Em nome de Deus? Eleição para presidente da bancada evangélica é marcada por baixaria e inconsistência no número de votos. Com troca de acusações entre os seus membros e ameaças de judicialização, a eleição não chegou a lugar nenhum e foi anulada. Silas Câmara (Republicanos-AM) disputava a liderança contra Eli Borges (PL-TO)
A bancada evangélica no Congresso Nacional adiou a eleição de seu novo presidente, após encontrar inconsistências no número de votos. Desde a criação da Frente Parlamentar Evangélica, em 2003, o presidente era escolhido por acordo, sem a necessidade de votação nominal. Neste ano, porém, foi diferente.
Na eleição, o número de votos divergiu da quantidade de parlamentares presentes e alguns deputados conseguiram votar sem se inscrever. Diante desse cenário, a disputa entre Silas Câmara (Republicanos-AM) e Eli Borges (PL-TO) foi adiada por decisão do ex-líder Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). As informações foram divulgadas pela Folha de S.Paulo.
“O nosso sistema, por problema de internet, tem várias quedas e por isso tivemos problemas na nossa lista [de membros da bancada evangélica]. Nós tivemos alguns que, por acharem que o nome estava na lista, colocaram seus votos. Por conta disso, minha decisão foi pela nulidade da eleição nesse momento e convocar nova reunião para a segunda quinzena de fevereiro”, afirmou Cavalcante.
A resolução só aconteceu depois de quatro horas de discussão entre os integrantes da Frente. A primeira medida foi realizar, pela primeira vez, uma votação via urna. Sem sucesso, sugeriram revezamento na chefia da bancada entre Câmara e Borges — proposta rejeitada por Borges, que prometeu judicialização caso a eleição não fosse anulada.
Estima-se que a bancada desta legislatura contará com 132 deputados (26% da Câmara) e 14 senadores (17%). A atual frente juntou 187 deputados e 30 senadores signatários. Nem todos são evangélicos de direita, como demonstra a presença da deputada Benedita da Silva (PT-RJ).
No novo Congresso, constam na composição da Frente o bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) e os deputados Clarissa Tércio (PP-PE), Sílvia Waiãpi (PL-AP) e André Fernandes (PL-CE) — investigados por incentivar a invasão aos Três Poderes.
A bagunça na eleição da bancada evangélica repercutiu nas redes. “Vejam só, esse mesmo pessoal que reclama do sistema eleitoral brasileiro, que sem prova nenhuma falam em fraude nas urnas, eles não conseguem realizar uma eleição sem fraude envolvendo um colégio eleitoral pequeno, com menos de 200 pessoas. Enquanto isso, o TSE realiza eleições limpas com 156 milhões de votantes. Esses canalhas acusam os outros do que eles próprios são: fraudadores”.