Ao demitir metade da equipe, a mais famosa influenciadora digital de finanças do Brasil seguiu o mesmo caminho que já estava sendo adotado por outros colegas do setor
Influenciadores famosos que ensinam a enriquecer estão enfrentando uma crise financeira e já demitiram dezenas de funcionários. Nos últimos anos, o número de investidores na Bolsa de Valores deu um salto no Brasil, chegando a 5,3 milhões pessoas.
De carona no interesse dos brasileiros pelo mundo das finanças, muitos influenciadores digitais criaram negócios que nasceram no YouTube e, hoje, empregam centenas de pessoas. Mas a crise parece ter batido à porta dessas empresas depois do crescimento acelerado.
Na sexta-feira, 27, a ‘Me Poupe!’, da jornalista Nathalia Arcuri, demitiu de uma só vez cerca de 70 pessoas, o que representa metade dos 140 funcionários declarados no fim do ano passado. Falando sobre temas que vão de opções de investimento em renda fixa a operações com ações, o Me Poupe! tem mais de 7 milhões de inscritos no YouTube.
Não foi a primeira empresa liderada por um influenciador que foi forçada a demitir. Com cerca de 6 milhões de seguidores, o Grupo Primo, de Thiago Nigro (Primo Rico) e Bruno Perini, mantém hoje 190 empregados, de acordo dados do LinkedIn – mas já foram mais de 270.
Em nota, a Me Poupe! informou que as demissões foram reflexo da necessidade de uma reestruturação de funções de funcionários e que a companhia mudará o seu modelo de negócios – que ainda é desconhecido. “Esse movimento exige outras formações e competências técnicas do time, o que motivou a difícil decisão de realizar os desligamentos mencionados”, informou a empresa.
Repercussão
A internet reagiu às demissões dos funcionários dos ‘experts’ das finanças. “Será que faltou planejamento financeiro?”, ironizou um usuário. “Não se esforçaram o suficiente”, escreveu outro, referindo-se a um famoso clichê adotado pelos militantes da ‘meritocracia’.
“A pessoa fica rica vendendo curso que ensina como ficar rico. Se pararem de comprar os cursos ou de assistirem aos vídeos, ela deixa de ser rica. Esse é o capitalismo brasileiro”, postou mais uma. “A verdade é que são vendedores de ilusões”, publicou outro.
“Esse é o famoso empreendedorismo da ilusão, que vende falsas expectativas em um mundo tomado por um estado de natureza hobbesiano produzido pelo mercado e pelo individualismo insano dos abutres da ganância”, observou mais um.
“Ué, ‘ensinam a enriquecer’ e não aguentam as dedadas da tal ‘mão invisível’ do mercado e nem seus métodos fajutos? O que seria dos espertos se não houvesse tanto idiotas para acreditarem neles?”, questionou outro.
Além de “ensinar” sobre como ganhar dinheiro e como gerenciar sua vida financeira corretamente, os influenciadores têm em comum o sucesso de audiência baseado em conteúdos de interesse do brasileiro.
Com a evolução dos negócios, as empresas passaram a vender cursos sobre gestão financeira e investimentos, além de aumentar a produção de vídeos para diferentes plataformas, como Instagram e TikTok, além do YouTube.
Segundo analistas, com o aumento na taxa de juros empresas que se dedicavam mais ao mercado financeiro viram um horizonte bem menos otimista do que no passado. A Empiricus, outra empresa voltada para a publicação de conteúdo financeiro, já teve de demitir 12% de seus colaboradores, por exemplo.
O Grupo Primo também entrou para a estatística. Só em 2022, 90 pessoas perderam o emprego na companhia. Após a redução de equipe, o projeto com maior expectativa para 2022 no grupo, um canal no metaverso chamado Primoverso, foi abandonado.
com Agência Estado