Polícia Civil pediu a prisão da aluna de medicina da USP que admitiu ter roubado R$ 1 milhão para benefício próprio. Ministério Público recusa pedido e devolve inquérito. Delegado que investiga o caso disse que a postura de Alicia no depoimento foi de "uma pessoa que tem certeza da impunidade, a ponto de sair sorrindo do interrogatório"
A aluna que confessou ter desviado R$ 937 mil da comissão de formatura de uma turma da Faculdade de Medicina da USP permanecerá em liberdade. O promotor de Justiça Fabiano Pavan Severiano recusou nesta terça-feira (31) o pedido de prisão preventiva feito pela Polícia contra Alicia Muller, de 25 anos.
Severiano discordou do crime atribuído pela polícia à estudante e devolveu o inquérito ao 16º Departamento de Polícia. Enquanto a delegacia considera que Alicia cometeu nove vezes o crime de apropriação indébita — com pena de um a quatro anos por cada crime —, o MP acredita que a estudante se enquadra no famoso artigo 171 do Código Penal, que consiste na prática de golpes, com pena de um a cinco anos de prisão.
“Diferentemente do que ocorre em relação à apropriação indébita, no estelionato a lei exige representação criminal dos ofendidos para oferecimento de denúncia contra a autora dos fatos”, defende o promotor.
Por esta razão, o promotor pediu que o inquérito voltasse à delegacia para “colheita de representação criminal das vítimas em desfavor” de Alicia, “para que se discrimine de forma individual o prejuízo suportado por cada uma delas”. O MPSP também emitiu parecer contrário à decretação da prisão preventiva de Alicia Dudy Muller.
O que diz a Polícia Civil
O inquérito da Polícia Civil concluiu que Alicia cometeu nove vezes o crimes de apropriação indébita em concurso material, ou seja, se apropriar do bem de outra pessoa sem o consentimento da vítima repetidas vezes.
O pedido da prisão preventiva se baseou no fato de que a polícia entendeu que, se ela continuar solta, ela poderá atrapalhar a investigação e fugir para outro estado ou país, já que “se apropriou de vultosas quantias em dinheiro”.
Segundo o 16º DP, a postura de Alicia quando foi ouvida pelos policiais foi de “uma pessoa que tem certeza da impunidade, a ponto de sair sorrindo do interrogatório.”
O que diz Alicia
A estudante confirmou que desviou os valores que seriam usados para a festa de formatura por entender que os recursos não estavam sendo bem administrados pela empresa contratada, mas fez “aplicações ruins” e acabou perdendo dinheiro.
No “desespero”, ela diz que tentou recuperar o montante fazendo apostas em uma lotérica. Ela também admitiu que usou em benefício próprio uma parte das quantias para pagar despesas pessoais, como aluguel de carro, apartamento e compra de eletrônicos. A estudante afirma ter agido sozinha.
A polícia afirma que Alicia usou cerca de R$ 500 mil em apostas na Lotofácil e ganhou 17 vezes, embolsando R$ 170 mil, mas perdendo R$ 330 mil.
A estudante também viu seus gastos com cartão de crédito dispararem de R$ 2.000 para R$ 7.000 por mês, dinheiro que serviu para comprar um iPad de R$ 6.000 e alugar um Iphone, além de outros gastos pessoais, especialmente com iFood. Ela também alugava um carro avaliado em R$ 120 mil e um flat de R$ 3.700, possivelmente mobiliado com o dinheiro desviado.
De acordo com o interrogatório, Alicia tem renda mensal de cerca de R$ 4.500. Ela admitiu à polícia que a história que contou aos colegas da comissão de que teria investido o dinheiro da formatura em um fundo e sofrido um golpe era mentira.