Quando esteve em SC, Bolsonaro ignorou o próprio governador do PL para ter conversa de pé de ouvido e com a mão na boca com Emilio Dalçoquio. O empresário deu palestra em reunião para interessados em entrar no Instituto Lux, que tem entre os seus associados o professor Wander Pugliese, que teve uma suástica flagrada no fundo da piscina de sua casa
Identificado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) como um dos líderes dos bloqueios golpistas em rodovias de Santa Catarina, o empresário catarinense Emilio Dalçoquio Neto, 57, nutre uma relação de amizade com o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL) — com quem teve uma conversa ao pé do ouvido durante a campanha de segundo turno e em diversos outros encontros nos últimos anos.
No dia 30 de outubro, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente, Dalçoquio apareceu em um vídeo incitando atos golpistas. Aos gritos, dizia não aceitar o comunismo no Brasil e cogitou até uma escalada de violência nos bloqueios. “Por enquanto, pacificamente. Por enquanto”, disse.
Como ele foi identificado?
O empresário foi apontado pela PRF como uma das lideranças das paralisações em estradas catarinenses em e-mail encaminhado pela entidade à Procuradoria-Regional da União da 4ª Região (PRU4) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). A notificação foi feita em 31 de outubro, dia seguinte ao segundo turno das eleições e em meio ao auge dos bloqueios.
Herdeiro da Transportes Dalçoquio, fundada em Itajaí, no litoral norte de Santa Catarina, ele é apontado por pessoas próximas como um dos principais aliados de Bolsonaro, com quem mantém uma relação de intimidade.
Dalçoquio se posicionou sobre a suspeita de ser uma das lideranças nos atos em seu perfil no Instagram, negando ter qualquer tipo de responsabilidade na organização dos protestos.
“Assim como é garantido a todo cidadão, tenho o direito de me manifestar de forma ordeira e pacífica, nos exatos limites da liberdade de expressão prevista na Constituição Federal”, escreveu, em um dos trechos da publicação.
O que diz o empresário?
Dalçoquio fala como se estivesse à frente da mobilização em meio aos bloqueios nas rodovias em uma mensagem em vídeo direcionada a caminhoneiros e a empresários do agronegócio. As imagens viralizaram na internet.
“Eu não aceito o comunismo! Vamos aguardar as próximas horas. Já vai falando com amigos de vocês do agronegócio e caminhoneiros. Por enquanto, pacificamente. Por enquanto”, fala, em tom de ameaça.
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Em seguida, volta a dizer não aceitar o comunismo no país, aos gritos. A manifestação é seguida de aplausos de quem está no local. O empresário então volta a falar sobre uma eventual escalada de violência em meio aos atos, admitindo inclusive a possibilidade de mortes.
“Eu vou morrer! Nós vamos morrer! Quem é que não vai morrer aqui? Ninguém é eterno, porra! Mas não vamos entregar para *** do comunismo. E acabou! Saiam daqui e vão defender o Brasil também! É isso que nós esperamos, porra!”, disse Emilio Dalçoquio, apontado como um dos líderes dos atos.
Ele finaliza o discurso citando outros grupos espalhados pelo país. “Está feito o recado. Nós não podemos aceitar. E o que eu estou falando aqui tem que reverberar para o Brasil inteiro. Cada um tem que fazer a sua parte”, encerrou.
O vídeo foi compartilhado no Twitter por perfis de bolsonaristas, indicando adesão, e por críticos, com denúncias de incitação à violência.
Não foi a primeira vez em que ele foi identificado como articulador de bloqueios em rodovias. O empresário catarinense também foi investigado por envolvimento na greve dos caminhoneiros de 2018.
Conversa privada com Bolsonaro
Não foi só o vídeo convocando caminhoneiros e empresários do agronegócio para as paralisações que chamaram a atenção das autoridades.
No dia 11 de outubro, a apenas 19 dias das eleições, Dalçoquio teve uma conversa privada com Bolsonaro, flagrada em fotos que viralizaram na internet. O episódio ocorreu pouco antes de um encontro do presidente com 200 prefeitos do estado em Balneário Camboriú (SC).
A conversa entre os dois ocorreu logo que Bolsonaro desembarcou do avião no pátio das aeronaves antes mesmo de o presidente chegar ao terminal do aeroporto.
O ingresso nessa área é restrito, permitido apenas a pessoas que recebem autorização do Gabinete de Segurança Institucional, a guarda pessoal do presidente.
Governador eleito no SC ficou “escanteado”
Dalçoquio e Bolsonaro colocaram a mão na frente da boca ao falar, como fazem as celebridades e os jogadores de futebol para evitar leitura labial durante o diálogo.
A dupla conversou demoradamente, enquanto o hoje governador Jorginho Mello (PL) e outros políticos catarinenses esperavam. Dalçoquio voltou a falar com Bolsonaro também durante o evento, deixando Mello mais uma vez de lado.
Fotos com a primeira-dama
A relação entre o atual presidente e o empresário não é algo que surgiu nas eleições. Em janeiro de 2019, Dalçoquio deu uma palestra em Itajaí e mostrou fotos com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Entidade tem homem com suástica na piscina como sócio
O episódio ocorreu em uma reunião para interessados em entrar para o Instituto Lux. A entidade, que promove valores identificados com a direita, tem entre os seus associados o professor de História Wander Pugliese, que teve uma suástica flagrada no fundo de uma piscina em sua casa.
MP-SC já sabe quem são os financiadores dos atos
Na última semana, o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) informou ter identificado ao menos 12 empresários e agentes políticos suspeitos de financiar e organizar os bloqueios antidemocráticos.
O Ministério Público Federal (MPF) suspeita que existam financiadores ocultos espalhados em todo o país.
Herculano Barreto Filho e Felipe Pereira, via Uol
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