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ELEIÇÕES 2022 09/Nov/2022 às 22:11 COMENTÁRIOS
ELEIÇÕES 2022

Relatório dos militares não aponta fraude na eleição, mas estimula golpistas

Publicado em 09 Nov, 2022 às 22h11

Relatório dos militares não apontou a ocorrência de fraudes nas eleições. Isso bastaria para enfraquecer o discurso de bolsonaristas que pedem golpe, mas eles vão ler o que querem ler. O relatório entrega um chinelo velho para um pé cansado, ou seja, ao tratar de "riscos hipotéticos" anima os golpistas em sua jornada psicodélica pela realidade paralela

Relatório militares não aponta fraude eleição estimula golpistas
(Imagem: Bruna Prado | AP)

Leonardo Sakamoto*, em seu blog

Um aguardado relatório das Forças Armadas sobre a fiscalização das urnas eletrônicas e do sistema de votação, divulgado nesta quarta (9), não apontou a ocorrência de fraudes nas eleições. Isso bastaria para enfraquecer o discurso dos bolsonaristas que estão nas ruas pedindo golpe militar por não reconhecerem os resultados. Mas, infelizmente, eles vão ler o que querem ler. E o relatório garante elementos para ser instrumentalizado nesse sentido pelo presidente.

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“Conclui-se que a verificação da correção da contabilização dos votos, por meio da comparação dos Boletins de Urna (BU) impressos com os dados disponibilizados pelo TSE, ocorreu sem apresentar inconformidade”, afirma o relatório em sua página 24, pouco antes de listar um resumo das “oportunidades de melhoria”.

No ofício com o qual encaminhou o relatório das Forças Armadas ao Tribunal Superior Eleitoral, o ministro da Defesa Paulo Sérgio de Oliveira tentou dar uma “apimentada” na história. Destacou que “foi observado que a ocorrência de acesso à rede, durante a compilação do código-fonte e consequente geração dos programas, pode configurar relevante risco à segurança do processo”.

E que a partir dos testes de funcionalidade, realizados por meio do Teste de Integridade e do Projeto-Piloto com Biometria, “não é possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento”.

Percebam o uso do verbo “poder”. Apesar de não ter fatos que corroborem sua hipótese, ele trabalha com hipótese para criar fatos. Algo que não provou ser falso não é necessariamente verdadeiro, da mesma forma algo que “pode” acontecer não aconteceu necessariamente de fato.

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Mas isso é suficiente para ajudas a estimular o naco golpista da militância bolsonarista, que vai abraçar a existência da hipótese levantada pelo relatório como um fato consumado.

A falta de elementos que apontem fraude foi imediatamente percebida pelo presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, que emitiu nota recebendo com “satisfação” o relatório final que “não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”. Completou, afirmando que as sugestões eles verão depois.

A fiscalização das urnas eletrônica e do sistema de votação não é atribuição das Forças Armadas, mesmo assim foi isso o que elas fizeram a pedido de Jair Bolsonaro. Com uma fronteira que é mais porosa que um queijo suíço, e onde nossa soberania é aviltada diariamente, surpreende que o setor de inteligência dos militares tenha tempo e recursos sobrando para lidar com algo que não é de sua competência. E que, como podemos ver, funcionou normalmente.

Que o próximo governo garanta que as Forças Armadas não precisem se submeter a esse tipo de humilhação.

*Leonardo Moretti Sakamoto é um premiado jornalista brasileiro. Além da graduação em jornalismo, possui mestrado e doutorado em ciência política pela Universidade de São Paulo.

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