Interlocutores afirmam que Lula jamais se esqueceu do dia em que foi impedido de se despedir do irmão Vavá. Na última semana, Toffoli se aproximou do presidente eleito e pediu desculpas a ele: "O senhor tinha direito de ir ao velório. Me sinto mal com aquela decisão, e queria dormir nesta noite com o seu perdão"
Pessoas próximas ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmam que ele guarda profunda mágoa do dia em que foi impedido de se despedir de Vavá, um dos seus irmãos mais próximos, falecido em janeiro de 2019, vítima de câncer. Na época, Lula estava preso injustamente por uma decisão parcial do ex-juiz Sergio Moro.
Naquela tarde, a defesa de Lula pediu autorização à Justiça para acompanhar o velório e enterro de Vavá, que aconteceria em São Bernardo do Campo.
No pedido, os advogados se amparam no artigo 120 do Código de Execução Penal, que diz que uma das possibilidades em que condenados em regime fechado possam obter permissão para sair da prisão é o “falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão”.
Essa, inclusive, tinha sido a justificativa da justiça do Paraná para negar, dias antes, que Lula fosse ao velório de Sigmaringa Seixas, advogado e ex-deputado pelo Partido dos Trabalhadores, que faleceu em dezembro dezembro de 2018.
Ao recusar o pedido para o velório de Sigmaringa Seixas, a Justiça do Paraná argumentou que a lei permite que presos condenados a cumprir pena regime fechado somente podem sair da cadeia em caso de morte ou doença grave de “cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão”.
No caso de Vavá, a Justiça do Paraná voltou a negar o pedido, ignorando a justificativa anterior. A Polícia Federal também se manifestou contra e o caso foi parar no STF.
Toffoli então concedeu o direito de Lula se encontrar com a família em uma unidade militar em São Paulo, com a possibilidade de o corpo de Vavá ser levado até ele. A decisão soou macabra e humilhante.
Lula, evidentemente, recusou. E nunca se esqueceu do episódio. Desde que passou a frequentar cerimônias oficiais como presidente eleito, o petista inclusive evitava uma maior aproximação com Toffoli.
Na cerimônia de diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na semana passada, no entanto, o ministro do Supremo se aproximou do futuro presidente. E pediu desculpas a ele. “O senhor tinha direito de ir ao velório”, disse Toffoli. “Me sinto mal com aquela decisão, e queria dormir nesta noite com o seu perdão”.
Lula bateu na mão de Toffoli e disse para ele ficar tranquilo que depois os dois poderiam conversar melhor.