Audi Roberto Rodrigues*
Ao contrário do que se pensa, o fascismo não pode ser entendido apenas como um fenômeno político-ideológico do século passado. Suas bases teóricas e imagéticas estão presentes como nunca em nossa sociedade contemporânea e a tentativa de compreender tal ideologia ultrapassa o campo da história e das ciências políticas. Perpassando dessa maneira, até campos do saber que muitas vezes nós historiadores não estamos habituados, como é o caso da psicanalise.
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Nesse sentido, ao decorrer do texto procurarei estabelecer uma relação entre a ideologia fascista e suas faces que beiram e se interligam com a perversidade. Esclarecendo que, nessa exposição estarão conclusões que ainda não chegaram em seu estado final, tendo em vista que, minha pesquisa se encontra em construção. Ficando para outra oportunidade demonstrar de forma mais detalhada a intima relação desses dois conceitos
Posto isto, o fascismo nas palavras do historiador italiano Emilio Gentile (2002), seria uma tentativa de estabelecer uma realidade totalizante, unitária, eliminando-se qualquer diferença, resto ou sobra que atrapalhe a realização dessa experiência. É por essa razão que o fascismo é apontado com frequência como um movimento que não admite a diferença e o resto, pois esse diferente é justamente o que impede que a sociedade consiga chegar em seu estágio mais avançado de desenvolvimento humano.
Ou seja, é a tentativa da construção de uma sociedade binaria (bons x maus, direita x esquerda. Nós x eles) voltada justamente em excluir e em último estágio eliminar todos aqueles que não se enquadram nessa visão de mundo fascista. Como aconteceu na Alemanha Nazista dos anos 1930 e 40 e na Itália de Benito Mussolini. Em suma, o fascismo é uma tentativa de negar a existência do outro/diferente através de uma imagem totalizante da sociedade.
Mas como isso tudo se assemelha a perversidade?
Ora, a própria recusa em admitir o resto em suas diferenças e singularidades seria uma forma de definir perversão. Como por exemplo: diante da diferença sexual, o perverso é tomado de horror e medo, fazendo o impossível para elimina-lo. Esclarecendo que, não se resume apenas ao campo sexual. Para os teóricos, essa relação de desprezo pelo objeto, é também uma tentativa de buscar uma totalização subjetiva. Assim, o perverso seria incapaz de tratar os outros como outros, considerando-os apenas como um meio para atingir um fim autoritário e opressor.
Existindo assim, um movimento de repelir no outro e no próprio sujeito, tudo que emperra e dificulta a construção dessa sociedade que não tolera o diferente. É isso que nos possibilita dizer que há, na perversão, uma recusa e tentativa de eliminar o resto e, nesse sentido, poderíamos afirmar que fascismo e perversão caminham juntos.
*Audi Roberto Rodrigues é graduando em história pela Universidade estadual da Paraíba. Pesquisador do Núcleo de história e linguagem contemporânea.
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