Redação Pragmatismo
ELEIÇÕES 2022 05/Nov/2022 às 10:48 COMENTÁRIOS
ELEIÇÕES 2022

Colégio Israelita divulga nota após aluna protagonizar o vídeo mais asqueroso do ano

Publicado em 05 Nov, 2022 às 10h48

MP investiga discurso de ódio contra pobres, pretos e nordestinos. Diversas manifestações discriminatórias de alunos de escolas de alto padrão estão sendo apuradas, mas vídeo de aluna causou perplexidade pelo nível da crueldade e da agressividade. Imagens comprovam que o problema nunca foi a 'corrupção'

menina colégio israelita porto alegre
Menina que agrediu pobres e nordestinos em live deletou seus perfis

O Ministério Público do Rio Grande do Sul abriu uma investigação para apurar os discursos de ódio promovidos por alunos de escolas da elite do estado após o resultado da eleição presidencial que consagrou a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os ataques foram direcionados a pessoas pretas, pobres e que moram no Nordeste. Um dos vídeos que mais chocou foi o de uma menina loira do Colégio Israelita de Porto Alegre. As imagens foram divulgadas no Instagram do Pragmatismo.

“Se tu está achando que os mercadinhos de esquina eram caros na tua favela, tu não tem noção de como é nos supermercados que a gente vai, amore […] R$ 600 do auxílio não é nada, a gente compra papel higiênico folha dupla”, diz a menina em um dos trechos.

“Todos vocês nordestinos deviam tomar no c***, pobre vagabunda […] e outra coisa, não vem reclamar depois que tu for demitida, tá bom? Não vem reclamar depois que meu pai te demitir, tá bom fofinha?”.

Certa de que ficará impune, a adolescente continua: “Tá, então que me gravem, não vai mudar nada na minha vida, vai levar o que pro tribunal? O juiz que vai atender o caso é da minha família”.

Em nota, o Colégio Israelita repudiou as manifestações com teor discriminatório praticadas por alunas da instituição. A escola disse que o discurso de ódio não será tolerado e, dentro da legislação e dos regulamentos internos, serão aplicadas penalidades cabíveis. O Núcleo de Estudos Judaicos da UFRGS manifestou profundo repúdio ao episódio no Colégio Israelita.

Um vídeo de estudantes do Colégio Farroupilha também ganhou as redes. No conteúdo, os alunos da instituição da alta burguesia de Porto Alegre xingam uma colega bolsista com impressionante ódio e violência. “Filha da puta, vai tomar nesse teu cu, nojenta, fedida, vai comer lixo na rua”.

“Esses adolescentes reproduzem o que ouvem dos pais e de outros colegas e infelizmente se tornarão adultos abjetos. As imagens só comprovam que o problema nunca foi a ‘corrupção’, mas sim a ascensão do povo preto e pobre. Eles não suportam que as pessoas da base da pirâmide tenham sequer a possibilidade de sonhar com uma vida melhor. Querem que elas permaneçam rastejando para poder manter um estado permanente de escravidão velada. Enfim, é pela manutenção dos próprios privilégios”, observa Luis Soares, colunista do Pragmatismo.

O jornalista Jeferson Miola fala da necessidade de punição para os adolescentes. “Esses adolescentes são reflexo, muito provavelmente, da deseducação que recebem de seus pais nas suas próprias famílias, constituídas por ‘pessoas de bem’. Estão reproduzindo práticas criminosas que possivelmente seus próprios pais praticam e, por isso, são adolescentes em conflito com a Lei, como define o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/1990”.

“Esta Lei diz que, se o adolescente praticar ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar medidas socioeducativas ‘que têm por escopo: a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação; a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrições de direitos, observados os limites previstos em lei’.

Em nota, o Colégio Farroupilha disse que “Repudia discursos ou ações que disseminem qualquer tipo de intolerância, violência ou discriminação e espera a mesma postura de todos que fazem parte da comunidade escolar. A conduta inaceitável de alguns estudantes não representa os valores da instituição e, por isso, houve a imediata aplicação das penalidades previstas no Código de Conduta e Convivência da escola”.

A Promotoria Regional de Educação da Capital requisitou às escolas a identificação formal dos alunos envolvidos e quais medidas estão sendo tomadas. “A mantenedora também foi informada para a ciência e medidas cabíveis, que é a 1ª Coordenadoria Regional de Educação, e também já foram enviadas informações sobre esse expediente ao Núcleo do Ato Infracional, porque em tese as condutas dos adolescentes envolvidos configuram ato infracional, que nada mais é do que crime se fossem maiores de idade”, diz a promotora Ana Cristina Ferrareze.

O Ministério Público reforça que atitudes assim podem refletir posturas familiares. Por isso, vai convocar uma reunião com as escolas envolvidas nos episódios.

Nota do Núcleo de Estudos Judaicos da UFRGS:

“Manifestamos profundo repúdio ao episódio de racismo, classismo, elitismo e xenofobia por alunas e alunos do Colégio Israelita de Porto Alegre. Somos judeus antifascistas, democratas, frutos da educação judaica e dos seus valores de justiça social e acreditamos ser imprescindível que haja uma profunda reforma nas organizações judaicas do RS, que não podem permanecer omissas diante de manifestações de cunho fascista.

A educação judaica tem como fundamentos a Memória e a História. O impedimento da regressão à barbárie, o “Nunca Mais” pretendido no ensino do Holocausto – tão fundamental na Educação – se torna uma tarefa complexa, pois não podemos reduzir o Nazismo ao que ocorreu entre 1941 e 1945. Tomar Auschwitz apenas como um campo de extermínio não permite inseri-lo na História, apenas reforça o congelamento dessa memória no tempo e no espaço – o que nega a possibilidade de relação entre o passado e o presente.

A sacralização da memória de um trauma não permite a interlocução histórica do evento e sua discussão. Portanto, apoiamos uma educação comprometida com o imperativo do “Nunca Mais”, cujo foco esteja nas origens de um movimento que desembocou no genocídio organizado. Guetos e campos de concentração foram o resultado de um fenômeno maior, iniciado muito antes de tijolos e arames farpados.

Precisamos de letramento social, racial e de classe diante da complexidade do contexto bárbaro do Brasil. Para isso, a comunidade judaica necessita ampliar e fortalecer o diálogo com movimentos sociais populares e grupos minorizados. É um trabalho ético desfascistizar a sociedade.

Estaremos atentos aos desdobramentos do caso e esperamos que consequências cabíveis mediante a situação sejam colocadas aos envolvidos. Ao mesmo tempo, reiteramos que traumas coletivos não são uma escola de Direitos Humanos. O compromisso com a Memória é de todos. Dito isso, é fundamental refutarmos práticas e discursos antissemitas como resposta ao caso, lembrando os perigos da generalização e dos estereótipos, alinhados exatamente ao conteúdo do vídeo.”

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