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“Ele é medroso e sequer saía para a rua”, diz mãe de adolescente nazista que atacou escola

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Mãe de adolescente que tentou explodir escola em SP diz que o filho começou a se isolar no quarto aos 10 anos de idade: "Ele é medroso. Tem medo de tudo. Não saía para a rua por nada nesse mundo, de tanto medo que ele tinha [...] Ele não é mau, foi tudo influência da internet". Polícia encontrou diário com anotações nazistas

Redação

A mãe do adolescente de 17 anos que foi apreendido após tentar atacar duas escolas em Monte Mor (SP) fez um desabafo e pediu ajuda para que ‘salvem’ o seu filho. O jovem vestia preto no momento do atentado e usava uma braçadeira com uma suástica nazista.

“Eu achei que meu filho estava no banheiro, porque eu ouvi a porta fechar e fiquei tranquila. Daqui a pouco, ouvi o barulho do carro, saí correndo. Falei: ‘para’. No que eu gritei para ele parar, ele já saiu arrancando o carro com tudo. Coisa que ele nunca fez, porque ele não conseguia tirar o carro da garagem”, afirma.

Segundo ela, o adolescente passou dois dias trancado no quarto antes do ataque e tinha mencionado que queria comprar gasolina para fazer um vídeo para o YouTube. Ela não acreditou que ele conseguiria acesso ao material, porque ele supostamente teria medo de sair da própria residência.

“Ele é medroso. Tem medo de tudo. Não saía para a rua para nada, de tanto medo que ele tinha. Nós até demos um cachorro para ele, para ver se ele conseguia sair de casa, porque ele queria um cachorro para se proteger”, afirma.

A mãe também contou que nunca teve conhecimento do significado do símbolo da suástica e disse que o adolescente alegava fazer coleção de imagens.

“Eu não conhecia essas coisas. Na minha cabeça, nem passava isso. Depois, fiquei sabendo que outras pessoas que têm esse símbolo aí são procuradas”.

A mulher contou que o adolescente já estudou na unidade de ensino atacada, mas desistiu de ir à escola desde os dez anos, quando começou a mudar de comportamento e a se isolar dentro do próprio quarto. Ela o classificou como alguém introvertido, que tinha medo de sair de casa e comportamentos peculiares. Nos últimos anos, segundo ela, o suspeito não comia a comida que ela cozinhava nem bebia água que não fosse engarrafada.

“É meu menino, mas vamos pesquisar, não tem nada de mau, ninguém se machucou. Eu não sei o que aconteceu. Foi tudo por influência da internet. Ele tava falando com alguém. Eu creio que ele fez isso a mando de alguém, alguma conversa, mas assim ninguém se machucou”.

“Eu peço para parar de postar foto dele. Ele não é uma má pessoa. Quem me conhece sabe. Eu imploro, não coloque a foto dele mais. Não pense que ele é uma pessoa má porque ele não é”, conta.

A mãe acredita que o filho tenha comprado os armamentos e itens com símbolos nazistas há cerca de dois meses. “Ele comprou essas coisas, mas eu não sei, não tem muito tempo. Ele não é nazista. Eu creio que ele não é. Eu teria visto isso antes. Mas isso começou não tem um mês, dois meses mais ou menos”, defende.

O rapaz tentou invadir o imóvel das escolas Municipal Vista Alegre e Estadual Professor Antônio Sproesser, no bairro Jardim Vista Alegre, mas acabou apreendido e tendo o atentado frustrado após atirar bombas caseiras na lateral do prédio e uma delas detonar num banheiro da unidade de ensino.

Caderno com anotações

A polícia encontrou, na manhã de segunda, um caderno com anotações diárias que faziam alusões nazistas, no quarto do adolescente apreendido. Ele relatava sentimentos e se dizia excluído. O material e um notebook que ele usava foram recolhidos para perícia.

No texto escrito à mão, o adolescente declarava a intenção de atacar a Escola Municipal Vista Alegre. No local, também funciona a Escola Estadual Professor Antônio Sproesser.

Em uma das frases, ele faz um trocadilho, dizendo que o local ganharia uma “vista triste”, antes de relatar se sentir “sozinho”, “abandonado”, mas também “superior aos demais”. As entradas são catalogadas numa sequência de datas, numa espécie de diário em que há espaço para reflexões: “Por que eu sou assim? Como cheguei nesse ponto?”, questiona.

Em seus escritos, o garoto diz estar motivado pelo “ódio e rancor”. O número 88 também foi desenhado na folha do caderno. É uma referência ao H, oitava letra do alfabeto, que, em dupla forma HH, abreviação de “Heil Hitler” — famosa saudação nazista. Havia também a inscrição “SS”, sigla para Schutzstaffel, uma organização paramilitar ligada ao Partido Nazista e a Adolf Hitler na Alemanha Nazista.

“Já tentei chorar, mas não consigo. Não consigo sentir tristeza. A dor mais triste que eu seja diante de certos olhares. Talvez eu seja um erro. Nada importa. Cada segundo, cada momento, cada ação, tudo é insignificante. Cansado de viver. Cansado de ouvir esses lixos berrarem. As escórias não conseguiram me influenciar, não faço parte deles. Sou fora do padrão. Superior dos demais”.

Além da carta, dois exemplares da autobiografia de Adolf Hitler, “Minha Luta”, foram encontrados na residência. No livro, o ditador alemão expressa um viés racista, antissemita e nacionalista da extrema-direita. Todo o material foi apreendido pela polícia civil.