Moisés Mendes*, em seu blog
Jair Bolsonaro deveria desembarcar no Brasil, tomar café com Valdemar Costa Neto e ir logo visitar os terroristas presos na Papuda.
Todos estão encarcerados por sua culpa, por acreditarem que uma nave iria descer em Brasília naquele 8 de janeiro.
Bolsonaro deveria escolher alguns dos presos, os mais abatidos, para que fossem consolados em nome de todos os iludidos pelo golpe.
Depois, deveria visitar Anderson Torres, o delegado federal e ex-ministro da Justiça que guardava a minuta do golpe.
Em meio a um monte de manés terroristas ou terroristas manés, Torres é o único figurão preso, porque circulava entre os líderes do golpe.
Mas não é, ao contrário do que muita gente pensa, uma expressão do bolsonarismo. Nada disso.
Torres foi um prestativo, o cara que iria cuidar da minuta e da desarticulação total da PM de Brasília, para que nada funcionasse naquele dia 8.
E depois, às vésperas da invasão, fugiria para os Estados Unidos, onde se encontraria com o seu líder. Deu tudo errado e Torres está preso.
Pode ser o único preso sem chances de sair da prisão nos próximos meses. Os outros, os manezinhos, estão sendo liberados. Mas Torres não conta com a libertação.
O delegado é um preso a ser visto como exemplo da contenção do terrorismo. Soltá-lo agora, deixando manezinhas e manezinhos ainda encarcerados, seria ruim para a imagem da Justiça. Alexandre de Moraes não é amador.
Bolsonaro deveria visitá-lo, se tivesse coragem de olhá-lo cara a cara, o que certamente não tem, até porque Torres estaria preparando a delação.
O delegado só escapa da cadeia e só tem chances reais de reduzir sua pena, se delatar os parceiros.
Mas os parceiros são militares de alta patente e os Bolsonaros. É gente com quem ele talvez não possa mexer. Pois Torres está lá à espera de uma visita que não irá acontecer.
O que Bolsonaro pode fazer é frequentar as TVs e os podcasts da extrema direita, para falar bastante besteira.
O PL e o centrão, que fazem política profissional, não vão carregar o sujeito nas costas por muito tempo.
E estão loucos que ele fale bobagem, para redefinir rumos e se livrar de quem logo estará inelegível.
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Bolsonaro será, em pouco tempo, o tio aquele que reaparece pobre, sem nada, e se acomoda a cada dia na casa de um parente.
Com o tempo, todo mundo tenta se livrar do sujeito, que só vai ficando pelos cantos porque todos têm alguma dívida com ele.
A dívida do PL e do centrão com Bolsonaro é grande. Mas é possível que não seja paga, se o tio se transformar num fardo insuportável.
Só agora, a partir dessa quinta-feira, cai a ficha de Bolsonaro. Ele é um tio sem poder, sem militares, sem orçamento secreto, sem Arthur Lira, sem grileiros e garimpeiros, sem Paulo Guedes, sem cartão corporativo e sem joias.
Bolsonaro saberá, em pouco tempo, que virou um traste.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim)
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