Em escada de escola pública no Pará, alunos exibem notas da redação do Enem e viralizam. Os estudantes participaram de um projeto com a professora, que os fez reescrever o mesmo texto dezenas de vezes até o resultado final. "Trabalho intenso ao longo do ano, atendendo cada um individualmente, com suas dificuldades, com seus repertórios socioculturais, e com uma relação muito próxima entre professor e aluno", relata Ione Franco
Os alunos de uma escola pública de Belém do Pará viralizaram nas redes sociais após exibirem suas notas altas no ENEM 2022. Ao lado da professora, eles posaram para uma foto na escadaria da Escola Albanízia de Oliveira Lima e registraram o momento.
“Essa foto é resultado de um trabalho intenso ao longo do ano, de atendimento individual, atendendo cada um com suas dificuldades, com seus repertórios socioculturais, e com uma relação muito próxima entre professor e aluno”, relata a professora Ione Franco, responsável pelos estudantes.
O treinamento para o Exame Nacional do Ensino Médio é feito dentro do projeto “Construção e Reconstrução do Texto”, conduzido pela professora, que já atua na área há 24 anos. Nele, os estudantes das turmas de redação da professora Ione tiveram que reescrever o mesmo texto dezenas de vezes até chegarem em um bom resultado.
“É cansativo, no início eles estranham, mas trata-se da construção e reconstrução do texto, olhando para os mecanismos linguísticos, argumentativos até chegar no resultado final”.
A professora, que é especialista em abordagem textual pela Universidade Federal do Pará (UFPA), explica a estratégia usada para estimular o olhar crítico de cada aluno, individualmente.
“Nessa metodologia é fundamental trabalhar junto, olho no olho, já que cada tem sua particularidade, não há como explicar um assunto e todos assimilarem da mesma forma, então nós vamos reescrevendo juntos cada texto, trinta, quarenta, cinquenta vezes, cada parte do texto, e eles foram se interessando cada vez mais”.
A professora conta que o resultado das notas causou uma felicidade geral na escola. “É uma satisfação enorme ver a alegria deles, o reconhecimento vindo pela nota, a mudança nos comportamentos, a transformação, o olhar de mundo diferenciado. Eles passam a compreender os assuntos que estão cercados, e a enxergar tudo isso com crítica, como verdadeiros cidadãos”.
Kaynan Mackayat, de 18 anos, foi um dos estudantes que participaram do projeto. Ele tirou 960 na redação do Enem e quer entrar no curso de medicina ou de relações internacionais.
O jovem mora a 7km de distância da escola e precisa enfrentar diariamente o transporte público deficiente. “Apesar de andar de ônibus lotado, eu me considero até com sorte porque tem colegas que moram ainda mais longe. Eu acordava bem cedo, às 5h45, e ia até a parada de ônibus, aguardar que algum ônibus parasse, já que no horário de pico, muitos não param, e eu precisava estar às 7h30 na escola, para não perder aula”.
O estudante agradece ao “trabalho diferenciado” de professora Ione. “Ela demonstrou ser uma professora diferente de todas que já me ensinaram, levando as nossas causas, problemas e dificuldades para a sala de aula. Ela não escolheu aqueles com maior aptidão para investir, ela nos olhou e enxergou potencial em todos, igualmente. Por isso a escola teve esse resultado tão bom”.