Vereadora da cidade de Montenegro (RS) é cassada por unanimidade após vídeo em que compara mulheres de esquerda a cadelas. Pedido de cassação considerou como agravantes agressão ter sido gravada em gabinete na Câmara e com participação de duas adolescentes. Durante o processo, vereadora chegou a se internar em uma clínica psiquiátrica em Porto Alegre
A vereadora Camila Oliveira (Republicanos) foi cassada por unanimidade (9 votos a 0) em sessão extraordinária realizada na última segunda-feira (16) pela Câmara Municipal de Montenegro (RS), município localizado na Região Metropolitana de Porto Alegre. Os vereadores consideraram que ela quebrou o decoro parlamentar ao participar de um vídeo postado nas redes sociais em que dublava uma música que compara as mulheres de esquerda a cadelas.
O vídeo foi postado em 14 de outubro de 2022 e, na semana seguinte, o PDT do município entrou com um pedido de cassação. No pedido, o partido destaca que Camila postou em suas redes sociais dois vídeos gravados em seu gabinete na Câmara de Montenegro.
Em um deles, ela e duas adolescentes dublam a paródia da música “Baile de Favela” feita pelo MC Reaça (cantor bolsonarista encontrado morto em 2019 horas após supostamente agredir uma mulher grávida com quem mantinha relacionamento extraconjugal) e exibem foto do ex-presidente Jair Bolsonaro. A letra da música dublada pela vereadora diz: “As mina de direita são as tops mais bela, enquanto as de esquerda tem mais pelo que cadela”.
No segundo vídeo, ela e as duas adolescentes dublam outra música que chama militantes do Partido dos Trabalhadores de “vagabundos”.
Na ação, o PDT argumenta que caracteriza que o primeiro vídeo “profere discurso de ódio, pejorativas, rotulando de forma grosseira, machista e preconceituosa as mulheres, num total desrespeito aos princípios democráticos e caracterizando claramente a Quebra de Decoro Parlamentar”. E considera que o segundo ofende a honra dos militantes petistas.
A ação considera ainda como agravante a participação das adolescentes e o fato das filmagens terem sido feitas em gabinete na Câmara de Montenegro. Durante o processo, Camila chegou a se internar em uma clínica psiquiátrica em Porto Alegre, o que foi considerado como uma tentativa de interromper o processo.
Após a confirmação da cassação, Camila encaminhou uma nota à imprensa em que diz ter sofrido perseguição e um golpe. “Foi uma perseguição absurda que sofri, devido a ser uma mulher, por fazer uma paródia de uma música que faz parte da cultura popular que é o funk, fui discriminada e sofri um golpe daqueles que não suportaram ver o meu trabalho. O crime de perseguição a uma mulher parlamentar que não usurpou dos recursos públicos, que se doou para a sociedade montenegrina e o os colegas não suportaram ver o quanto a população estava satisfeita com minha dedicação”.
Em repúdio aos vídeos publicados por Camila, foi criado o Movimento Força Feminina Montenegro, de caráter suprapartidário. Nesta quarta (18), o movimento divulgou uma nota sobre a cassação da vereadora.
“No caso em questão, o que, de fato, levou a cassação da vereadora foi a quebra de decoro, já citada anteriormente. Qualquer outra narrativa que pretenda justificar ou colocar outros fatos em questão, não passa de tentativa de desviar o foco do processo. Desde então, temos construído nossas pautas em defesa das mulheres, tendo a participação de representantes dos mais diversos partidos, tendo como premissa a defesa e o respeito pela diversidade. Não compactuamos com atos misóginos, machistas, sexistas e qualquer atitude ou ação que nos diminua enquanto mulheres”, diz a nota do movimento.
O suplente de Camila, Cristian Souza, foi empossado no cargo de vereador de Montenegro após a confirmação da cassação.