Professora chegou a excluir alunos que votaram em Lula da pós-graduação: "Ou estão comigo ou contra mim". Após ter o emprego ameaçado, ela divulgou um pedido de desculpas
A professora bolsonarista que recusou orientar alunos eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou as redes sociais para se desculpar. A docente, identificada como Sheylla Susan de Almeida, disse que se “excedeu nas palavras”.
“De início, cabe esclarecer que sou ser humano como qualquer outra pessoa capaz reproduzir sentimentos instantâneos. Dessa forma, no calor das eleições, acabei me excedendo nas palavras onde disse para dois alunos que procurassem outro Orientador. No entanto, minha missão como professora não acolhe esse tipo de conduta, posto que dediquei a minha vida pela educação”, diz o texto compartilhado no Facebook.
“Assim, assumo que me excedi nas palavras e peço desculpas pelo ocorrido, as eleições passam e a educação fica! Peço desculpas aos meus Alunos Líbio e Débora, à sociedade, bem como à Unifap”, disse Sheylla Susan de Almeida.
A professora deixou de orientar alunos de doutorado em Farmácia na Universidade Federal do Amapá (Unifap) após saber que eles não apoiavam o presidente Jair Bolsonaro (PL), que perdeu a eleição para Lula. O comunicado unilateral foi feito aos doutorandos através de um grupo de WhatsApp.
Nas mensagens, a professora diz que “não quer esquerdistas no laboratório” de Farmácia. A professora direcionou a mensagem a dois alunos, mas pediu que sua posição fosse compartilhada com outros estudantes que fossem petistas.
“Procurem outro professor para orientar vocês. Amanhã estarei entregando a carta de desistência da orientação de vocês. Não quero esquerdistas no laboratório. Portanto, sigam a vida de vocês, e que Deus os abençoe”, escreveu a docente.
Lula derrotou o atual presidente, Jair Bolsonaro, e está eleito pela terceira vez. O petista teve numericamente a maior votação da história – o recorde anterior era dele mesmo, em 2006, com 58.295.042 votos.
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Esta é a quinta eleição do PT para a chefia do país – sempre em segundo turno – e a primeira vez que um presidente no exercício do mandato perde a reeleição. A apuração do 2º turno da Eleição 2022 começou às 17 horas, após o fechamento das urnas em todo o Brasil.
Aluna diz que professora é “declaradamente negacionista”
Uma das alunas dispensadas foi Débora Arraes, de 35 anos. Ela também é professora da Universidade do Estado do Amapá (UEAP), e realiza pesquisa de doutorado na Unifap.
Ela afirma que a orientadora é “declaradamente negacionista” mas que, até então, “nunca havia demonstrado comportamento semelhante” com seus alunos.
“Fui informada de que eu estava sendo desligada pelo fato de eu ter votado no Lula. Ela nunca havia demonstrado posicionamento semelhante por questões políticas. Nas redes sociais, ela é declaradamente negacionista, mas eu, como aluna e também professora, entendo que são posições que não deveriam ser consideradas numa relação entre orientador e orientando”, comentou Débora.
A aluna acredita que a professora tenha tomado a medida após ver suas publicações de apoio a Lula nas redes sociais.
“Fiz algumas postagens nas minhas redes sociais, não compartilhei no grupo nem com ela, mas mesmo assim, acredito que em razão dessa foto postada por mim, a professora tomou esse posicionamento”, afirma a discente.
Bolsonarista, professora recebeu bolsa nos governos do PT
Nas redes, a professora ataca as universidades nos governos do PT, mas no currículo Lattes, informa que recebeu bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para cursar o doutorado, entre 2003 a 2008, na UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva. Ela está na Unifap desde 2011.
Com Mariana Durães, Uol
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