Aldo Rebelo critica a politização das Forças Armadas na gestão Bolsonaro. "Ele destituiu o comandante da Marinha, do Exército e da Aeronáutica sem nenhuma causa evidente". Rebelo cita a urgência de pacificar o país: "Governar um País dividido é difícil, mas resolver os problemas com o País dividido eu diria que é impossível"
Filipe Farias, JC
Após os atos terroristas no último domingo (8), em Brasília, a relação entre o poder executivo e as Forças Armadas do Brasil (FAB) deu uma estremecida. Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, Aldo Rebelo, ex-ministro da Defesa no governo de Dilma Rousseff, apontou que há uma insegurança entre esses dois poderes, além de acreditar que houve uma politização nas ações dos militares.
“É claro que houve um esforço de politização das Forças Armadas. E houve momentos que isso ficou evidente, quando, por exemplo, Bolsonaro destituiu os três comandantes das Forças Armadas. Demitiu o comandante da Marinha, do Exército, da Aeronáutica, além de demitir o ministro da Defesa. Todos sem nenhuma causa aparente ou evidente. Você até pode demitir um comandante se ele cometer um erro grave na gestão, na sua atividade. Ou, se no seu comando, agir com desobediência, indisciplina e quebra de hierarquia, mas nada disso foi apontado na época. Então, por que foram destituídos?“, questionou Aldo Rebelo.
O ex-ministro da Defesa prosseguiu o raciocínio. “Eu tenho uma hipótese: há um limite entre a obediência ao comandante e ex-chefe das Forças Armadas, que é o presidente da República (Bolsonaro), e a obediência à Constituição. Os militares têm essa dupla subordinação. Mas, tanto o presidente, quanto os militares devem obediência à Constituição. Quando há esse limite de conflito, o que tem de prevalecer é a Constituição”, explicou.
Para Rebelo, existe uma desconfiança numa via de mão dupla entre Luiz Inácio Lula da Silva e os comandantes das Forças Armadas, o que pode ser extremamente prejudicial para o Brasil. “As causas que ocorreram em Brasília são muito graves. Independentemente dos personagens, o que há é uma insegurança entre os dois poderes nacionais, que são essenciais e fundamentais para um País: a presidência da República, que é o presidente e as demais instituições que cercam o executivo, e as Forças Armadas. O poder executivo tem insegurança em relação as Forças Armadas, e elas têm insegurança em relação à presidência da República. E, em algumas circunstâncias e momentos, tomam uma proporção de desconfiança“, pontuou o ex-ministro da Defesa.
“Se tem essa insegurança entre duas instituições essenciais, uma em relação a outra, o poder nacional fica fragilizado. Não só para exercício de suas funções internas, como também para posicionar o Brasil na geopolítica mundial. O País fica dividido e fragilizado“, apontou Rebelo.
Pacificação do Brasil
Diante da divisão que existe no País, Aldo Rebelo acredita que é necessário uma pacificação do Brasil, mas que o atual ministro da Defesa não conseguirá sozinho. “A pacificação não pode ser apenas de responsabilidade de José Múcio, mas também do governo, do presidente Lula. O governo não pode ser parte do problema do País, mas ser parte da solução“, declarou Rebelo.
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A solução, para o ex-ministro da Defesa, passaria por duas posições antagônicas, mas que a combinação seria efetiva a médio prazo. “O presidente e o seu governo têm de combinar duas ações aparentemente contraditórias: a punição exemplar dos atores responsáveis pelos crimes ocorridos em Brasília, porque a punição exemplar tem efeito educativo, que aquilo não deve repetir, pois é um erro; mas, ao lado da punição dos criminosos, também precisa acenar para o processo de pacificação do Brasil, pois governar um País dividido é difícil, mas resolver os problemas com o País dividido eu diria que é impossível”, frisou Aldo Rebelo.
Manutenção de José Múcio
Como já ocupou o cargo de ministro da Defesa e sabe as dificuldades de estar à frente da pasta, Aldo Rebelo defende a permanência do ministro José Múcio. “Ele é um homem de confiança de Lula, das Forças Armadas, tem vocação para a mediação e moderação, mas o momento não foi favorável ao estilo dele. Ele foi traído pelos acontecimentos, porque os acampamentos já estavam se esvaziando, mas tudo foi anulado com a violência e depredações dos atos em Brasília, acabando por atingir o ministro José Múcio“, defendeu Aldo.
“Ele é preparado, foi líder do governo do presidente Lula, responsável pelo ministério da coordenação política de Lula, foi indicado para integrar o Tribunal de Contas da União, onde chegou à presidência. Então, é alguém da confiança do governo e que também tem a confiança das Forças Armadas“, ponderou Aldo Rebelo.
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