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Animal de grande porte é flagrado dentro de onda após ataque de tubarão

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Pernambuco: Homem entrou no mar minutos após ataques de tubarão, se recusou a sair da água e bombeiros foram obrigados a entrar para retirá-lo à força. Vídeo mostra que tubarão estava muito próximo e todos correram risco

Cerca de 10 minutos após a menina Kaylane Timóteo, de 15 anos, ser atacada por um tubarão, um homem entrou no mar no mesmo local da tragédia e se recusou a sair da água.

Três salva-vidas do corpo de bombeiros foram obrigados a entrar na água para retirar o homem à força. Imagens gravadas por testemunhas mostram que todos eles correram risco de vida.

O biólogo André Maia analisou os vídeos, que mostram um animal de grande porte se movimentando dentro de uma onda. “Pela movimentação na água, é muito grande a probabilidade de ser um tubarão. Não é uma pedra ou qualquer outra coisa. Se fosse outro peixe, teria que ser bem grande”, afirmou o professor, que trabalha com animais há 15 anos.

Um dia antes do ataque que arrancou o braço de Kaylane Timóteo, um adolescente de 14 anos foi mordido na mesma praia de Piedade. Ele precisou ter a perna amputada. Os dois sobreviveram e se recuperam dos ferimentos.

Os episódios dos últimos dias deixam claro que a falta de conscientização e a irresponsabilidade da população são fatores determinantes para os ataques. “Este homem foi testemunha de um ataque de tubarão e mesmo assim, minutos depois, decidiu entrar na água no mesmo local. O que leva alguém a agir dessa forma?”, questionou um morador do Recife.

“O menino foi atacado no domingo, na segunda-feira já estava todo mundo dentro da água e o tubarão pegou a menina. Dez minutos depois, a próxima vítima poderia ter sido aquele homem. As pessoas continuam entrando na água mesmo sabendo dos riscos”, relatou um morador de Jaboatão dos Guararapes (PE), que mora perto da praia de Piedade.

Para o biólogo André Maia, é preciso retomar as pesquisas na costa pernambucana para monitorar os tubarões. “É possível colocar sensores nos animais e saber quando eles estão se aproximando da costa”, acrescentou.

O chefe de Ações Preventivas do Corpo de Bombeiros, capitão Werben Monteiro, orienta que as pessoas respeitem as sinalizações para não entrar no mar. “Se existe sinalização, você tem que obedecer. Se tiver guarda-vida, você tem que respeitar as orientações dele. Praia segura tem que ter a participação de todos. Dos profissionais e dos comerciantes, que precisam do cliente e podem contribuir, além do banhista. É melhor você não entrar e voltar para casa do que se arriscar”, afirma.

VÍDEOS:

Por que tantos ataques na costa de Pernambuco?

A pesquisadora Mariana Azevedo, coordenadora do Núcleo de Pesquisa Fábio Hazin, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), afirmou que os ataques têm relação com uma série de fatores.

Segundo a especialista, a topografia do litoral pernambucano, com canal profundo perto da costa e antes dos recifes de coral, facilita a passagem dos tubarões quando a maré sobe.

“A gente tem um canal profundo que fica perto da costa onde a gente toma banho e antes dos recifes de coral. Quando a maré sobe, esse animal consegue passar e ficar preso numa posição confortável para estar indo atrás de alimento. Obviamente, a gente sabe que está tudo degradado”, afirmou.

Ainda segundo Mariana Azevedo, as características econômicas da população também influenciam na frequência desses ataques. “O passeio da praia, de mar, é o mais barato. É o que todo mundo pode ir, o mais democrático. Então, o encontro com a população vai ser mais frequente se tem mais pessoas na praia”, disse.

A pesquisadora explicou, também, que tubarões não são atraídos pela carne humana, mas são animais curiosos, que gostam de explorar o ambiente.

“Infelizmente, a oferta de alimento é muito baixa e eventualmente ele vai investigar o que tem para comer. Não é porque ele gosta da gente. A carne da gente nem presta para ele. Ele nem curte, mas acaba mordendo. Sente o gosto e, eventualmente, até acaba jogando fora, regurgitando quando vê que não é do hábito alimentar dele. Aí, já fez estrago grande”, declarou.

Mariana Azevedo afirmou, ainda, que esses canais profundos perto da costa são, geralmente, locais onde os tubarões encontram comida. Entretanto, devido à degradação do meio ambiente, a oferta de alimento é escassa. Ainda assim, eles seguem vindo ao litoral por causa de vários fatores.

“As explicações são muito variadas. Não existe um fato isolado que explica esse surto de incidentes aqui no nosso litoral, mas, sem dúvida, a construção de complexos portuários e o esgoto. A gente tinha o matadouro de Jaboatão também, a pesca de arrasto de camarão e descarte dessa fauna acompanhante perto do litoral também acabam atraindo esses animais”, explicou.

Além disso, segundo a pesquisadora, o lixo agrava a situação. “O lixo atrai muito. […] Como é um animal muito curioso, o que tiver de lixo, de resíduo, ele vai atrás, para saber o que tem ali. Sempre que a gente vem à praia, a gente traz a mensagem de que leve o que você produziu de lixo e também leve o que está ali ao seu redor, porque sempre vai ter lixo”, disse.