Bolsonaristas vandalizam peça infantil no RS: "Xingaram famílias e mães"
"Crianças chorando e pais em pânico". Bolsonaristas invadem peça infantil no Rio Grande do Sul e assustam famílias
Um grupo de manifestantes golpistas que pedia intervenção militar provocou uma confusão durante um espetáculo infantil na Feira do Livro de Porto Alegre, na quarta-feira (2). O evento é um dos mais tradicionais do segmento no país e é realizado desde 1955.
A feira acontece na Praça da Alfândega, no centro da capital gaúcha, em um local próximo ao quartel militar da cidade, onde bolsonaristas se reuniam para protestar contra o resultado das eleições.
Segundo testemunhas, a briga começou entre quatro homens, alguns vestindo verde e amarelo, em frente ao local onde aconteceria o espetáculo infantil. A confusão começou poucos minutos antes do início da peça, que estava marcada para as 16h.
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Organizadores do evento e famílias que estavam na plateia tentaram conter os arruaceiros, mas a briga tomou proporções generalizadas. Manifestantes, também vestidos com cores da bandeira, chegaram a chutar as estruturas de ferro do evento e a ofender espectadores do teatro.
A confusão foi contida pela Polícia Militar, que precisou usar gás de pimenta para dispersar os manifestantes. Após 20 minutos de atraso e debandada de parte da plateia, os atores deram início ao espetáculo.
Artistas pensaram que havia alguém armado
Um dos atores da peça, gravou um vídeo no momento da confusão.
Ele relata que houve pânico no camarim e que a trupe chegou a pensar que poderia ter alguém armado no local.
“Quando ouvimos a gritaria, ficamos muito assustados, achamos que tinha alguém com arma”, relata o artista, que saiu do camarim para ver o que estava acontecendo. “Fui dar uma olhada para saber qual era a situação, se teríamos que ir embora correndo.”
O teatro onde a peça acontecia era a céu aberto e havia cerca de 300 lugares, que estavam todos ocupados. Após a confusão, parte das famílias precisou deixar o local, principalmente quem estava com crianças menores, que ficaram muito assustadas.
“As famílias que estavam na plateia começaram a intervir, a pedir aos arruaceiros que fossem embora, e eles responderam com xingamentos, palavras de baixo calão, chamando as mães de vagabunda, falando coisas horríveis, naquele espírito que a gente sabe que essas pessoas têm”, relatou o ator.
“O que mais me choca é que estávamos em um evento literário, de arte, de cultura, e esse era um espaço voltado para crianças”, diz.
Uma Vergonha . pic.twitter.com/0JPstkSWCd
— Sandro BarKochen (@SandroBarretoK1) November 3, 2022
O alvo, segundo um dos atores que apresentam a performance, não era a montagem. Mas a briga resultante das provocações de bolsonaristas acabou respingando no teatro Carlos Urbim, àquela altura – 16h25 de um feriado com sol – com cerca de 300 pessoas esperando.
“Faltavam cinco minutos para entrarmos em cena quando escutamos gritos, palavrões e apelos para que os agressores fossem embora. As pessoas, que lotavam a plateia, não tinham para onde fugir e se refugiaram nas laterais do teatro. Foram momentos de terror, com crianças chorando e pais em pânico”, relembrou um dos atores, que não quer se identificar.
A apresentação de uma releitura da lenda do menino do pastoreio teve de ser atrasada em quase meia hora até que os ânimos se acalmassem.
A organizadora do evento, que também não quer ser identificada, por medo de retaliações, disse que a briga começou com agressões verbais mútuas entre dois grupos distintos a partir de uma ofensa proferida por um homem com camiseta verde e amarela. Depois do xingamento, de acordo com ela, começou uma briga generalizada que se estendeu até o teatro lotado.
“As mães, principalmente, apelavam para que a briga cessasse, mas ouviam como reposta ofensas pesadas, com muitos palavrões. Foi preciso intervenção da Brigada Militar para que os ânimos se acalmassem”, disse. Foi ela que chamou a polícia, pelos alto-falantes da Feira, para debelar a confusão.
Foi preciso usar spray de pimenta para afastar os brigões – mais de dez pessoas, de acordo com a BM – e garantir que a peça fosse apresentada. Mesmo assim, como relatou o segundo ator da montagem, em clima de medo. “A gritaria continuou atrás do palco, nosso trabalho acabou muito prejudicado. Tudo que queríamos era terminar logo e correr para casa em segurança. Mesmo assim, a adesão do público foi emocionante. Fomos muito aplaudidos no final da performance”, contou. A peça tem 45 minutos de duração.
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Três PMs participaram da ação segundo o comando do 9º BPM, que atendeu a ocorrência. A BM confirmou o uso de spray de pimenta para conter os agressores. Mas, como a confusão envolveu um número grande de pessoas, ainda de acordo com o comando, não foi possível identificar nenhum dos participantes da agressão. Também não foram efetuadas prisões e nem foi lavrado boletim de ocorrência.
‘Meu filho pediu para ir embora’
A maquiadora Analu Santos, 30, que estava na plateia com o filho de 8 e a avó de 80, afirma que sentiu um clima pesado assim que chegou ao local. Ela e sua família se depararam com manifestantes com ânimos exaltados, muitos consumindo bebida alcoólica, circulando pela feira do livro.
Analu conta que também temeu a presença de pessoas armadas no local. “Os pais ficaram preocupados por causa de armas, esse pessoal costuma andar armado. Era uma briga feia, eles estavam se chutando no chão. Meu filho nunca tinha visto uma briga assim na frente dele”, diz a mãe.
Após a chegada da polícia e dispersão dos manifestantes, Analu tentou acalmar seu filho, pois achou que seria ainda mais perigoso deixar o local e ter que atravessar a avenida onde os bolsonaristas se reuniam.
“Meu filho ficou assustado e pediu para ir embora, mas eu falei que estava perigoso lá fora. Coloquei ele no meu colo, e ele assistiu a peça o tempo todo comigo”, conta.
O espetáculo encenado contou a história do Negrinho do Pastoreio, uma lenda tradicional gaúcha. A peça foi realizada sob o barulho de buzinas, hino nacional e gritos dos manifestantes golpistas que passavam pelo local.
“Saímos da peça com dor de cabeça porque eles estavam na rua de trás gritando, havia muito barulho”, disse a mãe.
O ator conta ainda que encenou o espetáculo inteiro com medo do que poderia acontecer depois.
“Fiquei com medo de que alguém aparecesse armado. A única coisa que a gente pede é que as pessoas consigam conviver de forma harmônica e respeitem o trabalho de quem faz arte e, principalmente, de quem trabalha com crianças”, pede o artista.
Com Universa e Sul21
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