"Desci em duas aldeias que estavam ilhadas pelo garimpo – não é que o garimpo estava a 500 metros da aldeia – estava dentro da aldeia", descreve a jornalista. "Os garimpeiros dizimaram toda a caça, que é o recurso alimentar dos Yanomami [...] Foi me dando uma dor no coração de pensar que a gente permitiu que isso acontecesse no nosso tempo, no nosso país, debaixo da nossa guarda. Parecia cena do holocausto"
A jornalista Sônia Bridi produziu uma reportagem especial para o ‘Fantástico’ sobre o genocídio do povo Yanomami. Ela disse que sentiu “muita raiva” ao visitar a terra indígena, e explicou: “Uma raiva tremenda de a gente estar acompanhando esse caso há bastante tempo, tem anos”.
Sônia lembrou uma reportagem produzida pelo Fantástico em 2021. Àquela altura, a situação dos yanomami ainda não era tão grave. “E não houve reação por parte do governo [Bolsonaro]. Eu tava tentando entrar na terra yanonami há muito tempo, mas não tinha segurança para entrar. Como entrar em um território tomado por bandidos?”.
A repórter ressaltou que nem as equipes de saúde conseguiam chegar ao local. “Cadê a ação para impedir que isso continuasse acontecendo? Pelo contrário, houve incentivo ao garimpo”.
“Ali, você sente uma tristeza tremenda, mas também uma revolta, uma indignação, de ver que se permitiu que fosse feito isso no nosso tempo. Parecia cenas do holocausto”.
“Desci em duas aldeias que estavam ilhadas pelo garimpo – não é que o garimpo estava a 500 metros, 1 km da aldeia – estava dentro da aldeia”, descreve a repórter.
“Eles [os garimpeiros] dizimaram toda a caça, que é o recurso alimentar dos Yanomami… Há relatos de crianças soltando vermes pela boca e violência sexual contra as meninas.”
“Foi me dando uma dor no coração de pensar que a gente permitiu que isso acontecesse no nosso tempo, no nosso país, debaixo da nossa guarda porque todos nós, brasileiros, nós somos responsáveis pelo que está acontecendo. A gente tem é que agora juntar os pedaços e correr atrás de resolver essa situação e salvar os que estão ainda lá.”
Garimpo cresceu 54% só em 2022
O garimpo ilegal cresceu 54% em 2022 e devastou novos 5.053 hectares da Terra Indígena Yanomami, conforme levantamento divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY). Os dados mostram o desmatamento associado a atividade ilegal no território.
O monitoramento ainda mostra uma alta exponencial do desmatamento pela atividade garimpeira desde 2018, quando Jair Bolsonaro venceu a eleição presidencial.
O Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal é feito pela associação com imagens da Constelação Planet, satélites de alta resolução espacial. Eles são capazes de detectar com precisão e mais frequência de vigilância áreas muitas vezes não capturadas por outros satélites. Os dados mostram o desmatamento na área que é preservada, mas que é alvo da atividade garimpeira.
A Terra Indígena Yanomami é o maior território indígena do país, com mais 10 milhões de hectares. O número corresponde a extensão aproximada do estado do Pernambuco.
No local, vivem pouco mais de 30 mil indígenas na área que deveria, por lei, ser preservada. No entanto, tem sofrido com o avanço do garimpo ilegal. A HAY estima que, com a atividade irregular, 20 mil garimpeiros estejam no local.