ELEIÇÕES 2022

Relatório do Ministério da Defesa vai testar reações dos tios do Zap

Share

Enquanto Bolsonaro permanece em silêncio, o relatório pode ser a segunda etapa da tentativa de golpe depois da eleição, após as ações nas estradas e na frente dos quartéis. Os tios e tias do zap e os financiadores da turma lerão o relatório como bem entenderem

Forças armadas

Moisés Mendes*, em seu blog

Os militares não tiveram pressa na apresentação do relatório sobre as urnas e a apuração, que somente será entregue nesta quarta-feira (9) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A capacidade de mobilização dos arruaceiros das estradas e dos tios do zap acampados diante dos quartéis pode ter calibrado o tempo para divulgação do documento.

Se as ações golpistas tivessem se disseminado, certamente o relatório viria com toda força. Como o movimento se esvai e vira apenas memes, os militares terão de cumprir carnê.

Fique por dentro:
OAB entrega relatório sobre as urnas e diz que eleições foram justas e limpas
Auditoria do TCU não encontra fraudes nas urnas e confirma eleições limpas

Vem aí um relatório de acordo com o clima, mas não com as melhores expectativas golpistas. O Exército não pode dizer que não viu nada de defeito na eleição, depois de levantar sérias dúvidas sobre o sistema.

Mas também não pode chutar a barraca, porque não está com essa bola toda. O que se anuncia é que as Forças Armadas largarão a bomba no colo do Ministério Público, para que investigue os defeitos encontrados. Hoje saberemos quais são esses defeitos.

Jair Bolsonaro (PL) só fica observando. O relatório pode ser a segunda etapa da tentativa de golpe depois da eleição, após as ações nas estradas e na frente dos quartéis.

Os tios e tias do zap, os caminhoneiros e os financiadores das turbas lerão o relatório como bem entenderem. Imaginem a situação que pode se criar com a leitura coletiva da interpretação do documento.

Teremos reações diversas, como as provocadas pelas duas falas frouxas de Bolsonaro depois da eleição, com a recomendação para que os caminhões saíssem das estradas, mas meio que autorizando os atos dos tios e das tias no entorno dos quartéis.

O ruim para a imagem do Exército é que o relatório será entregue 10 dias depois da eleição.

O TSE faz a apuração de uma eleição nacional em poucas horas e anuncia o resultado no mesmo dia. Sempre foi assim.

Mas o Exército, que pretende interferir no sistema eleitoral mais ágil e seguro do mundo, leva 10 dias para dizer se está tudo bem.

Dez dias para escrever um relatório. Se fosse a resposta dos militares numa situação de guerra, diante de uma ameaça real, a guerra já teria sido perdida.

Se a eleição fosse, como dizem nos acampamentos diante dos quartéis, um plano para a invasão comunista, o Brasil já teria sido ocupado enquanto eles fazem o relatório.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim)

→ SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI… considere ajudar o Pragmatismo a continuar com o trabalho que realiza há 13 anos, alcançando milhões de pessoas. O nosso jornalismo sempre incomodou muita gente, mas as tentativas de silenciamento se tornaram maiores a partir da chegada de Jair Bolsonaro ao poder. Por isso, nunca fez tanto sentido pedir o seu apoio. Qualquer contribuição é importante e ajuda a manter a equipe, a estrutura e a liberdade de expressão. Clique aqui e apoie!