Em palestra nos EUA, Bolsonaro diz que "governo Lula não vai durar muito tempo"
Em palestra organizada por associação que participou do ataque ao Capitólio, Bolsonaro chama golpistas do 8 de janeiro de "injustiçados" e diz que a eleição do Senado significa sua chance de "liberdade". O ex-presidente atacou Lula e afirmou que o petista não dura muito tempo no comando da nação
Algumas dezenas de pessoas se reuniram em um evento em homenagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro em Orlando, na noite desta terça-feira. Bolsonaro disparou contra o atual governo: “Pode ter certeza, em pouco tempo teremos notícias. Por si só, se esse governo Lula continuar na linha que demonstrou nesses primeiros 30 dias não vai durar muito tempo”.
Num restaurante na Internacional Drive, área turística da cidade, os simpatizantes que desembolsaram 10 ou 50 dólares (cerca de R$ 50 ou R$ 250), dependendo da proximidade com relação ao palco, ouviram o primeiro discurso do político em um evento público desde que ele viajou para os Estados Unidos, em 30 de dezembro.
Depois da execução do hino nacional, de orações ministradas por pastores evangélicos da cidade e de apresentações de cantores gospel, Bolsonaro discursou por 20 minutos.
Falou sobre diversos assuntos, como a importância de elegerem Rogério Marinho (PL-RN) à presidência do Senado. Segundo Bolsonaro, a vitória de seu aliado é importante para a sua liberdade.
“Amanhã (quarta-feira) é um dia importantíssimo para todos os brasileiros, (com a) eleição da Mesa do Senado Federal, que representa para nós, de acordo com a chapa vencedora, a volta à normalidade, pacificação, nossa liberdade volta a ganhar fôlego e podemos ter certa normalidade. (…) Pretendo voltar (ao Brasil) com uma Mesa Diretora do Senado diferente da que nós temos hoje”, disse Bolsonaro.
Na segunda fileira da plateia estavam o blogueiro Allan dos Santos — considerado foragido da Justiça desde que foi ordenada a sua prisão preventiva em 2021 — e o jornalista Paulo Figueiredo, neto de João Figueiredo, último presidente da ditadura militar.
Defendeu golpistas
Durante o evento, Bolsonaro defendeu os terroristas que protagonizaram a tentativa de golpe de estado em Brasília no dia 8 de janeiro.
“O que aconteceu no dia 8 de janeiro não é a nossa direita, não é nosso povo. O pessoal tem que ter consciência do que está fazendo. Mas tem muita gente sendo injustiçada lá, aquilo não é terrorismo pela nossa legislação, então tem que ser individualizadas (as condutas) e cada um pagar pelo que fez”, afirmou durante o evento organizado pelo grupo Yes Brazil USA, em Orlando,
O ex-chefe do Executivo também voltou a insinuar que houve fraude nas eleições e não admitiu a derrota no pleito: “Há um choque ainda na cabeça de muita gente por ocasião das eleições. Nunca fui tão popular quanto no ano passado, muito superior a 2018, e no final das contas a gente fica com uma interrogação na cabeça”.
Organização do evento
A palestra de Bolsonaro foi realizada por uma organização nos Estados Unidos associada ao ataque ao Capitólio, promovido por uma turba de apoiadores de Donald Trump em 6 de janeiro de 2021 para tentar impedir a certificação da eleição de Joe Biden.
A Turning Point USA, que promoverá evento com Bolsonaro na sexta-feira (3), foi fundada pelo americano Charlie Kirk, apontado nos EUA como parte da engrenagem que ajudou a financiar o comício de Trump que precedeu a invasão do Congresso americano.
Aos 29 anos, Kirk é um dos agitadores políticos da extrema direita americana mais bem-sucedidos. Através das redes sociais, ele encorajou as pessoas a participarem do comício de Trump naquela data – depois do qual os presentes marcharam até o Congresso americano e invadiram o prédio, na tentativa de impedir a realização de sessão que confirmava a vitória de Biden.
Em seu programa de rádio, no mesmo dia, chegou a dizer que a data seria “o mais importante dia que irá determinar o futuro da República”. Também ajudou a disseminar a informação falsa de que o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, tinha poderes para unilateralmente descartar a certificação da eleição.
Investigações conduzidas nos EUA, no entanto, apontam uma questão mais grave: o possível envolvimento de Kirk com a teia de financiamento do ato. A Turning Point Action foi listada em um site que promoveu o evento como uma das envolvidas na organização. Kirk chegou a publicar, também em conta nas redes sociais, que havia pago 80 ônibus que levariam americanos de diferentes regiões do país a Washington, para “lutar pelo presidente”. A publicação foi apagada depois da invasão do Capitólio
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Uma publicação compartilhada por Thaís Partamian Victorello (@thaisvictorello)