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Após tentar suicídio na prisão, piloto que levou Gegê do Mangue para emboscada é morto em Goiás

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Morre piloto de helicóptero que levou dois chefões do PCC para emboscada na qual foram assassinados em 2018. Felipe Ramos havia tentado suicídio na prisão antes de conseguir acordo de delação premiada e ganhar liberdade; ele andava com escolta da Polícia Federal

Felipe Ramos Morais

informações de Josmar Jozino, em seu blog

A Polícia Militar de Goiás informou que o piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, 36, foi morto hoje em Abadia de Goiás durante confronto entre policias e traficantes de drogas. Felipe foi o piloto que levou Gegê do Mangue e Paca, duas lideranças do PCC (Primeiro Comando da Capital), para uma emboscada na qual foram assassinados em 2018.

Segundo a PM, uma grande quantidade de agentes foi deslocada até uma área rural após denúncias anônimas. Foram apreendidos três helicópteros que seriam usados para o tráfico de armas. A polícia disse ainda ter encontrado 5 kg de cocaína. A polícia não forneceu mais detalhes sobre como Felipe Ramos Morais morreu.

Desde que saiu pela porta da frente da Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), no dia 16 de abril de 2021, Morais, autor de delação premiada envolvendo a cúpula do PCC, andava sob escolta de policiais federais.

Entenda o caso

Foi Felipe Ramos Morais quem levou para a morte os chefões do PCC Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, assassinados a tiros em 15 de fevereiro de 2018 na aldeia indígena de Aquiraz, em Fortaleza, no Ceará.

A bordo da aeronave também estava Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, um narcotraficante da Baixada Santista. Ele era o dono do helicóptero e morreu uma semana após o duplo homicídio no Ceará. Cabelo Duro foi assassinado com tiros de fuzil no Tatuapé, zona leste de São Paulo.

No dia 5 de maio de 2021, Morais disse em entrevista: “Eu não posso negar. Tenho muito medo de morrer”. Depois das delações dele, a Polícia Federal desarticulou o maior braço financeiro do PCC, prendeu dezenas de pessoas e bloqueou R$ 1 bilhão em bens e em contas bancárias.

Morais também afirmou que nunca trabalhou para o PCC nem era integrante da facção criminosa. Declarou que prestava serviços para Cabelo Duro e foi contratado por ele para fazer um voo no Ceará e transportar duas pessoas que não conhecia.

Morais se entregou à polícia de Goiás alguns dias após o duplo assassinato e depois disso resolveu fazer delação premiada. Ele acabou solto por determinação da Justiça do Ceará.

Por causa das deleções feitas à Polícia Federal, Morais era considerado um dos maiores inimigos do PCC. Os agentes cansaram de orientá-lo a ter cautela. O piloto, no entanto, chegou inclusive a ser personagem de um documentário sobre a facção criminosa.

Tentativa de suicídio

Em 2020, um anos antes do acordo de delação premiada, Felipe Ramos Morais tentou cometer suicídio na prisão. O piloto quis tirar a própria vida porque autoridades judiciais haviam garantido a ele o acordo de delação, mas depois voltaram atrás. O acordo, como se sabe, acabou acontecendo no ano seguinte.

Segundo disse à época Mariza Almeida Ramos Morais, defensora do piloto e mãe dele, “as autoridades se mostraram amadoras e extremamente despreparadas. Foi uma verdadeira cilada para Felipe. Depois de tudo assinado, gravado e filmado em vídeo sumiram com o acordo sem levar à homologação”.

Na ocasião, Felipe foi incluído no protocolo de atendimento e acompanhamento para casos de risco ou tentativa de suicídio e recebeu assistência psicológica.

Quem foi Gegê do Mangue

Gegê do Mangue era considerado o chefão número 1 do PCC em liberdade. Na hierarquia da facção, ficava atrás apenas de Marcola, que está preso. A emboscada que acabou com a sua vida teria sido autorizada pelo próprio Marcola, de dentro do presídio.

Gegê foi penalizado pela própria facção por não cumprir o que prometeu e desviar dinheiro do grupo. As informações são de um relatório sigiloso do Núcleo Regional de Inteligência e Segurança Penitenciária da Croeste (Coordenadoria das Unidades Prisionais da Região Oeste do Estado de São Paulo)

Segundo o relatório, em 1º de fevereiro de 2017, ao deixar a prisão, Gegê do Mangue prometeu resgatar Marcola, que estava detido na penitenciária dois de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.

“Gegê passou a ser a principal liderança da facção em liberdade, assumindo o controle de todas as atividades criminosas do grupo. Teria prometido, no momento de sua liberdade, que iria resgatar Marcola, com quem possuía uma imensa dívida de gratidão. Teria dito que Marcola não precisava fazer nada relacionado ao plano, pois toda a execução seria feita por ele. Porém, não o fez, e aproveitando-se do fato de ser a principal liderança em liberdade, voltou todos os seus esforços para o tráfico de drogas para enriquecimento próprio, porém, utilizando a estrutura da facção”, aponta o relatório.

Ainda de acordo com o documento, “após ficar um ano em liberdade e nada fazer em prol da facção, nem tampouco organizar a ação de resgate, Gegê foi assassinado a mando de Gilberto Aparecido dos Santos, vulgo Fuminho, um dos maiores traficantes de drogas brasileiro e amigo de infância de Marcola. Fuminho teria percebido que Gegê não tinha interesse algum na liberdade de Marcola, pois, uma vez resgatado, Gegê passaria a ser um coadjuvante na facção e Marcola descobriria as diversas irregularidades praticadas por ele”, indica a investigação.

Com um único tiro no rosto, Gegê do Mangue foi assassinado ao lado de seu comparsa Fabiano Alves de Souza, o Paca, 38, em 15 de fevereiro de 2018. O duplo homicídio gerou uma guerra interna na maior facção criminosa do país, cujos efeitos se fazem sentir até hoje. Responsável por executar o plano organizado por Fuminho, o traficante Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, foi morto a tiros uma semana depois do crime, a tiros de metralhadora, em São Paulo.