Isabel, do vôlei, morre dois dias após entrar no grupo de transição do governo Lula. A ex-jogadora foi uma das maiores referências do esporte e fez história tanto nas quadras como nas praias; ela deixa cinco filhos
Morreu nesta quarta-feira (16) a ex-jogadora de vôlei Maria Isabel Barroso Salgado, a Isabel, aos 62 anos. Na última segunda-feira, ela havia sido incluída no grupo de transição do esporte do governo do presidente Lula, que assumirá o país em janeiro de 2023.
A morte foi confirmada pela produtora de cinema Paula Barreto. “Fiz um call com ela na segunda feira. Ela estava super gripada. Falei para ela ir a um hospital, ela me disse que já tinha ido e testado negativo para Covid. Na segunda a noite foi dormir, passou mal. Deixou para ir para o hospital Sírio Libanês na terça de manhã. Quando acordou na terça já estava bem pior. Internou no Sírio já no CTI. Detectaram uma bactéria que já tinha tomado todo o pulmão. Foi entubada e teve uma parada cardíaca às 4h da manhã de hoje”, disse Paula.
Isabel é considerada uma das principais referências do vôlei brasileiro. Ela disputou duas Olimpíadas (Moscou 1980 e Los Angeles 1984) no vôlei de quadra. Foi a maior pontuadora dos Jogos Olímpicos 1984, capa da revista de maior circulação nacional (Veja) – um feito único no voleibol e raro até entre futebolistas. Depois, no início dos anos 1990, ela migrou para o vôlei de praia, onde foi pioneira mundial na modalidade.
Isabel foi também a primeira jogadora brasileira de vôlei a atuar numa liga estrangeira, na Itália, em 1980, no Modena, quando viajou para a Europa com sua filha Pilar, recém-nascida.
Três dos cinco filhos de Isabel fizeram carreira vitoriosa no vôlei de praia. Pedro Solberg, que disputou as Olimpíadas da Rio 2016 e ficou em nono lugar, Maria Clara Solberg e Carol Solberg. Carol está entre as melhores do mundo atualmente. Além deles, Isabel deixa Pilar e Alison, filho que adotou em 2015.
Uma das cenas mais icônicas da carreira de Isabel aconteceu em 1982, em um torneio amistoso da seleção brasileira no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. O jogo era contra o Japão, tinha mais de 20 mil pessoas na arquibancada. O público estava sendo hostil com as japonesas, que venciam o jogo. Isabel, então com 22 anos, pediu o microfone oficial do evento e fez um discurso forte, dizendo que se os torcedores não parassem de xingar as asiáticas, não teria mais jogo. A partida seguiu, o Brasil foi derrotado, mas o público se comportou.
Inquietude e liderança
Isabel aprendeu desde cedo a se opor contra o que considerava errado, injusto, acintoso. “Eu vinha de uma família onde as mulheres tinham voz. Meu pai tinha enorme respeito pela minha mãe. Lá em casa, nunca precisávamos falar alto para sermos ouvidas, a argumentação sempre foi o norte.”