Restaurante japonês em SP tinha comida podre, ratos e escravidão. Homem era obrigado a reaproveitar comida entre os clientes, comer alimentos vencidos, conviver com ratos e não recebia salário. "Era tudo um horror. Parede mofada, bichos, 16 pessoas morando nesse pequeno espaço quadrado". Restaurante afirma que continua funcionando normalmente e que irá prestar esclarecimentos no "momento oportuno"
Um auxiliar de cozinha resgatado em situação análoga à escravidão em um restaurante japonês na Vila Formosa, Zona Leste de São Paulo (SP), contou ao Uol que era obrigado a reaproveitar comida entre os clientes, comer alimentos vencidos, conviver com ratos e ficar sem receber o salário corretamente.
“Era tudo um horror. Tudo um horror. Parede mofada, bicho, rato. Contando comigo, eram 16 pessoas morando nesse quadrado, nesse alojamento. A gente vivia largado. Eu nunca tinha passado por um absurdo desse na minha vida”, disse o profissional.
Entenda o que aconteceu
Na quinta-feira (19), após uma denúncia feita ao Ministério Público, uma operação policial foi realizada no restaurante Sushi Vila Formosa.
Na ocasião, os agentes retiraram o funcionário, de 30 anos, do local. Natural de Patos, na Paraíba, o homem – que preferiu não se identificar – vivia na capital paulista há cinco meses. Inicialmente, ele iria trabalhar em outra unidade da rede, em Pirituba, mas decidiu ir para a Vila Formosa depois que um amigo de infância comentou que precisavam de funcionários por lá.
A gerente do estabelecimento, de 39 anos, foi presa e liberada após audiência de custódia.
Comida reaproveitada
Uma das orientações do restaurante era enviar para as mesas alimentos que sobrassem de outros clientes.
“Quando ia para a mesa e voltava sem vestígio de estar mexido, se a gente fosse jogar no lixo, eles descontavam do nosso salário, brigavam com a gente, e até advertiam”, relatou o ex-funcionário.
A polícia também encontrou alimentos vencidos e em mau estado de conservação.
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Segundo o funcionário, ele e os colegas acabavam comendo produtos estragados, já que faziam muitas das refeições no restaurante.
Por medo da demissão, os empregados evitavam falar sobre os alimentos.
Sem salário
O homem conta que teve os valores da passagem para São Paulo e dos alimentos que comia descontados da remuneração. Fora isso, os pagamentos atrasavam e eram irregulares; ele sequer sabia quanto ganhava no mês.
“Se eu soubesse que era essa situação, não tinha vindo [para SP]. Era totalmente diferente. Eu soube ontem que ganhava R$ 1,4 mil, porque eles pagavam cada mês um valor. Às vezes, no dia 5 do mês, pagavam R$ 500, às vezes R$ 600 ou R$ 700. Depois, no dia 20, pagavam mais um tanto. Então não dava para saber quanto era o salário”, explicou.
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Ele trabalhava em dois períodos: de manhã até o começo da tarde e depois do fim do dia até a madrugada. Nunca recebeu horas extras ou adicional noturno.
Sem ajuda
Apesar dele e dos colegas pedirem melhorias no alojamento onde ficavam, nunca foram ouvidos. Os patrões faziam promessas que não eram cumpridas.
A situação mudou depois da operação policial. O funcionário disse que está em um hotel custeado por um dos donos e chegou a ser procurado para resolver a situação.
“Um dos donos do restaurante me ligou, falou que iria ajeitar para pagar meus direitos. Mas quando a gente foi fazer as contas, colocaram até coisas que não eram minhas, que eram de outros funcionários, para eu pagar. Então eu disse não. Vou procurar um advogado, procurar os meus direitos, e aí eu vejo isso”, contou.
O que diz o restaurante?
Em nota nas redes sociais, o estabelecimento afirma que “os fatos alegados serão, em tempo oportuno, devidamente esclarecidos no bojo do processual judicial e administrativo”. O restaurante está funcionando normalmente.
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