No atual ritmo, igualdade entre homens e mulheres só ocorrerá em 300 anos
Secretário-geral da ONU alertou aos governos de todo o mundo que, no atual ritmo, a igualdade entre homens e mulheres terá de esperar mais três séculos para ocorrer. Declaração deixou auditório em silêncio constrangedor
blog do Jamil Chade
Numa declaração que deixou uma sala em um silêncio constrangedor, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, alertou aos governos de todo o mundo que, no atual ritmo, a igualdade entre homens e mulheres terá de esperar mais três séculos para ocorrer.
O chefe da diplomacia da ONU abriu nesta segunda-feira os trabalhos da entidade para o debate sobre a situação da mulher, na semana da data do 8 de março. Os novos estudos que serão publicados ao longo da semana revelam que a disparidade de renda entre homens e mulheres é maior do que se imaginava e que a desigualdade é mais profunda que os cálculos apontavam até agora.
Se não bastasse, as constatações das agências especializadas é que todo o avanço feito na segunda metade do século 20 parece perder força no século 21. Segundo as estimativas da entidade, há uma estagnação no tema da igualdade das mulheres nos últimos 20 anos e, mais recentemente, até mesmo um retrocesso. “O progresso (dos direitos da mulher) está desaparecendo diante de nossos olhos”, disse Guterres.
“A igualdade de gênero está se distanciando cada vez mais. No caminho atual, a ONU Mulheres a coloca a 300 anos de distância”, disse o português.
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“Os direitos das mulheres estão sendo abusados, ameaçados e violados em todo o mundo”, insistiu. Para ele, a pandemia fez com que índices de mortalidade materna, meninas expulsas da escola e crianças forçadas a se casar precocemente sofressem uma expansão inédita em décadas.
Para a ONU, a crise vem em diferentes formas. Mas todas apontam um retrocesso real:
No Afeganistão, as mulheres e meninas foram apagadas da vida pública.
Em muitos lugares, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres estão sendo retrocedidos.
Em alguns países, as meninas que vão à escola correm o risco de serem sequestradas e agredidas.
De acordo com Guterres, três bilhões de pessoas ainda não estão ligadas à internet. Mas a maioria desse grupo é formada por mulheres e meninas nos países em desenvolvimento. “Nos países menos desenvolvidos, apenas 19% das mulheres estão online”, disse.
“Globalmente, meninas e mulheres constituem apenas um terço dos estudantes de ciência, tecnologia, engenharia e matemática”, disse.
“No setor de Inteligência Artificial, apenas cerca de 1 em cada 5 trabalhadores é uma mulher. E a inteligência artificial está moldando nosso mundo futuro. Esperemos que ela não seja moldada de uma forma totalmente preconceituosa em relação ao gênero”, alertou.
Guterres ainda destacou como a desinformação misógina e a desinformação florescem nas plataformas das mídias sociais.
“Séculos de patriarcado, discriminação e estereótipos prejudiciais criaram uma enorme lacuna de gênero na ciência e na tecnologia. As mulheres representam apenas 3% dos ganhadores do Prêmio Nobel nas categorias científicas”, insistiu.
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“Três anos atrás, Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna fizeram história como a primeira equipe de todas as mulheres a ganhar um Prêmio Nobel em ciência. Equipes de homens já dividiram o prêmio 172 vezes”, completou.
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