Médico que matou e jogou fisiculturista pela janela é condenado a 31 anos de prisão
Médico de Curitiba (PR) continuou negando o crime durante o julgamento, mas acabou condenado a 31 anos de reclusão. Raphael Suss Marques foi considerado culpado pelos crimes de homicídio com qualificadores de feminicídio, meio cruel, recurso que impossibilitou defesa da vítima e motivo torpe. Caso teve série de interferências e médicos-legistas chegaram a se tornar réus por manipularem laudos em defesa do agressor
Raphael Suss Marques foi condenado nesta sexta-feira (10) a 31 anos de prisão em regime fechado por matar e jogar pela janela o corpo da fisiculturista Renata Muggiati. O caso aconteceu em setembro de 2015, em Curitiba. Desde o começo do processo, o médico nega o crime e afirma que a vítima se suicidou.
Raphael foi considerado culpado pelos crimes der homicídio com qualificadoras de feminicídio, meio cruel, recurso que impossibilitou defesa da vítima e motivo torpe. Ele também foi condenado por lesão corporal e fraude processual.
Na saída do tribunal, o promotor Marcelo Balzer enalteceu o trabalho dos peritos. Elogios aos profissionais também foram feitos pela irmã de Muggiati, Tina Gabriel. Ela falou que o resultado traz alívio, mas que espera que pena sirva de exemplo e que é preciso entender que crime de violência contra a mulher não é tolerável.
A advogada da família Maria Francisca Accioly ressaltou que a pena é um recado à sociedade de que a violência contra a mulher não pode mais ser tolerada. Daniel Laufer, também assistente de acusação, frisou que a decisão encerra um trabalho de anos.
O júri começou na quarta-feira (8), quase oito anos após o crime. Foram ouvidas dezenas de pessoas, incluindo Raphael. “São mais de 7 anos que eu venho sofrendo uma injustiça. Eu fui a única pessoa que esteve ao lado da Renata no momento de depressão. Não tinha ninguém da família dela. Eu que alimentava, que dava banho, e sou eu quem estou sendo acusado de matá-la. Eu só gostaria que fosse feita justiça hoje”, defendeu-se.
Relembre o caso
A fisiculturista morreu aos 31 anos, quando vivia o auge da profissão. Renata e Raphael Suss Marques se relacionaram durante onze meses. Testemunhas ouvidas durante as investigações e na fase de instrução do processo relataram episódios em que o médico agrediu fisicamente e ameaçou Renata.
Os amigos disseram, também, que durante o namoro, ela se afastou da vida social, do trabalho e das competições, perdeu peso e aparentava sofrimento emocional.
Renata estava no 31º andar de um prédio, no Centro de Curitiba, onde Marques morava. Segundo a denúncia, o médico asfixiou a namorada e depois jogou o corpo dela pela janela.
Depois da morte de Renata, o médico Raphael Marques chegou a ser condenado em outro processo por agredir uma ex-namorada em Curitiba. A pena aplicada foi de quatro meses e cinco dias de prisão.
Peritos tentaram favorecer médico e se tornaram réus
Durante o processo, os médicos-legistas Daniel Colman e Francisco Moraes Silva se tornaram réus por causa de um laudo de exame de necrópsia com conclusão falsa quanto à causa da morte de Renata, de acordo com o Ministério Público do Paraná (MP-PR).
Colman foi demitido do Instituto Médico-Legal (IML) em junho de 2018 — três anos depois do crime — após um processo administrativo disciplinar que apurou o caso internamente.
Conforme o MP-PR, os dois fizeram um novo laudo pericial – um mês depois da morte da atleta. Mesmo sem ter acesso novamente ao corpo, nem aos exames complementares, eles realizaram uma falsa perícia com dados falsos, não relatados ou anotados anteriormente.
Daniel Colman, que foi o primeiro a fazer perícia no corpo da fisiculturista, repetiu no novo laudo o que já tinha afirmado no primeiro: que ela morreu por causa de ferimentos provados pela queda do prédio.
A conclusão é diferente do que foi atestado por uma junta médica, depois da exumação do corpo, que apontou que Renata morreu por asfixia. Ou seja, ela estava morta antes de cair do apartamento onde morava com Raphael.
De acordo com a promotoria, para encobrir a real causa da morte de Renata, os peritos inseriram o laudo falso no sistema de informação do IML, usando um notebook de Colman e uma rede de internet sem fio chamada “Francisco WIFI”.