Vândalos atacaram prédios públicos e a democracia brasileira em 8 de janeiro (foto: Ton Molina/AFP)
Homem revela que denunciou a própria irmã por participar da tentativa de golpe de estado em Brasília no dia 8 de janeiro: “Fiz a denúncia chorando. É uma sensação muito ruim, de fracasso”. O servidor público relatou ter ficado surpreso ao receber uma chamada de vídeo da familiar naquele dia. Ela estava no saguão de um dos prédios dos Três Poderes: “Minha irmã era uma pessoa trabalhadora, correta, íntegra. Mas ela se transmutou em 4 anos de uma forma que não a reconheço mais”
(foto: Ton Molina/AFP)
Um servidor público de 41 anos denunciou a própria irmã, de 49 anos, por participação nos atos que visavam um golpe de estado para tirar Lula do poder no último dia 8 de janeiro, em Brasília (DF). As informações foram publicadas no UOL.
O homem, que preferiu não ser identificado, relatou que surpreendeu-se ao receber uma chamada de vídeo da irmã naquele dia. A mulher estava no saguão de um dos prédios dos Três Poderes, depredados por vândalos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A mulher havia viajado de uma cidade na serra do Rio Grande do Sul, onde vive, para participar do ato terrorista, contrariando os ideais da família, que se considera de esquerda e apoia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Ela disse que estava de férias e contou à família que viajou para Brasília a trabalho”, lembrou o rapaz. “Fiquei indignado”.
No dia seguinte, o homem decidiu enviar um e-mail ao Ministério da Justiça relatando a participação da irmã no episódio criminoso. “Registro minha profunda tristeza por realizar denúncia do gênero contra familiar de primeiro grau. Trata-se de minha irmã”, disse o homem, no final da mensagem.
O servidor afirma que toda a família se revoltou com a decisão da parente de integrar o grupo golpista. O homem destacou que ainda não encontrou a irmã desde o ato e que ela sequer sabe que foi denunciada por ele. “Até minha sobrinha [filha da golpista] disse estar decepcionadíssima com a atitude da própria mãe”, contou.
Mudança repentina
Como boa parte dos bolsonaristas, a irmã passou os últimos anos defendendo pautas levantadas pelo ex-presidente. Ela minimizava a pandemia e dizia que a cloroquina era a salvação contra a Covid-19. A mulher também falava que as eleições foram manipuladas para tirar Bolsonaro do poder. A verdade, porém, é que nunca na história um presidente em exercício gastou tanto dinheiro público para tentar se reeleger.
“Minha irmã era uma pessoa trabalhadora, correta, íntegra. Mas ela se transmutou em 4 anos de uma forma que não a reconheço mais. Não a reconheço como irmã. É outra pessoa: mais endurecida, radical, obtusa”, detalhou o rapaz.
O responsável pela denúncia disse não ter conseguido coletar provas, como imagens ou áudios, e teme que a denúncia possa afetar a saúde da mãe. Mesmo assim, garantiu não se arrepender da decisão.
“Mandei o e-mail de denúncia chorando. É uma sensação muito ruim, de fracasso, ver alguém do seu núcleo mais íntimo com esse perfil, travestido de um patriotismo fajuto. Sei que isso pode trazer complicações para ela, até no trabalho. Mas crime não tem desculpa e é a Justiça quem tem de decidir”
“Como tenho perfil legalista, gostaria que minha irmã fosse de fato presa e indiciada”, comentou. “Fiz minha parte e espero que as autoridades façam a parte delas.”