Jair Bolsonaro

Terrorismo doméstico é mais um triste legado de Bolsonaro ao Brasil

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A imprensa relutou em classificar os atos violentos ocorridos no dia 12, em Brasília, como terrorismo. Também não consideraram como terrorismo numerosos ataques a tiros praticados por bolsonaristas durante a campanha contra residências que exibiam bandeiras de Lula. Agora, diante do mais novo episódio, ninguém mais pode ter dúvida: a seita bolsonarista legou ao país a praga do terrorismo doméstico

Imagem: Polícia Civil do DF

Chico Alves*, em seu blog

Alguns estudiosos de segurança pública e a imprensa relutaram em classificar os atos violentos ocorridos no dia 12, em Brasília, como terrorismo. O termo foi evitado mesmo diante da constatação de que, entre outras ações criminosas, os “manifestantes” bolsonaristas roubaram botijões de gás e os colocaram enfileirados na rua para causar grande explosão (felizmente, estavam vazios).

Também não consideraram como terrorismo numerosos ataques a tiros praticados durante a campanha eleitoral por simpatizantes de Jair Bolsonaro contra residências que exibiam bandeiras com imagem do candidato do PT ou ameaças que levaram Luiz Inácio Lula da Silva a usar colete a prova de balas em alguns comícios.

Agora, diante do episódio em que um artefato explosivo foi encontrado próximo ao Aeroporto de Brasília, ninguém mais pode ter dúvida: a seita bolsonarista legou ao país a praga do terrorismo doméstico.

“Se esse material adentrasse o Aeroporto de Brasília, próximo a um avião com 200 pessoas, seria uma tragédia aqui dentro de Brasília, jamais vista”, avaliou Robson Cândido, diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

Segundo a polícia, o atentado foi planejado por um empresário paraense que estava acampado em frente ao QG do Exército, em Brasília, junto com outros falsos patriotas que contestam o resultado legítimo da eleição presidencial. O homem, que tem registro de Caçador, Atirador e Colecionador (CAC), foi preso e na sua casa havia um arsenal de armas e munições – todas irregulares.

“Ele confessou que tinha intenção de cometer um crime no aeroporto, com objetivo de chamar atenção para o movimento a favor do atual presidente Jair Bolsonaro, que eles estão empenhados no QG”, disse o diretor-geral da PCDF.

Saiba mais: Terrorista preso em Brasília diz que foi encorajado por falas de Bolsonaro

Se isso não é ação terrorista, nada mais será.

Mais uma vez, o bolsonarismo copia o pior dos Estados Unidos. Desde a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, em Washington, empreendida por militantes trumpistas que não aceitaram a eleição do democrata John Biden, as autoridades americanas passaram a ficar alertas contra o terrorismo doméstico.

Há oito meses, a Câmara dos Deputados de lá aprovou uma lei que reforça os dispositivos de combate a esse tipo de crime. Mesmo assim, os casos aumentaram, a ponto de serem considerados pelas autoridades americanas como o maior problema de segurança do país.

Tudo a ver com o bolsonarismo, que, como o trumpismo, tem entre seus gurus o criminoso Steve Bannon.

Baseado desde o início no discurso de ódio, o projeto político de Bolsonaro, gestado por muitos militares da reserva e da ativa das Forças Armadas, enxerga o adversário político como um inimigo a ser exterminado. A desumanização do oponente, a produção em larga escala de mentiras que levam pessoas desinformadas a temer a falsa ameaça do comunismo ou de uma tal “ideologia de gênero”, o culto às armas e a liberação das restrições à posse e porte, tudo isso trouxe o país ao estágio em que está hoje.

Que os militares, políticos, jornalistas, empresários e demais cidadãos que apoiam essa escalada de insanidade tenham a consciência de que são cúmplices de um movimento que não alcançará o objetivo de derrotar a democracia, mas, se continuar como vai, pode até mesmo custar a vida de alguns brasileiros.

Aos que estão do outro lado, e à imprensa em especial, é bom lembrar o quanto é saudável dar às coisas os nomes que mais se aproximem da realidade – é assim que os problemas começam a ser resolvidos.

O homem preso pela polícia do DF é um terrorista de extrema-direita.

O que ele praticou, mesmo sem sucesso, foi um ato de terrorismo doméstico.

Assim deve ser tratada essa derivação do bolsonarismo, movimento conhecido por evocar Deus, pátria e família, mas que por pouco não causou uma tragédia com muitas mortes na véspera do Natal.

Estranho tipo de cristão patriota, esse.

*Chico Alves é jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro ‘Paraíso Armado’, sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho.

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