanto nos preocupa: o meio ambiente”,
Na Polônia, também governada pelos ultraconservadores, as autoridades não hesitaram em saudar a vitória de Lula.
AFP