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Freira é indiciada por torturar e matar idosos em casa de repouso em MG

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"Eles pediam socorro todos os dias", diz enfermeira que foi demitida após denunciar o caso. Por trás dos muros coloridos, casa de repouso em MG servia para a prática de tortura, cárcere privado, omissão de socorro, exercício ilegal da medicina, curandeirismo, falsidade ideológica e homicídio

Imagem: Fantástico

A freira Adelaide Dantas, responsável pela Instituição de Longa Permanência Vila Vicentina Padre Libério (LPI), foi indiciada pela Polícia Civil Minas Gerais após denúncias de maus-tratos e omissão de socorro. O caso ganhou repercussão neste domingo (29/1), no Fantástico.

A religiosa responderá pela morte de dez idosos, além de outros crimes que teriam sido praticados na Vila Padre Libério, localizada em Divinópolis, Minas Gerais. Imagens obtidas pela Polícia Civil do estado mostram idosos amarrados ou mesmo trancados em seus dormitórios.

Adelaide tem 55 anos e assumiu o comando da Vila em 2015, motivo pelo qual se mudou para Divinópolis. Antes, a freira passou por outras instituições de idosos: uma no sul de Minas e outra no interior de São Paulo.

Em maio de 2022 ela deixou a instituição e, desde então, a Vila Padre Libério funcionou de forma restrita sob supervisão da Vigilância Sanitária. Além da freira, indicada pela polícia como a principal personagem, foram indiciados um médico, técnicos e auxiliares de enfermagem, um advogado e outros membros da administração. No total, 15 pessoas foram imputadas pelos supostos crimes cometidos no local.

De acordo com ex-funcionários ouvidos pela Polícia Civil, castigos eram comuns na instituição. “Temos depoimentos de funcionários que relatam que eles [idosos] eram castigados. ‘Se você fizer isso, você vai ficar contido, vai para a sala que era usada como cela que tinha grades e cadeado’. Então tinha esse tipo de ameaça que ficou demonstrada nos autos pelos depoimentos dos funcionários que trabalharam na Vila”, disse a delegada Adriene Lopes, ao G1.

Uma das pessoas que denunciaram os maus-tratos é uma enfermeira que trabalhou na instituição em 2021. “Eu percebi os maus-tratos, percebi algumas agressões, né? Em alguns idosos, por causa dos gritos de socorro, de ‘Ai, me ajuda’, na sala de banho. E isso era frequente, todos os dias”, conta a mulher que pediu para não ser identificada.

A testemunha, que foi demitida depois das denúncias, registrou em fotos o horror: idosos amarrados em macas, as marcas que ficavam na pele. Ferimentos sem tratamento. Baldes que, segundo ela, serviam de banheiro. O quarto com grades e cadeado. Veja todos os detalhes na reportagem em vídeo acima.

Adelaide Dantas, ex-diretora da instituição

Anotações da enfermagem

Dezenas de pessoas foram ouvidas nesse caso. Além de pegar depoimentos, os investigadores também realizaram buscas, e encontraram anotações em cadernos. São diários com relatos de plantonistas, que descrevem a rotina do que acontecia dentro do asilo. Para a polícia, material é uma prova importante da prática dos crimes cometidos por lá.

Em uma anotação, um plantonista escreve:

“Foi trazida para a enfermaria com dificuldade para respirar, cianótica”, ou seja, com a pele azulada. “Foram feitas manobras de primeiros socorros e ela foi levada para o leito, com pressão alta e nível de oxigenação baixo, a idosa morreu horas depois.”

Outra anotação, outro idoso com saturação de oxigênio baixa. Ele acaba morrendo na madrugada seguinte.

Para a delegada que conduziu as investigações, dez idosos morreram por causa da omissão de Adelaide Dantas. Com registro profissional de enfermeira, a freira fazia também papel de médica, de acordo com as investigações.

“Ela ministrava medicação, ela aplicava, ela suspendia medicação ao bel prazer dela, não tinha acompanhamento médico”, diz a delegada.

A enfermeira que denunciou o horror faz terapia para superar o que viu.

“Eram relatos principalmente da irmã que era uma morte linda que acontecia, que era a hora deles partir, mas morria por falta de socorro mesmo, né?”, diz.

Várias irregularidades levaram ao início da investigação policial. A suspeita é de que, por trás dos muros coloridos, o local tenha servido para a prática de tortura, cárcere privado, omissão de socorro, exercício ilegal da medicina, curandeirismo, falsidade ideológica e homicídio.

Instituição comandada pela freira pertence à SSVP

A Instituição de Longa Permanência Vila Vicentina Padre Libério pertence à Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP). Trata-se de uma organização social fundada e mantida por civis “leigos”, termo que na Igreja Católica se refere aos cristãos que não integram o clero.

O Conselho Nacional do Brasil (CNB), órgão da SSVP, divulgou nota sobre o caso. Explicam ter promovido a intervenção administrativa na LPI, afastando toda diretoria e funcionários supostamente envolvidos.

“Hoje, a Vila Vicentina Padre Libério, fundada pelos vicentinos em 15/08/1944, está liberada pelo município e demais órgãos competentes para atender os idosos, como segue fazendo. (…) A Sociedade de São Vicente de Paulo confia que os culpados serão processados e punidos de acordo com a lei e reitera seu compromisso com a população, de manter seu trabalho espiritual e assistencial à pessoa em situação de vulnerabilidade social”, diz o CNB.

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