Armas de Fogo

Bolsonaristas querem armar professores e funcionários após ataque em escola de SP

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Não é a primeira vez que tragédias em escolas são usadas por quem milita pelo armamento. As redes bolsonaristas já começaram com as proposições rasas afirmando que "só um cidadão de bem armado" poderia impedir esse crime, ignorando que o próprio responsável pelo atentado era alimentado pelo discurso da extrema-direita nos ch4ns de incels. Imagine agora se, ao invés da faca, o rapaz tivesse segurando um fuzil, daqueles com acesso facilitado pelo governo Bolsonaro

Leonardo Sakamoto

Após as primeiras notícias de que um estudante de 13 anos do 8º ano do ensino fundamental, armado com uma faca, matou uma professora, feriu outros três docentes e dois alunos na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste da capital paulista, nesta segunda (27), uma parte das redes já começou a pirar, politizando o caso e pedindo para armar docentes e funcionários a fim de evitar novos ataques.

Não é a primeira vez que tragédias em escolas são usadas por quem milita pelo armamento da população. Isso aconteceu, por exemplo, depois de outro crime semelhante, quando um jovem de 18 anos matou, a golpes de facão, três crianças, uma professora e um funcionário em uma creche, em Saudades (SC), em maio de 2021. E após o massacre de oito pessoas cometido por dois ex-alunos, em 2019, em uma escola em Suzano (SP). Mas também no caso do rapaz que tinha raiva de garotas e assassinou 12 jovens, que tinham entre 12 e 14 anos, em uma escola em Realengo, na capital fluminense, em 2011.

Nas próximas horas, vão surgir discursos rasos afirmando que a única maneira de parar um criminoso armado é uma pessoa de bem armada. Se for um policial ou agente de segurança treinados para tanto, sim, não professores e funcionários. Nesse caso, o uso de armas de fogo por civis poderia elevar o tamanho da tragédia.

Imagine agora se, ao invés da faca, o rapaz tivesse acesso a um fuzil, daqueles com acesso facilitado pelo governo Jair Bolsonaro. Poderia ter acontecido um massacre, como já ocorreu em outros momentos no Brasil e ocorre em escolas nos Estados Unidos – onde pessoas com transtornos mentais ceifam vidas periodicamente com armas pesadas.

Aliás, em determinados estados norte-americanos, que servem de referência para os defensores do livre acesso às armas no Brasil, jovens podem comprar fuzis em varejistas, sem dificuldade.

Os decretos presidenciais que flexibilizam o acesso a armas de fogo (tanto as de baixo calibre, quanto fuzis e espingardas) e munição foram uma das piores heranças do governo passado. Assim que assumiu, Lula reverteu alguns e exigiu recadastramento de armas. Mas o estrago foi feito. E como o mercado ilegal é também alimentado pelas armas compradas legalmente, o Brasil está menos seguro.

(Mortes caíram sim, mas por conta da efetivação de políticas estaduais de segurança pública ao longo da última década, pelo armistício em guerras travadas por facções do narcotráfico (especialmente a partir de 2017) e pela transição etária do Brasil, que está ficando menos jovem e, com isso, com menos casos de violência. Ou seja, se não tivéssemos a facilitação da aquisição de armas, a redução teria sido ainda maior.)

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As razões do crime da Vila Sônia precisam ser esclarecidas pela Polícia Civil, mas a hipótese mais provável, até agora, é a de uma pessoa com problemas que quis vingança por bullying. Nesses casos, não adianta propor aumento de pena, como muitos defensores do “se vierem com revólver, temos que vir como metralhadora” afirmam.

Explicar aos autores de tragédias em escolas que eles podiam ser presos ao cometerem tais atos simplesmente não teria feito diferença, lembrando que, não raro, tentam se matar ao final.

O acesso fácil a armas com alto poder de fogo aumentaria o alcance da tragédia, como dito acima. Mas como não havia armas, foi uma faca. E se não fosse uma faca, poderia ser gasolina. E se não fosse gasolina, poderia ser um pedaço de madeira, afiado ate virar uma estaca. Ou também um carro ou um caminhão que avançasse sobre as crianças quando fossem para a rua ao término das aulas – como tem acontecido em várias partes do mundo.

Se não somos capazes de antever certos atos de insanidade, há coisas que conseguimos minimamente controlar. Trabalhar para que nossa sociedade cuide das pessoas que passam por transtornos psíquicos e evitar que o Estado espalhe armas ainda mais, por exemplo. Há muito o que discutir e fazer. Desde que não optemos por responder estupidez com mais estupidez.

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